Dar à luz sem epidural, ir ao dentista sem anestesia - há um mundo de coisas magníficas e saudáveis na "vida natural", sem medicamentos nem químicos, vivendo como recoletores, apanhando a fruta do chão e recusando-se a usar champô.
Uma delas é o risco, em sentido lato, que parece não incomodar os pais que se recusam a vacinar os seus filhos e que preferem (li isto numa reportagem) que o filho "tenha a doença mas não a vacina". Sarampo, poliomielite, tosse convulsa, a lista de vacinas é vasta, o nosso terror durante a infância há quarenta, cinquenta, sessenta anos.
Compreendo que pais comprometidos com a "vida natural" e a recusa em usar químicos de qualquer ordem - sobretudo ligados à indústria farmacêutica - sujeitem a sua família a este risco. Dá um trabalho considerável, mas compreendo a dedicação integral de certas pessoas empenhadas em regressar a um paraíso que já não existe há muito, onde se pode ser vegetariano, detestando a anestesia, a aspirina e a proteção contra o sarampo. Compreendo; mas parece-me idiota viver no meio do perigo.
William GoldingEstá agora disponível na série dos livros RTP (LeYa) um dos grandes modelos para as distopias contemporâneas, 'O Deus das Moscas', de William Golding. O género humano é uma coisa perigosa.