Miguel Monteiro, 22 anos, medalha de bronze nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio 2020 na modalidade de lançamento do peso, é um atleta de baixa estatura mas gigante no que já atingiu na alta competição. Bolseiro do programa IMPULSO | Bolsas de Educação Jogos Santa Casa, Miguel consegue, com este incentivo, conciliar a carreira desportiva com a académica: está a completar o mestrado em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Aveiro.
O programa dos Jogos Santa Casa, que celebra 10 edições, já beneficiou 215 atletas olímpicos, paraolímpicos e surdolímpicos, reconhecendo-lhes o esforço e investindo no seu futuro.
Outro dos casos de sucesso é Tiago Neves, 25 anos, surdo. A água é o seu elemento e foi a dominá-la com mestria que chegou a nadador surdolímpico. Em simultâneo, está quase a concluir o mestrado em Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico. “É preciso ter muita organização, disciplina e foco” para conciliar a carreira dual, diz. Hoje, Tiago conta com uma história desportiva exemplar: participações no Mundial de 2011, na primeira finalíssima dos Jogos Surdolímpicos de Samsun (Turquia) e nas finais dos Jogos Surdolímpicos do Brasil em 2022, onde também alcançou a melhor classificação de sempre na história da modalidade.
Já o triatleta João Pereira, 35 anos, integra o Projeto Olímpico e está no 2.º ano do curso de Gestão das Organizações Desportivas em Rio Maior. O triatlo apareceu por acaso, depois de fazer um impressionante corta-mato escolar no 12.º ano que o levou a conhecer um treinador da modalidade.
A carreira desportiva fala por si. Foi campeão da Europa em 2017, 5.º lugar nos Jogos Olímpicos do Rio e na Final do Campeonato do Mundo, chegou a vários pódios de provas do campeonato do mundo e teve mais de cem internacionalizações. “O desporto de alto rendimento dá-nos humildade, respeito, dedicação, e empenho”, afirma João. Para conciliar com a faculdade, há que “manter a calma e o foco”, aconselha.
Desportista desde criança, Miguel Monteiro tinha apenas 14 anos quando foi convidado a experimentar o atletismo na disciplina de lançamento de peso. “A minha mãe pôs-me na natação com apenas um ano e meio devido a todos os benefícios para o desenvolvimento do corpo”, conta Miguel, que nasceu com nanismo. A baixa estatura nunca o impediu de ir mais longe. “Sempre gostei de jogar à bola na escola e pratiquei futsal do sexto até ao décimo ano.”
A rápida progressão no alto rendimento catapultou-o para a glória internacional: medalha de bronze nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio 2020; medalha de ouro no Campeonato da Europa de Atletismo 2021 e recorde do mundo na sua classe com 11,60 metros.
Beneficia das Bolsas Jogos Santa Casa há quatro anos: “Ajuda-me a acreditar que é possível alcançar melhores resultados a nível desportivo e académico.”
Miguel Monteiro está fixado no Campeonato do Mundo em Paris mas ambiciona ainda “entrar no mercado de trabalho e continuar a vida desportiva”.
Miguel Monteiro, 22 anos, bronze no lançamento do peso
Tiago Neves é bolseiro há sete anos consecutivos (desde o 12.º ano). A bolsa exprime “reconhecimento e determinação” e é, ainda, uma “ajuda extraordinária” com as despesas fixas do curso, reconhece.
Ser surdo nunca o impediu de nada, só teve de se esforçar mais: “Temos todas as condições para trabalhar por objetivos académicos, desportivos e profissionais, mesmo que, por vezes, nos sintamos limitados pela dificuldade de comunicação. Há que explorar as capacidades para aprender e crescer, de forma a provar que somos capazes de tudo.”
A terminar os estudos, Tiago Neves ambiciona ter uma carreira como engenheiro e continuar a somar vitórias como atleta. A próxima meta são os Jogos Surdolímpicos em 2025. “Estou a viver um sonho!”
