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"Contribuímos para a melhoria de qualidade de vida das pessoas"

A diretora do serviço de reabilitação do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão explica como a sua equipa ajuda utentes incapacitados a nível motor a serem avaliados para a condução.
9 de Dezembro de 2022 às 11:57
O simulador dispõe de um circuito em realidade virtual que permite testar “off road” as competências funcionais do candidato.
O simulador dispõe de um circuito em realidade virtual que permite testar “off road” as competências funcionais do candidato.

O Centro de Mobilidade foi criado em 1999, numa parceria entre o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA) da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e o projeto Fiat Autonomy, com o objetivo de estudar alternativas para a condução para pessoas com mobilidade reduzida. A possibilidade de conduzir de forma autónoma um veículo automóvel expande ainda mais a liberdade de movimento de pessoas com alguma deficiência motora e facilita deste modo a sua participação enquanto cidadãos. Filipa Faria, diretora do serviço de reabilitação do CMRA, explica o que fazem neste centro.


Como é que se testam as capacidades num simulador?

O primeiro simulador consistia num “tablier “de um Fiat Brava. Permitia a realização de diversos testes para avaliação da força muscular de cada membro, da destreza manual nas manobras de volante, e ainda permitia avaliar a coordenação oculomotora, realizar um despiste de deficits auditivos e do campo visual, entre outros. Ao longo destes mais de 20 anos, temos tido vários simuladores. O equipamento de que dispomos atualmente foi desenhado e construído à medida das nossas necessidades e fruto da experiência adquirida pela equipa. Resultou de uma parceria entre o Centro de Mobilidade e a Faculdade de Engenharia do Instituto Politécnico de Setúbal. Como inovação, este novo simulador dispõe de um circuito em realidade virtual que permite testar “off road” e, portanto, de uma forma mais segura e eficaz, as competências funcionais do candidato.



A equipa clínica é constituída por dois fisiatras, três terapeutas ocupacionais, um psicólogo e um engenheiro biomédico. Qual a mais-valia de cada um?

Cada elemento da equipa tem uma perspetiva diferente que permite uma avaliação mais global e por isso mais completa. Assim, o médico avalia o contexto clínico, valorizando as patologias e suas repercussões funcionais (motoras e/ou cognitivas), efetua o despiste de limitações motoras e cognitivas, acompanha a realização das diversas fases do exame e é o responsável pela elaboração do relatório final. O terapeuta ocupacional colabora na avaliação funcional do candidato, realiza os testes no simulador e colabora também na elaboração do relatório. Quando se detetam alterações cognitivas que possam pôr em causa a condução é solicitada uma avaliação psicológica específica, utilizando a bateria de testes de Viena, realizada pelo psicólogo da equipa. O engenheiro biomédico apoia nas questões técnicas do simulador.


Filipa Faria, diretora do serviço de reabilitação do CMRA


Quanto tempo de avaliação é necessário até ao relatório final?

A avaliação do candidato e a elaboração do relatório tem a duração de cerca de uma a duas horas; se for necessária a avaliação psicotécnica, é agendada essa avaliação e realizado um relatório final.


Conseguem despistar alterações dos campos visuais ou deficits auditivos dos candidatos. Que consequências tem?

Quando se detetam alterações visuais ou auditivas no despiste que realizamos, que podem ter impacto na segurança da condução, enviamos os candidatos aos colegas especialistas que emitirão o seu parecer técnico.


As pessoas obrigadas à condução adaptada têm recomendações ao nível da velocidade máxima ou da condução diurna ou noturna?

Não, só nos casos em que o delegado de saúde assim o considere.


O que a levou a seguir esta área e qual a recompensa maior que o seu trabalho lhe dá?

A medicina física e de reabilitação tem como objetivo reduzir a dependência e favorecer a funcionalidade e a participação. Dar a possibilidade ao indivíduo de maior autonomia e independência é concretizar este desígnio. A recompensa é saber que contribuímos para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, que facilitámos a sua integração e participação social e, deste modo, demos um pequenino contributo para uma sociedade mais inclusiva.




