Os portugueses gostam dos seus animais de estimação. Cada vez estão mais informados e revelam maior cuidado com o bem-estar destes seus amigos, como fica demonstrado nos cuidados veterinários, na alimentação oferecida e nos acessórios que lhes compram. Existem muitos lares no País com animais de estimação. O estudo TGI da Marktest, de julho de 2020, revelou que 3,2 milhões de indivíduos referiram ter em casa cães, o que corresponde a 37,6% do total de residentes no continente com 15 e mais anos. Já o número dos que referiram ter gatos no lar foi de 2, 7 milhões (31, 5%). Segundo o documento, apesar de algumas oscilações, a existência de cães e gatos nos lares portugueses tem vindo a aumentar.
Os supracitados dados mostram o amor que existe no nosso território pelos animais de companhia. Com o objetivo de ajudar os portugueses a tratar ainda melhor os seus animais, sobretudo nesta estação mais quente, falámos com Patrícia Branco, vice-presidente da Associação Portuguesa de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia (APMVEAC).
Sobre os principais perigos e doenças que existem no verão para cães e gatos, a médica veterinária alerta que as épocas mais quentes têm impacto na saúde dos animais de companhia e das pessoas pelo menos a dois níveis: "Desafiam diretamente o corpo a adaptar-se fisicamente às novas temperaturas e aumentam o risco de exposição a determinados parasitas e plantas que aparecem preferencialmente nestas épocas."
As temperaturas ambiente elevadas aumentam o risco de queimaduras, golpes de calor e desidratação, quer no exterior, quer no interior. Por vezes, recorda Patrícia Branco, os animais de companhia até estão mais expostos a estas complicações do que as pessoas, como por exemplo, os animais que ficam fechados dentro de um carro em dias de muito calor, ou que caminham no alcatrão sob sol direto. "Nós, por comparação, nunca nos submeteríamos a tal desafio", sublinha.
Em alguns casos estas complicações podem mesmo ser graves e comprometer a vida do animal, pelo que podem exigir atendimento de urgência. Os animais mais propensos são: os mais jovens e idosos; os de pelagem longa e densa; os de focinho "achatado" (raças braquicéfalas), como o bulldog inglês, o bulldog francês, o pug, os gatos persas, e não só, por terem dificuldade em dissipar o calor através do estreito trato respiratório superior; e os fragilizados por patologias preexistentes.
Atenção à exposição solar prolongada
A vice-presidente da APMVEAC relembra também que, como nós, os animais também sofrem com a exposição solar prolongada. Ela é mais recorrente nos cães que frequentam espaços exteriores e que podem estar bastante expostos num dia de praia ou no jardim, mas também é possível nos gatos que têm acesso ao exterior ou que passam muito tempo à janela a apanhar sol. Os mais predispostos são os de pelagem mais clara, os que têm alguma lesão de pele e os de pele mais sensível.
Com o calor, são também muito frequentes as lesões por praganas em animais que vão à rua. As praganas são ervas secas em forma de espiga que se prendem ao pelo e penetram a pele causando muito desconforto, feridas ou abcessos, e podem inclusive entrar em orifícios corporais como ouvidos ou narinas! É-nos explicado que alguns animais podem também ser alérgicos a alérgenos ambientais (pólenes e plantas) mais frequentes nesta época, manifestando mais sinais de prurido cutâneo ou inflamação nasal/oftálmica.
Parasitas atacam até os que ficam em casa
Hoje, os parasitas mais frequentes em Portugal conseguem sobreviver e manter a sua atividade com as temperaturas registadas em todas as estações do ano, incluindo do inverno. Porém, esta época de maior calor é a mais propícia para existirem infestações dos nossos animais de companhia, e não apenas dos que saem à rua.
Os parasitas cutâneos mais frequentes em Portugal são as pulgas, carraças, mosquitos e flebótomos, que são uns insetos voadores semelhantes a um mosquito. "A sua presença não causa apenas desconforto por causa do prurido e outros sintomas cutâneos associados, eles são frequentemente o veículo de transmissão de doenças infecciosas graves para os próprios animais de companhia, e inclusive para os seres humanos, como a febre da carraça, doença de Lyme, leishmaniose e dirofilariose."
O que fazer para proteger os animais de companhia dos parasitas e outros perigos?
. A melhor solução para reduzir a exposição aos parasitas e às doenças que eles transmitem passa por proteger os nossos animais de companhia durante o ano inteiro, mas não há uma única solução indicada para todos os casos. A escolha dos melhores antiparasitários e da vacinação adequada, assim como a sua frequência, deve ser decidida com o médico veterinário, que conhece os riscos a que o seu animal de companhia está sujeito, quais as melhores e mais eficazes soluções disponíveis, e como se adequam à sua família.
. Evite passeios em terrenos bravos com muitas ervas secas. Ao voltar a casa, examine minuciosamente o pelo e a pele do seu cão, nomeadamente as patas, entre os dedos e os ouvidos e retire as ervas e a sujidade que encontrar.