Em Portugal realizam-se anualmente cerca de 10 mil cirurgias motivadas por queixas e doenças urinárias causadas por Hipertrofia Benigna da Próstata (HBP).
O primeiro sinal é o aumento do volume da glândula da próstata, que causa obstrução e leva ao aparecimento dos sintomas urinários: jato urinário fraco, hesitante ou interrompido, sensação de micção incompleta ou urgência para urinar. O problema evolui se não existir intervenção clínica adequada. "Primeiro, e afastada a hipótese de haver uma causa maligna, opta-se sempre pelo tratamento farmacológico, que costuma ser eficaz pelo menos nas fases mais iniciais do problema. Só quando o problema evolui, com impacto para a vida do doente, se parte para a abordagem cirúrgica", explica Mário Rodrigues, Coordenador da Unidade de Urologia do Hospital Cruz Vermelha (HCV).
O Holmium Laser vai permitir libertar o tecido prostático que causa a hipertrofia e a sua eliminação através da bexiga
Mas quando se conclui que a melhor via possível de tratamento é a cirúrgica, o HCV disponibiliza um tratamento a laser inovador (com Holmium Laser), e que promete revolucionar a forma como o problema é tratado nos próximos anos.
"A enucleação da Próstata com Holmium Laser (HoLEP), consiste num tratamento cirúrgico minimamente invasivo, trans-uretral, que tem o por objetivo eliminar a massa que causa a obstrução ao fluxo miccional. O laser permite desfazer esse tecido e empurra-o para a bexiga, para que possa depois ser eliminado", explica o especialista, que desenvolveu esta técnica no estrangeiro e que em 2020 a introduziu no HCV. "As vantagens para os doentes são óbvias: menos riscos, recuperação mais rápida, redução dos sintomas urinários, melhoria global da função miccional e manutenção da vida sexual ativa", justifica. A técnica cirúrgica é já a mais comum noutros países da Europa mas, em Portugal, ainda não se alargou a outras unidades de saúde "pela curva de tempo necessária para formar cirurgiões nesta técnica", conforme explicou Mário Rodrigues.
Foi “na casa dos 44 ou 45 anos” que o neuropsicólogo Manuel Domingos começou a sentir os primeiros sintomas causados pelo aumento do volume da glândula prostática. “Tentei a medicação, mas como acontece com todos os tratamentos farmacológicos, ao fim de algum tempo deixou de fazer efeito. Sofri com o problema mais de 20 anos. Cheguei a ter de ir às urgências porque estava a fazer retenção - o que pode provocar doença renal grave - até que cheguei à conclusão que a melhor opção que tinha era a cirurgia”, recordou ao CM.
Os urologistas Fernando Calais e Mário Rodrigues no Hospital Cruz Vermelha
Sabendo do método cirúrgico minimamente invasivo a laser que Mário Rodrigues e a sua equipa (que integra também os urologistas Fernando Calais e Nuno Fidalgo) estava a já a implementar no HCV, Manuel Domingos não hesitou. “Foi uma cirurgia complicada até, segundo me disseram, mas correu muito bem. Estive internado durante três dias, não tive dores, o desconforto foi muito relativo e, acima de tudo, fui muito bem tratado”, recorda sobre a intervenção feita há cerca de um ano.
Aos 68 anos, Manuel Domingos recuperou qualidade de vida. “Afetava-me sobretudo nas atividades mais relacionadas com o laser, mas o que interessa é que já está resolvido. Ganhei saúde, que é o mais importante”, confessa.
Também Carlos Silva, de 62 anos, que sofria do problema há cerca de dez, submeteu-se recentemente ao tratamento e não se arrependeu: “Primeiro fui controlando a situação com fármacos mas chegou a um momento em que a única hipótese era o tratamento cirúrgico. Fui pesquisando sobre técnicas de tratamento, até que cheguei ao Dr Mário Rodrigues. Correu tudo bem.O pós-operatório foi fácil e hoje sinto que fiz a escolha correta ao procurar um tratamento menos invasivo”, explicou.
A que fatores se deve a Hipertrofia Benigna da Próstata e a Doença Urinária Obstrutiva?
É mais frequente nos homens acima dos 50 anos. Os sintomas decorrem sobretudo da obstrução à passagem da urina pela próstata aumentada devido à ação da testosterona e da di-hidrotestosterona que vão aumentando o número de células numa zona chamada zona de transição. Podem ter consequências graves como a perda da capacidade de contração da bexiga, infeções urinárias e alterações dos rins como insuficiência renal grave.
Porque é que o tratamento minimamente invasivo a laser, comprovadamente com melhores resultados e menos riscos, ainda não é utilizado em todos os hospitais?
É uma técnica ainda recente, que requer tempo de aprendizagem o que dificulta a sua utilização.
O que o levou a especializar-se nesta técnica?
As vantagens para os doentes, por possibilitar a cirurgia minimamente invasiva em todos os doentes, mesmo os mais idosos com múltiplos problemas.