Quando as incapacidades ficam escondidas atrás do volante


Quem viu a sua capacidade de conduzir afetada por doença neuromuscular, paraplegia, lesão ou envelhecimento, tenha ou não carta de condução, pode conseguir a independência ao volante ao ser avaliado na aptidão para condução adaptada no Centro de Mobilidade de Alcoitão, integrado no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA), concelho de Cascais - instituição de saúde da Santa Casa.

São pessoas que podem estar amputadas nos membros, mas não o estão na sua vontade indomável por autonomia. A pensar no estudo de alternativas para a condução para pessoas com mobilidade reduzida, foi fundado, há 23 anos, o Centro de Mobilidade de Alcoitão, único no país para a avaliação de aptidão para condução adaptada.




A médica Filipa Faria (à direita) com um utente do centro e a terapeuta ocupacional


Os órgãos de comando do simulador de condução



“Avaliamos sobretudo pessoas com incapacidades motoras resultantes de doenças (como o AVC, esclerose múltipla, síndrome de Guillain-Barré, doenças neuromusculares, mielites, neuropatias, entre outras) lesões ou traumatismos (lesões medulares, amputados dos membros ou TCE – Traumatismo Crânio Encefálico, entre outros)”, explica a médica Filipa Faria, diretora do serviço de reabilitação do CMRA.

Com a ajuda de um simulador de condução, a equipa clínica testa a destreza para conduzir dos utentes, apesar das suas limitações físicas e/ou psicológicas.

“Todas podem ser avaliadas no Centro de Mobilidade, mesmo que não tenham carta de condução. Na realidade, a avaliação no Centro de Mobilidade destina-se a indivíduos cuja capacidade de condução foi afetada por doença, lesão ou mesmo envelhecimento ou que tenham tido uma alteração do seu estado funcional que possa afetar a sua capacidade de conduzir de forma segura.”


Sequelas sensitivas e cognitivas

A maioria dos utentes que por ali passa necessita de um programa de reabilitação global e individualizado, porque não foi só a aptidão para a condução que ficou comprometida, como explica a diretora do serviço de reabilitação do CMRA. “Os acidentes de viação provocam não só sequelas motoras como sensitivas e por vezes cognitivas. Estas situações clínicas são complexas e necessitam de uma abordagem por uma equipa multiprofissional para explorar a máxima capacidade funcional do indivíduo. Na generalidade das situações, a reabilitação processa-se em internamento. A avaliação no Centro de Mobilidade é pedida pelo próprio, e realizada na fase final do internamento ou quando já estão em casa”, adianta Filipa Faria.

Sempre que existam dúvidas sobre a aptidão psicotécnica é realizada uma avaliação psicológica específica para a condução utilizando a bateria de testes de Viena, explicou a médica. Os utentes que não têm ainda a carta de condução podem obtê-la depois de serem testados pela equipa clínica. “Testamos força, destreza, coordenação oculomotora, despistamos alterações sensoriais, cognitivas e propomos as adaptações necessárias para a condução. Com o relatório da avaliação no Centro de Mobilidade, os candidatos que não têm ainda carta de condução poderão dirigir-se a uma escola de condução que disponha de veículos adaptados para tirar a carta.”

Pelo espaço passaram já muitos casos de sucesso, de pessoas que fizeram as adaptações necessárias nos seus automóveis depois de passar pelo centro. “Temos muitos doentes, sobretudo paraplégicos, mas também pessoas com doenças neuromusculares, amputados e outros, que o facto de poderem conduzir um automóvel contribuiu decisivamente para a sua autonomia e autoestima. Puderam voltar ao trabalho, levar os filhos à escola, ir ao supermercado, enfim, participar de forma independente e ativa na vida familiar e social.”




O equipamento foi desenhado e construído à medida das necessidades e fruto da experiência adquirida pela equipa



4000

Utentes foram avaliados desde 1999 até 30 de novembro deste ano.

Por Boas Causas