João Pereira, 35 anos, triatleta, foi campeão europeu em 2017
O triatleta João Pereira, 35 anos, nunca teve uma limitação física para superar mas precisou, na mesma, de uma grande dose de foco e disciplina. Bolseiro em 2017/2018 e, de novo, nesta edição (depois de fazer uma transferência de curso), João está ciente da efemeridade da carreira desportiva. O curso de Gestão de Organizações Desportivas “é uma aposta no presente com os olhos postos no futuro”. “A bolsa é um reconhecimento pelo nosso trabalho”, diz, e por isso aproveita-a com “responsabilidade, orgulho e sentido de gratidão”.
Quase a partir para Abu Dhabi, onde decorrerá a primeira prova desta época, o objetivo para João é a excelência dos resultados e o foco é nos Jogos de Paris. A longo prazo, vê na área do desporto e na possibilidade de ajudar jovens atletas algo que gostaria de desenvolver. Entretanto, vai espalhando inspiração com o seu exemplo e o seu lema: “Nunca é tarde e não há impossíveis.”
Desde 2013, os Jogos Santa Casa são parceiro oficial para a área da educação do Comité Olímpico de Portugal e, desde 2014, principal patrocinador do Comité Paralímpico de Portugal. Desta parceria nasceu o programa IMPULSO | Bolsas de Educação Jogos Santa Casa, cujo intuito é ajudar os atletas de preparação olímpica, paraolímpica e surdolímpica a conciliar a exigente prática desportiva com a educação.
A cerimónia de atribuição das bolsas realizou-se ontem, na Reitoria da Universidade de Lisboa. Foram agraciados atletas que integram o programa olímpico Paris 2024, a preparação paraolímpica 2024 e surdolímpica 2025
Premiar o mérito académico e desportivo de quem representa o país ao mais alto nível, respeitando a equidade e integração no desporto, alicerça o projeto. Um autêntico “impulso” à carreira dual de muitos atletas e jovens esperanças para evitar o seu afastamento prematuro do desporto de alto rendimento ou o abandono precoce dos estudos. Apesar de não ser possível dar resposta ao total de candidatos, no ano passado assistiu-se ao maior número de sempre de bolseiros da esfera paraolímpica, sinal do contínuo crescimento, abrangência e sucesso do programa. Nomes como Miguel Monteiro, João Pereira, Tiago Neves ou Patrícia Mamona, Irina Rodrigues, Telma Monteiro e Dinis Costa falam por si. Os resultados estão à vista. E é um orgulho.
• O valor das bolsas varia consoante o grau do curso, o regime de frequência e, no caso das pós-graduações, do valor da propina. Não existe discriminação na atribuição entre os candidatos olímpicos, paraolímpicos e surdolímpicos.
- Bolsas para licenciaturas, mestrados ou doutoramentos: a tempo inteiro 3.000€ e em regime parcial 1.500€
- Bolsas para pós-graduações: 2.000€ ou até 3.000€ se o valor da propina exceder 2.000€
- Bolsas para cursos técnico-profissionais com reconhecimento oficial: 1.500€
• Não existe limite de anos à candidatura.
Os Jogos Santa Casa tornaram-se, nas últimas décadas, os maiores parceiros do desporto em Portugal através do apoio às entidades máximas desportivas nacionais como o Comité Olímpico de Portugal (COP) e o Comité Paralímpico de Portugal (CPP), além de 19 federações desportivas e inúmeras associações. Patrocina mais de 100 seleções portuguesas em inúmeras modalidades e os principais eventos desportivos em território nacional (como a Volta a Portugal, World Bike Tour, Final da Taça de Portugal de Futebol), além de primar pela valorização do mérito dos atletas, da forma mais inclusiva possível.
Total das 10 edições
• 422 bolsas;
• No valor de + 1,2 milhões
• 215 atletas
• 24 modalidades
Números da décima edição
• 47 bolsas
• No valor de 135K
• 15 modalidades