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Atores por 48 horas em curta-metragem no Centro Social de São Boaventura

Dois dias podem mudar a vida de alguém. Ou de várias pessoas. Foi isso que aconteceu com a equipa do Centro Social de São Boaventura. Juntaram-se para fazer uma curta-metragem, mas a história, que os uniu, perdura muito para além da duração do filme.
11 de Maio de 2023 às 11:21
A diretora do Centro Social de São Boaventura, Elsa Gaspar Maria, e parte da equipa das Produções 111 que participou no 48 Hour Film Project Lisboa 2023
A diretora do Centro Social de São Boaventura, Elsa Gaspar Maria, e parte da equipa das Produções 111 que participou no 48 Hour Film Project Lisboa 2023

Fazer uma curta-metragem em 48 horas - é esse o desafio proposto pelo 48 Hour Film Project Lisboa. O concurso decorre, em simultâneo, em mais de 100 cidades por todo o mundo e desafia os amantes do cinema a escrever um guião, gravar e editar um filme, com a duração final entre 4 e 7 minutos, em apenas dois dias. A curta-metragem tem de ser feita, cumprindo uma série de regras como: seguir o género, que é sorteado no primeiro dia da competição (comédia, drama, musical, entre outros) e incluir, na história, uma personagem, uma frase e um objeto comuns a todas as equipas. Pode parecer trabalho para profissionais, mas isso não assustou os utentes do Centro Social de São Boaventura, equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), localizado no Bairro Alto, em Lisboa. Até porque já é a quarta edição em que participam: “Repetir é um ato de ousadia. Ninguém dorme nestas 48 horas, ou dorme muito pouco. Não são todos os colaboradores que se importam de deixar as famílias para estar aqui durante o fim-de-semana”, afirma Elsa Gaspar Maria, diretora do Centro Social de São Boaventura há dois anos e há 18 na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Em 2018 e 2019, o Centro participou no concurso ainda de forma experimental mas, em 2022, resolveu entrar “a sério”. De tal forma que criou as Produções 111: “Estamos na Rua São Boaventura, 111 num palácio reconhecido na comunidade. Quando decidimos criar uma marca, pensámos em ‘produções’ para parecermos profissionais, que não somos, e ‘111’ porque toda a gente conhece o número da porta”, explica a diretora.

Este Centro é “um dos mais antigos” da SCML e tem como fim o apoio às pessoas mais carenciadas da zona da Misericórdia, no Bairro Alto. Trata-se, como refere ElsaGaspar Maria, de “um centro intergeracional”, que tem como valências “um centro de dia, distribuição de refeições e apoio a utentes adultos, ludoteca e apoio escolar a jovens. Juntar jovens e idosos no mesmo espaço, a partilhar experiências, já é prática comum no Centro. Por isso, seguiram a mesma receita para a participação no 48 Hour Film Project Lisboa: “A partilha de experiências entre os mais velhos e os mais novos resulta numa relação win-win: todos ganham. Os idosos começam a perceber a linguagem da juventude: as mensagens de Whatsapp, as abreviaturas… São contaminados com esta energia. Os jovens ficam mais conscientes do seu papel enquanto agentes de mudança e ganham uma tónica de realidade: percebem que há idosos que não têm casa, que há idosos que perderam os seus e ficaram sozinhos, que todos precisamos uns dos outros. A participação no 48 também Atores por 48 horas em curta-metragem no Centro Social de São Boaventura tem este propósito”, diz Elsa Gaspar Maria, entusiasmada.

Segundo a diretora, o objetivo de entrar neste concurso era “ter um momento que unisse as pessoas, num registo diferente, mais humanista”, mas também retirar alguns dos colaboradores - incluindo, ela própria - da zona de conforto: “A mim, dá-me oportunidade de assumir outro papel, sem ser o de diretora, e estar ao mesmo nível ou um nível abaixo de outros colegas. Este foi o motor, enquanto gestora de equipa, para descobrir potencialidades e sinergias nas pessoas com quem trabalho, para conhecer aquilo que os colaboradores não mostram no dia-a-dia. No trabalho, eu sou a chefe. Com esta participação no 48, percebo a capacidade de liderança dos meus colegas, a autonomia, a generosidade… E eles entendem os meus dilemas. Não sei se há outra forma de crescer, mas esta fez com esta equipa crescesse imenso”, assume orgulhosa e emocionada.

