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Liberdade e segurança: o melhor de dois mundos nas Residências Assistidas

Inauguradas em 2017, as Residências Assistidas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Bairro Padre Cruz, têm atualmente 34 moradores, entre os 64 e os 91 anos. Todos autónomos mas com apoio especializado. A segurança, o convívio, o espírito de entreajuda e a liberdade de entrar e sair são as vantagens mais salientadas pelos residentes.
4 de Maio de 2023 às 10:50
As utentes Maria da Conceição Monsanto, Maria Belém Ferreira e Maria de Fátima Pessoa com a diretora das Residências Assistidas, Marta Paulino
As utentes Maria da Conceição Monsanto, Maria Belém Ferreira e Maria de Fátima Pessoa com a diretora das Residências Assistidas, Marta Paulino

Maria Belém Ferreira, 71 anos, é moradora nas Residências Assistidas Bairro Padre Cruz, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em Carnide, há seis anos. São casas para idosos que gozam de plena autonomia. Para Maria Belém está a ser uma nova vida. “Vir para aqui foi o Euromilhões. Antes, estava a morar sozinha e a minha família não me liga”.

Também Maria de Fátima Pessoa, 64 anos, há cinco a viver nas Residências, ficou sozinha quando o filho saiu de casa: “Era divorciada há muitos anos e o meu filho casou. De vez em quando vinha aqui, outras vezes falávamos ao telefone, mas estava sozinha”. Até que ouviu falar das Residências através das vizinhas. Esperou, pacientemente, pela sua vez e não se desiludiu: “Eu andava sempre triste. Quando vim para aqui, cresci uns palmos, já ria, os meus olhos brilhavam! A minha vida mudou por completo. É a minha segunda família”.

Já Maria da Conceição Monsanto, 69 anos, decidiu sair da sua casa há quatro anos “devido a problemas de saúde” e porque percebeu que “ia precisar de ajuda”, uma vez que também “vivia sozinha”.

O isolamento e a idade são dois dos fatores que levam as pessoas a mudarem-se para as Residências Assistidas: “Pretende-se que sejam habitadas por pessoas idosas ou isoladas. A condição necessária é que tenham autonomia e que vivam como se estivessem na própria casa. Até porque podem - e devem - trazer as suas mobílias para equipar o apartamento”, explica Marta Paulino, diretora das Residências Assistidas Bairro Padre Cruz desde julho de 2022.

“Saímos quando queremos”

Estas residências são uma resposta social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, inauguradas a 8 de março de 2017, constituídas por 30 apartamentos de tipologia T0 distribuídos por três pisos (24 individuais e seis para casais). A equipa é constituída por uma directora e uma assistente social, cinco agentes de geriatria e apoio à comunidade e uma psicóloga “meio dia por semana”. Além disso, “têm segurança dia e noite”: “Podemos dizer que é um condomínio”, diz Marta Paulino, sorridente.

Estão inseridas no edifício de equipamentos do Bairro Padre Cruz, onde existe também um espaço Interage, um centro de dia, uma creche e um serviço de apoio domiciliário.

De acordo com a diretora, os residentes têm “apoio ao nível das atividades, acompanhamento a consultas, nas compras, saídas”. E também existe um grupo de voluntários que faz “arteterapia, caminhadas ou aulas de inglês”. Na opinião de Marta Paulino, uma das grandes vantagens deste tipo de resposta social é “o facto de as pessoas estarem no seu apartamento e terem a sua privacidade, com apoio e supervisão”. Outra vantagem é “o espírito de entreajuda entre os residentes: se detetam alguma coisa num dos andares, são os próprios a dar o alarme”.

Maria Belém Ferreira é exemplo disso mesmo: “Em 2021, tive um acidente, fiquei encarcerada dentro do carro e entrei em pânico. Estava psicologicamente traumatizada. Fiquei de cama, emagreci 14 quilos. Se estivesse na minha casa antiga, tinha morrido. Mas aqui, o meu vizinho ia ter comigo todos os dias e dizia-me: ‘Amanhã quero-te fora da cama’. Um dia, saí da cama e não conseguia andar. Arranjaram-me um andarilho e fui caminhando. Os meus vizinhos, a doutora, as auxiliares, os assistentes sociais, toda a gente ajudou. Hoje já ando sem andarilho.”


Maria da Conceição Monsanto concorda que nas Residências Assistidas são “uma família”: “Gostamos de fazer refeições juntos, nos aniversários juntamo- nos todos e gostamos de conviver”. Além disso, para a dona Monsanto - como é tratada - uma das coisas que mais lhe agrada é o facto de serem “independentes”: “Aqui saímos quando queremos e bem nos apetece, ninguém nos impede de chegar à hora que quisermos ou até passar a noite fora”.


Maria de Fátima Pessoa, 64 anos, gosta de usar o portátil.

