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Realizar o sonho de ser Picasso por um dia

Utentes do Centro de Dia de Nossa Senhora dos Anjos, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, tornaram-se modelos e artistas em sessões de desenho promovidas pelo Lisbon Drawing Club.
13 de Abril de 2023 às 12:09

Rosa Pereira, 87 anos, utente do Centro de Dia de Nossa Senhora dos Anjos, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, recorda com entusiasmo a experiência que teve com o Lisbon Drawing Club, um grupo que organiza sessões de desenho nos mais variados locais, desde espaços sociais e culturais, a hospitais, centros de dia, jardins ou discotecas. “Fiquei tão contente quando vi a minha pintura. Nunca pensei que era capaz de fazer isto. Até disse: ‘Afinal sou mais esperta do que pensava’. Levei-a para casa e tenho-a na minha parede”, conta Rosa.

O Lisbon Drawing Club, que proporcionou aos utentes o sonho de serem Picasso por um dia, leva a experiência às mais variadas instituições e locais. “O objetivo é a diversidade”, explica Lígia Fernandes, uma das fundadoras do clube de desenho.

“Normalmente, na área do desenho, as sessões que existem para desenhar um modelo são muito clássicas. Queríamos aproximar-nos mais da realidade e representar a variedade de pessoas que vive em Lisboa. Interessa-nos desenhar uma pessoa mais velha, alguém com origens diferentes, uma mãe com um bebé, etc”.




A experiência do Centro de Dia Nossa Senhora dos Anjos com este clube surgiu numa altura muito desafiante para toda a gente.

“Conhecemos a Lígia, um dos membros do Lisbon Drawing Club, na pandemia”, conta Isilda Geraldo, diretora deste Centro de Dia da Santa Casa. “Era artista do Largo Residências, uma cooperativa que tem como missão contribuir para o desenvolvimento local, através de práticas culturais de inclusão social. Na altura, desafiámos os parceiros para nos darem apoio aos utentes numa fase complicada. A Lígia começou uma atividade connosco no hall dos prédios: falava com as pessoas e retratava-as através da pintura. Foi uma lufada de ar fresco. Naquela altura, toda a gente estava fechada em casa. Íamos de máscara e protegidos - parecíamos astronautas! Limitávamo-nos a levar comida e medicamentos. De repente, aparece uma pessoa que estava disponível para ir pintá-los. Foi espetacular!”


Centro aberto

O que começou por ser uma experiência isolada deu origem a uma série de iniciativas no Centro de Dia de Nossa Senhora dos Anjos: “Em março, vieram os alunos [da pós-graduação Ilustração e Narrativas Visuais da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa] e a Lígia. Foi muito bom para as duas partes. Vieram primeiro jantar com os idosos, conversaram e depois fizeram as pinturas”, refere a diretora do Centro. “Em vez de darmos a aula na universidade, fomos para o centro de dia”, explica Lígia Fernandes, do Lisbon Drawing Club. “A aula era teórico-prática e a parte prática foi jantar com os utentes. Depois disso, os alunos desenvolveram trabalhos baseados na experiência”.

Outra das iniciativas desenvolvidas em conjunto pelo Centro de Dia de Nossa Senhora dos Anjos e o Lisbon Drawing Club foi acolher membros da Associação Amigos da Pintura, num sábado. A associação é constituída por pessoas que trabalham durante a semana, explicou Isilda Geraldo. Nessa ocasião, “além dos utentes serem modelos foram também artistas”, adiantou a diretora do Centro. “Estavam maravilhados. Uma senhora dizia ‘Eu tenho uma pintura minha? Pareço uma rainha!’ Dizia que só lhe faltava um castelo”.

Esta geração nunca teve em perspetiva ser pintada por um artista. Viam nos museus e nas casas reais as senhoras serem pintadas em retrato e com os seus cães... Além disso, estão numa idade em que julgam que já não têm interesse.


