O aumento da insuficiência cardíaca nos portugueses deve-se, sobretudo, ao envelhecimento da população, e a doença surge muitas vezes associada a outras patologias cardíacas, como hipertensão, enfarte, doenças das válvulas cardíacas ou miocardiopatias.
"Esta síndrome acarreta uma mortalidade considerável", alerta Dulce Brito, professora e médica cardiologista, acrescentando ainda a explicação: "A insuficiência cardíaca acontece quando o coração não cumpre a sua função de forma adequada e deixa de enviar a quantidade de sangue necessária a todos os órgãos, para que estes também possam desempenhar as suas funções."
Cerca de 81% dos doentes com insuficiência cardíaca sentem que a sua doença está controlada, um dado revelado pelo estudo promovido pela Spirituc Investigação Aplicada, em parceria com a Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), com o apoio da Bayer.
No entanto, o mesmo estudo revela que cerca de 70% dos doentes com insuficiência cardíaca afirmam que tiveram, pelo menos, um episódio de descompensação nos últimos 24 meses e 21% destes mesmos inquiridos foram internados nesse período temporal, numa média de dois internamentos por ano.
Embora a patologia afete cerca de 400 mil portugueses, o inquérito demonstrou que ainda existe uma grande falta de conhecimento relativamente à condição. A insuficiência cardíaca é a primeira causa de hospitalização em pessoas com mais de 65 anos.
A pesquisa inédita, baseada em 117 inquéritos feitos a portugueses com 50 ou mais anos de idade, foi divulgada no âmbito da campanha "O Lugar do Coração é em Casa", da Bayer. Esta é uma ação que visa promover o aumento da literacia e incentivar as pessoas com insuficiência cardíaca a cuidarem do seu coração, de forma a permanecerem em casa, junto de quem mais gostam, evitando internamentos hospitalares.
Aproximadamente 44% dos doentes foram diagnosticados em contexto de consulta de rotina, porém cerca de 20% receberam o diagnóstico durante um episódio de urgência ou hospitalização.
Para sabermos mais sobre esta doença que tantas vezes escapa incógnita, até ser tarde demais, estivemos à conversa com a professora e médica cardiologista Dulce Brito.
Eis tudo o que tem de saber já sobre a insuficiência cardíaca.
A insuficiência cardíaca acontece quando o coração não cumpre a sua função de forma adequada e deixa de enviar a quantidade de sangue necessária a todos os órgãos, para que estes também possam desempenhar as suas funções.
Cansaço, intolerância ao esforço, falta de ar, desconforto quando se está deitado e necessidade de se levantar para respirar melhor, e/ou inchaço nos pés e pernas são os sintomas e sinais mais comuns da insuficiência cardíaca.
As pessoas começam por se cansar mais do que antes e não percebem o porquê, nem associam à possibilidade de terem um problema cardíaco.
Obviamente, há outras causas que podem estar associadas ao cansaço, à falta de ar e/ou ao inchaço nas pernas. Porém, a insuficiência cardíaca pode ser uma delas.
De notar que a insuficiência cardíaca aumenta em prevalência com a idade. Ou seja, à medida que as pessoas vão envelhecendo, nomeadamente a partir dos 65 anos, há uma probabilidade mais elevada de desenvolverem insuficiência cardíaca.
Além do mais, sofrer de outras doenças cardíacas associadas pode contribuir para descompensações da própria situação cardíaca.
O impacto da insuficiência cardíaca em Portugal é seguramente semelhante ao de outros países onde a incidência é de 1 a 2% na população geral. O impacto desta situação vai depender da causa e da gravidade da própria insuficiência cardíaca.
A repercussão na qualidade de vida é bastante significativa, sobretudo se as situações são graves e levam a internamentos frequentes por descompensação.
→ Se as pessoas que vivem com situação de insuficiência cardíaca têm uma vida profissional ativa, claro que o impacto ainda será maior pois sentem-se limitadas, com restrições de ordem vária, necessidade de vários medicamentos e outras terapêuticas e com necessidade de absentismo profissional;
→ Se são mais velhas, têm frequentemente outras doenças associadas e que podem contribuir para descompensações da própria situação cardíaca. As hospitalizações são mais frequentes em doentes que não estão devidamente tratados ou em doentes instáveis.
Ademais, esta síndrome acarreta uma mortalidade considerável e, ainda, custos acrescidos devido à frequência de hospitalizações por episódios de descompensação.
De acordo com o inquérito da AADIC, cerca de 40% dos inquiridos consideram que a IC tem um grande impacto na sua vida.
Alguns doentes sublinham que deixaram de fazer algumas coisas de que gostam, como ir à rua ou conviver com outras pessoas, por se sentirem muito cansadas (70%), com picos de ansiedade (49%) ou estarem emocionalmente instáveis (45%).
Já as expectativas, são unânimes e concentram-se na criação de medicamentos mais eficazes (35%), a fim de melhorar a qualidade de vida.
A insuficiência cardíaca é um problema crónico grave que merece muita atenção. Isto porque, nos momentos em que se agrava, o doente acaba por ter de recorrer com frequência ao serviço de urgência, onde lhe será administrada terapêutica intravenosa para descongestionar o coração e os pulmões.
Sempre que se manifeste um ou mais sintomas persistentes, é fundamental que as pessoas consultem o seu médico e que o seu caso seja avaliado. Assim, será possível diagnosticar precocemente e, acima de tudo, iniciar o tratamento mais adequado atempadamente.
Hoje em dia, já existem fármacos que podem ser eficazes em casos de doentes com uma grande tendência a descompensar ou que estiveram internados nos últimos meses. Para um aconselhamento personalizado e para mais informações, consulte o seu médico.
Alguns doentes recebem o diagnóstico durante um episódio de urgência ou hospitalização porque, na maioria das vezes, as pessoas têm sintomas, mas não os atribuem à insuficiência cardíaca. Por norma, sentem-se mais cansadas e acham que é por outro motivo. Habitualmente associam esse cansaço a noites mal dormidas, excesso de stress ou até mesmo a dores nos músculos ou articulações, que acabam por gerar dificuldade nos movimentos e dores musculares.
Ou seja, os sintomas e os sinais de insuficiência cardíaca são frequentemente inespecíficos e atribuíveis a outras situações. Mas, na verdade, podem ser insuficiência cardíaca!
É essencial que as pessoas consultem o seu médico e exponham o problema, a fim de que a sua situação seja avaliada e diagnosticada o quanto antes.
Perante sintomas e sinais de alerta, há que marcar uma consulta e tentar despistar a existência de algum problema cardíaco que possa ser tratado ou mesmo corrigido a tempo.
O lugar do coração deve ser em casa. O hospital não é um bom local para se "viver", embora seja um local absolutamente necessário em algumas situações, como seja quando um doente descompensa e precisa de terapêutica por via intravenosa, por exemplo.
Quando a hospitalização é necessária para controlo de uma situação de insuficiência cardíaca, a pessoa está longe do seu mundo e dos seus entes queridos, está numa situação grave na maioria das vezes e está sob a ação de vários medicamentos até ficar estável. E se esta situação (hospitalização) se repete no tempo, quer sejam meses depois, quer seja um ano depois, ou com mais periodicidade em alguns casos, é óbvio que a qualidade de vida da pessoa não pode ser a ideal.
Com a maior longevidade da população, espera-se um número crescente de doentes com esta patologia nos anos vindouros. Estejamos atentos aos sintomas e sinais de alerta e vigiemo-nos atempadamente, para um futuro melhor.