Dora Taborda, animadora sócio-cultural, passou por esta inversão de papéis pouco tempo depois de ter chegado ao Centro Social de São Boaventura: “Fui chefe de equipa no ano passado. Estava cá há cerca de seis meses e o desafio foi ainda mais acrescido. Para além de não perceber nada sobre o que é produzir uma curta, tive que liderar uma equipa que conhecia pouco. Além disso, também senti a responsabilidade de representar uma instituição que é a Misericórdia de Lisboa. É verdade que estamos cá para nos divertirmos, mas também queremos entregar um trabalho que seja representativo daquilo em que acreditamos”. A colaboradora do Centro sentiu “borboletas na barriga” e “as pernas a tremer” e admite que “não foi logo fácil”. Até porque teve que dirigir… a própria diretora: “Estava a ser chefe daquela que é a minha diretora no dia-a-dia. Fiz-lhe perguntas muitas vezes e ela respondia ‘você é a chefe, você é que sabe’. Senti algum constrangimento ao início, mas se há um propósito, um objetivo, temos que fazer acontecer”, afirma, com convicção.

Elsa Maria Gaspar assume que “na primeira hora” teve “dificuldade em deixar de ser chefe”, mas assegura que Dora “conseguiu sair da sua zona de conforto” e, aos poucos, foi conquistando a liderança.



Os idosos e as crianças ficam mais próximos


Elsa Gaspar Maria, diretora do Centro Social de São Boaventura, explica que “quando decidimos entrar neste projeto, rodeámo-nos de voluntários que já tinham estas competências: familiares, filhos de colaboradores, familiares de utentes, amigos, etc”. Dora Taborda, animadora sócio-cultural, acrescenta “usamos a prata da casa”.

Zulmira Varandas teve, aos 82 anos, a sua primeira experiência como atriz ao entrar na edição do ano passado: “Estava numa mesa de café a lanchar uns bolinhos, quando aconteceu um roubo. Era a cena principal. Com a minha idade, nunca pensei entrar numa coisa destas”, afirma, entusiasmada.


Elsa Gaspar Maria, diretora do Centro Social de São Boaventura

Para Sara Sebastião, 11 anos, frequentadora da ludoteca do Centro Social, também foi a primeira vez: “No ano passado, a história era sobre um senhor que tinha sido assaltado. Eu era filha dele e estava morta - era uma memória do senhor. Não tinha falas, mas como se costuma dizer, não há papéis pequenos. Na cena, eu estava a jogar à macaca e a minha mãe estava a ver”, conta com uma maturidade surpreendente para a idade. Apesar de ter ficado “meia nervosa” quando foi convidada para participar, Sara considera que foi relativamente fácil” desempenhar aquele papel porque “já tinha jogado antes” à macaca e agiu “como se não houvesse câmaras”. Também Zulmira Varandas garante que “estava tão entusiasmada” que nem sentiu cansaço. Ambas sentiram-se orgulhosas por terem participado na curta-metragem: “Contei ao meu filho, à minha nora, ao meu neto e a outros familiares… Disseram-me: ‘Agora estás famosa, entras num filme’”, conta, divertida, Zulmira Varandas. Por isso, não tem dúvidas em recomendar a experiência: “Se alguém me perguntasse, dizia para participarem porque o convívio é ótimo e sentimo-nos bem. Não pensamos nas dores que temos nem nas doenças!”. Já Sara sentiu-se “feliz por ter sido convidada”, especialmente depois de ter visto o resultado final da curta-metragem, durante a exibição no cinema S. Jorge: “Achei que o filme estava muito giro. Não estava à espera que estivesse tão bem feito!”.


Como diz o ditado, “em equipa que ganha não se mexe”. Por isso, vários elementos que participaram na edição do 48 Hour Film Project do ano passado, voltam a entrar na edição deste ano. É o caso de Sara: “Este ano, já fiz a minha parte. Fizemos a gravação de uma rua onde estávamos eu e as minhas amigas. Vamos falando e tirando fotografias, tudo como se estivéssemos mesmo na rua.”

Na edição de 2022, o filme “Fora do Risco” produzido pelo Centro Social de São Boaventura - sobre melhores amigos, companheirismo e memórias - recebeu uma Menção Honrosa no Prémio Inclusão no Cinema. Para este ano, o desejo de Elsa Gaspar Maria, diretora do Centro Social, é “que se consolide o sentimento de pertença e de compromisso” tanto entre colegas como utentes: “Os colegas passam por papéis diferentes. Há um ‘chapéu de chuva’ que é aberto: as pessoas ganham clareza sobre as decisões que é necessário tomar. Os idosos ficam mais próximos e as crianças também Sentem-nos de maneira diferente porque o contexto é diferente. Há reciprocidade”. A um nível mais pessoal, a diretora garante que vai “colher os frutos”: “A dimensão do nosso trabalho, às vezes, é muito dolorosa. Muitas vezes, atendemos quem não tem nada. Esta forma mais descontraída de exigir de nós garante que nos desenvolvemos enquanto profissionais. A casa ganha com profissionais mais maduros, mais crescidos. Quanto a mim, sinto que me tornei melhor líder desde que participei no 48”.

Por Boas Causas