No que diz respeito a sentir-se mais acompanhada, Maria de Fátima Pessoa é perentória: “Todos os dias batem à minha porta a perguntar se está tudo bem”. E ali, a dona Fátima sabe que pode ter “o melhor de dois mundos” - liberdade e segurança: “Se quiser sair, posso sair. Tenho passado o Natal e o Ano Novo fora. Mas, desde a pandemia de Covid, tenho medo de sair. O meu filho vem cá, falamos, mas ele tem a vida dele e eu tenho a minha. Então, fico com a minha segunda família”.

“Foi a melhor coisa que fiz”

Residências Assistidas Bairro Padre Cruz, em Carnide, devem entregar a ficha de candidatura no edifício onde estão situadas. Para poderem ter acesso a esta resposta social, têm de viver no bairro Padre Cruz, ter autonomia e idade igual ou superior a 65 anos. No entanto, no que diz respeito à idade há exceções: “A idade média dos residentes ronda os 76 anos. No entanto, temos pessoas dos 64 aos 91 anos. Também temos uma jovem, uma senhora que vai fazer 50 anos: deu entrada com a mãe, a mãe faleceu e ela ficou na residência.”

Maria de Fátima Pessoa é um destes casos: “Vim à inauguração, gostei dos partamentos e, como era só para 65 anos, fiquei à espera. Passou um ano, passaram dois e, quando encontrei a presidente da associação de moradores, perguntei se podia vir para aqui. Foi a melhor coisa que fiz”, garante, entusiasmada.

Depois de entregue a ficha de candidatura, os possíveis residentes são chamados para uma entrevista e a seleção é feita pela Misericórdia de Lisboa, pela Gebalis [empresa que gere os bairros municipais] e pela associação de moradores do Bairro Padre Cruz. Segundo Marta Paulino, nesta entrevista “é definida como é feita a transição para que sejam entregues as chaves, retirada a mobília, etc”.


Uma vez que vivem num bairro com gestão da Câmara Municipal de Lisboa, esta transição implica deixarem as casas onde viviam anteriormente e passar a ter como única morada o apartamento que lhes é atribuído fatalinas Residências Assistidas. No que diz respeito a custos, os residentes “pagam 10% dos seus rendimentos mais 25€ relativos a água, luz e tratamento de roupa”. De acordo com a diretora, “se quiserem limpeza da habitação uma vez por semana, custa mais 20€ por mês. Mas é opção”. Quanto à alimentação, “podem confecionar as suas refeições nos próprios apartamentos”. Mas, “se não quiserem, podem pedir as refeições através da Santa Casa da Misericórdia ou da associação de moradores do Bairro Padre Cruz”.

Normalmente, o interesse em morar nas Residências Assistidas parte das próprias pessoas: “Muitas vezes, temos pessoas que conhecem quem está cá dentro, têm boas referências e demonstram interesse em integrar a residência”, explica Marta Paulino.

Maria Conceição Monsanto vive no Bairro há 62 anos e, antes de ir para as Residências, “já conhecia um casal que morava no prédio em frente”, assim como “outras duas pessoas que iam aos passeios da Junta de Freguesia”. Também Maria de Fátima Pessoa quis ir para perto das amigas: “Falava com a dona Monsanto e a dona Belém e falavam bem disto”.

Uma das motivações que muitos residentes têm, quando decidem ir viver para ali, passa por “não dar trabalho” à família. E nas Residências Assistidas Bairro Padre Cruz todos fazem parte da mesma família, a dos afetos.




O objetivo é a autonomia



A diretora das Residências Assistidas Bairro Padre Cruz, Marta Paulino, está em funções há cerca de um ano e, antes trabalhou mais de 8 anos como Diretora noutras ERPIs (Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas). Por isso, faz a comparação: “Aqui pretende-se que as pessoas sejam autónomas, não há acompanhamento médico e de enfermagem. É uma realidade completamente diferente. Numa ERPI, há uma maior dependência. Não quer dizer que estas pessoas não evoluam para outro estado de saúde”. E, quando isso acontece, é feita a avaliação da situação, em conjunto com a psicóloga: “Ainda em janeiro, tivemos que fazer um internamento de uma pessoa que precisava de apoio 24 horas por dia. Tentámos falar com a pessoa e vamos articulando com a família para ver qual o momento em que podemos fazer esse encaminhamento”.


Marta Paulino, diretora das Residências Assistidas Padre Cruz

Apesar de poder existir essa necessidade, não é, necessariamente, uma fatalidade. Os residentes são unânimes a salientar a segurança, o companheirismo, o ambiente familiar e o espírito de entreajuda. Além disso, com o convívio e todas as atividades que podem frequentar, ganham um novo estímulo: “Temos convívios, passeios, daqui a duas semanas vamos de férias para o Algarve, no ano passado fomos para S. Pedro do Sul. Todos os anos temos uns dias para ir aliviar o stress”, conta, entusiasmada, Maria de Belém Ferreira. O tempo passa e as dificuldades próprias da idade, inevitavelmente, acabam por surgir. Mas ali, nas Residências Assistidas, ganham-se anos de vida.

Por Boas Causas