A primeira geração de telas modernistas foi exposta n’ A Brasileira do Chiado em 1925. Cem anos depois, o icónico café lança um concurso de pintura e promete expor 10 obras de artistas nacionais. As candidaturas estão abertas até ao dia 30 de setembro
01 de setembro de 2024 às 09:301 / 3
Se tivesse oportunidade de mostrar o seu talento na pintura, o céu seria o limite? Então pegue no estojo, nos materiais e na sua imaginação, e ponha mãos à obra na tela. Tem até 30 de setembro para concorrer ao concurso de pintura promovido pelo icónico café A Brasileira do Chiado, que lançou a iniciativa 100 anos depois de ter exposto nas suas paredes a primeira geração de pintores modernistas do País, como Almada Negreiros, Stuart Carvalhais ou Eduardo Viana. É o café conhecido por ter à porta, na esplanada, o seu mais famoso cliente, o poeta Fernando Pessoa, sentado à mesa, imortalizado numa escultura de bronze assinada por Lagoa Henriques.
No concurso de Pintura d’A Brasileira do Chiado serão apenas aceites originais nunca antes expostos. O objetivo do grupo O Valor do Tempo, detentor d’ A Brasileira, é lançar 10 novos pintores que terão oportunidade de ter as suas obras expostas no café que é um dos espaços turísticos mais visitados de Lisboa. Para além disso, será publicado um catálogo da exposição com as telas escolhidas e os vencedores irão ainda receber mil euros de prémio cada um.
O anúncio dos vencedores será a 19 de novembro de 2024, data em que se assinala o 119.º aniversário d’A Brasileira. "No próximo ano, concentrar-nos-emos na divulgação das obras deste concurso de pintura, para dar o máximo de visibilidade e notoriedade aos seus autores, já que as suas obras vão estar em exposição n’A Brasileira durante nove meses. No futuro, continuaremos a promover novas iniciativas culturais, seguramente", sublinha Sónia Felgueiras, diretora de marketing do grupo O Valor do Tempo. "A grande expectativa com o lançamento deste concurso é dinamizar e dar continuidade ao movimento cultural que sempre foi parte do ADN d’A Brasileira". Ao mesmo tempo, "estaremos a fazer uma homenagem ao fundador, Adriano Telles, um amante das artes que fomentou a promoção de novos artistas e a divulgação do seu trabalho".
Aberto a todos os estilos
O concurso de pintura é aberto a todos os pintores nacionais e a todos os géneros de pintura. "O que o painel de jurados avaliará será a qualidade das obras e o que nos move é a possibilidade de apresentarmos artistas contemporâneos, sem necessariamente ter a preocupação de fazer uma ligação a movimentos estéticos ou artísticos, já existentes ou não", realça Sónia Felgueiras. Por isso, o regulamento não se cinge apenas a artistas com grau académico; podem também participar candidatos que, não tendo ou frequentando grau académico, tenham um currículo profissional relevante que será avaliado pelo júri e todos vão concorrer em pé de igualdade.
A seleção das obras e a escolha final dos trabalhos premiados estarão a cargo de sete jurados: Tiago Quaresma, administrador do grupo O Valor do Tempo, de que faz parte A Brasileira; João Bernardo Galvão Teles, bisneto do fundador d’A Brasileira, jurista e consultor em História e Património; Emília Ferreira, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC); Cláudio Garrudo, diretor da Unidade de Edição e Cultura INMC; Maria Aires Silveira, curadora no MNAC; José Quaresma, professor associado com agregação da FBAUL, e Paulo Almeida Fernandes, historiador de arte e coordenador da área de investigação do Museu de Lisboa.
Para dinamizar o concurso de pintura, o jornal digital A Mensagem de Lisboa promove um ciclo de conversas n’A Brasileira de 4 de setembro a 5 de dezembro. Consulte o regulamento no site d’ A Brasileira (www.abrasileira.pt).
Os rapazes da Brasileira e as "telas tolas"
Adriano Telles abraçou há 100 anos artistas então desconhecidos, que se tornaram nomes consagrados como Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, José Viana, entre outros. Muitas pessoas olhavam para os “rapazes da Brazileira como um bando de loucos inofensivos” e mesmo o pintor Columbano Bordallo Pinheiro, que em 1914 se tornou diretor do recém-criado Museu de Arte Contemporânea, não potenciava o trabalho dos artistas mais jovens e impedia a entrada das suas obras no museu, acabando A Brasileira por funcionar como o primeiro museu de arte contemporânea, em Lisboa. Foi com o mote de “telas tolas” que Francisco Valença se referiu às “telas do Telles”, as pinturas que, em 1925, passaram a decorar o interior de A Brasileira do Chiado. Dizia-se que “no mármore das mesas há sempre exposições de coisas de arte”.