Desenhos feitos pelos utentes do Centro de Dia em sessões com o Lisbon Drawing Club


Maria de Lurdes Barbosa, 85 anos, é exemplo disso mesmo: “É uma ideia interessante [desenhar com o Lisbon Drawing Club]. Aprendemos com eles. Os jovens têm ideias mais originais. Nós, com a idade, já não sabemos nada”, admite, entre suspiros. “Então, não sabem? Até têm mais experiência! Sabem outras coisas”, atira, em jeito de motivação, a diretora do Centro de Dia. “Eu levei a pintura para casa”, admite Maria de Lurdes. “A jovem tem muito talento”, brinca, emocionada.

Já Rosa Pereira orgulha-se de ainda manter a sua independência e de frequentar praticamente todas as atividades do Centro de Dia de Nossa Senhora dos Anjos: “Eu sou viúva há 23 anos. O meu marido morreu de repente e a minha família queria que eu fosse para o norte, mas eu quis ficar na minha casa. Houve uma rapariga que me trouxe para o Centro de Dia. Gosto muito de todas as atividades. É um passatempo para nós e é uma família”.


Idosos ficam empoderados

Segundo Isilda Geraldo, as atividades que realizam no Centro, como as desenvolvidas pelo Lisbon Drawing Club, “têm o objetivo de combater o idadismo” e resultam: “Eles ficam mais seguros de si, mais empoderados. Muitos deles acham que isto é o fim. E nós estamos sempre a inverter o sentido das coisas. Dizemos que é o principio de uma carreira, que ainda fazem parte da sociedade, que são agentes ativos. Ajuda a estabelecer relações e a promover reações. Chegam à padaria, ao café e comentam que foram pintados, conversaram com os alunos, jantaram juntos”.

De acordo com Lígia Fernandes, o Lisbon Drawing Club tem como valores “inclusão, aprendizagem, diversão e prática”. O clube recebe pessoas “de todos os níveis de experiência e profissões” e apenas uma minoria “vem das Belas Artes”. No final destas sessões especiais, realizadas ao fim de semana, Lígia faz um inquérito aos participantes a perguntar o que aprenderam e as respostas são surpreendentes: Eu até esperava que dissessem que aprenderam a desenhar melhor ou a ver o modelo. Mas as respostas que recebemos são nas áreas dos afetos: por exemplo, ‘aprendi que somos todos iguais, aprendi a reconhecer o outro’... E é esse o nosso objetivo: cruzar comunidades”. Um exemplo desse cruzamento improvável: “Passámos pelo Trumps e desenhámos modelos não-binários e pelo centro de dia para desenhar os utentes mais idosos”.

Quanto às colaborações com o Centro de Dia, Lígia Fernandes salienta “a abertura e disponibilidade” do espaço da Santa Casa: “Muitas vezes a nossa maior barreira é a burocracia dos espaços”, explica. “O que existe sempre no Centro de Dia é muita abertura e disponibilidade em acolher iniciativas artísticas. O nosso objetivo é que os artistas também queiram fazer mais coisas no Centro”. Um diálogo artístico e sensível a repetir, certamente.




Centro de Dia passa a “Espaço Interage”


ASanta Casa da Misericórdia de Lisboa está a alterar a designação ‘centro de dia’ para ‘Espaço Interage’ para acabar com o preconceito que é um espaço para idosos. ‘Interage’ no sentido de agir para fora e para dentro e não de idade.

“Temos uma metodologia centrada na pessoa, na sua vontade, mais do que um conjunto de serviços. Eles são promotores do seu plano de desenvolvimento e atividades. Temos reuniões em que eles desafiam os técnicos a fazer atividades diferentes. E nós tentamos criá-las através de parceiros, do Espaço Santa Casa - onde está a animação, o departamento responsável por organizar as atividades nos centros de dia.

“Não é um espaço fechado onde almoçam, lancham, fazem higiene e pouco mais. Têm isso tudo, para quem precisa, e também um conjunto de atividades onde não há limites”, explica Isilda Geraldo, diretora do Centro de Dia de Nossa Senhora dos Anjos.


A atividade de desenho ajuda na interação que se pretende

Por Boas Causas