É um dos elos da cadeia de ADN da cultura portuguesa: a menorização do que somos, temos ou sabemos fazer bem. Por definição, quase tudo o que vem de fora é bom e recomendável; e, ao contrário, quase tudo o que é de cá é de duvidosa qualidade. Regra geral, os casos lusitanos de sucesso são-no primeiramente pelo seu reconhecimento "lá fora", antes de o serem por reconhecimento dentro de portas. O que nos faz muitas vezes pequenos não é a realidade em si; são algumas cabeças.
Esta inclinação para valorizar o "estrangeiro" é uma longa história, mas tem múltiplas manifestações atuais de absurdo: no consumo, privilegiamos o que é "importado" (da moda ao alimentar, da cultura à indústria); no turismo, para muitos suburbanos viajar tornou-se quase sinónimo de avião low cost em modo de enlatado, com experiências frustrantes em filas de espera intermináveis; e, paradoxalmente, alguns jovens chegam à idade adulta a conhecer Londres, Paris ou Roma, mas completamente ignorantes do seu próprio país (também os há assim políticos e famosos); nos vinhos e espumantes (onde temos economia e tradição), somos capazes do maior provincianismo bacoco.
Não seguramente por acaso se terá criado o slogan "o que é nacional é bom" ou campanhas como "Portugal Sou Eu".
Reconhecendo a importância de acabar de vez com mitos e ideias feitas, algumas cidades e regiões têm posto pés ao caminho na (re)conquista do "mercado interno". Muitas vezes por exclusivo esforço próprio. Este ano, para além de uma incursão na Capital, a região dos vinhos do Dão e a sua cidade de Viseu espalham atributos e charme no Porto para seduzir turistas e convencer consumidores. O "Dão Invicto" e o "Ano Oficial para Visitar Viseu" farão prova do excelente momento de forma dos néctares do Dão e de um renovado destino turístico de excelência. Como cantava o Variações, são "cá da terra e têm muito encanto".