Poucas sensações são tão emocionantes como a de sintonia perfeita com alguém. Aquela cumplicidade que nos permite interpretar cada gesto do outro, compreender os seus estados de espírito, mesmo sem palavras. Isto também é possível acontecer com os animais de companhia.
É tão bom sabermos o que o cão nos está a pedir quando vem ter connosco e se senta, fitando-nos, sem precisar de ladrar. Olhar-nos nos olhos, quando nos aproximamos de uma bifurcação, à espera de que apontemos com a cabeça a direcção a seguir. Quando estamos tristes e ele nos arregala os olhos, como quem diz "Coragem… isso vai passar…" Quando sai do seu tapete, salta para o sofá e fixa o olhar em nós, chamando: "Anda. Chega de trabalho por hoje." Quando franzimos levemente o sobrolho e ele olha-nos intrigado, como se perguntando "O que foi agora?...". Quando uma doença se prolonga, sem cura possível, o sofrimento atinge níveis intoleráveis e um dia ele fita-nos com um olhar mais doce do que nunca, pedindo: "Deixa-me ir…" Estes e muitos outros são momentos mágicos de comunicação e cumplicidade entre nós e os nossos cães.
Porém, a compreensão da linguagem canina também é importante para prevenir acidentes. Antes de morderem, os cães dão sinais de que alguma coisa não está bem. Mas habitualmente as pessoas não reconhecem estes avisos e, por isso, não conseguem evitar a mordida. Em situações de stress, por medo, por exemplo, quando os sinais do cão são ignorados, ele tenderá a escalar para sinais mais óbvios, como rosnar. Se ainda assim a situação que o desconforta não for interrompida, poderá até morder. De nada serve dizer que as crianças só devem interagir com cães na presença de um adulto, se este não souber interpretar correctamente a comunicação do cão, uma vez que não conseguirá antecipar quaisquer comportamentos agressivos que possam ser provocados por inúmeros estímulos.
A correcta interpretação da sua linguagem corporal também nos ajuda a evitar brigas entre cães. Por exemplo, o modo como dois cães desconhecidos se aproximam e se apresentam, através de diversas manifestações corporais, permite-nos prever se o encontro vai correr bem, ou se é melhor chamarmos o nosso cão e seguir por outro caminho.
Para todas as pessoas que ainda não dominam a comunicação entre cães e destes com os humanos, o Instituto do Animal criou, há sete anos, um seminário de três horas, que se repete todos os anos – Linguagem Canina: O que Sentem e Dizem os Cães.
Sílvia Machado, fundadora e diretora-geral do Instituto do Animal
A autora não segue o Acordo Ortográfico.