Centro de aprendizagem e experimentação baseado em projetos é um êxito
06 de março de 2025 às 15:40Tendo em conta a experiência e a intervenção da Câmara Municipal do Seixal na área da educação e a proximidade e o trabalho de parceria com a comunidade educativa, foi ganhando expressão a necessidade de outro tipo de intervenção em matéria de formação e experimentação na área das tecnologias, da inovação, criatividade e ciência. Constatou-se que os jovens precisavam de algo mais que os ajudasse a lidar com todas as novidades que estão a surgir na área tecnológica e de forma mais simples e flexível.
Assim nasce, em março de 2023, o Seixal Criativo, um centro de aprendizagem e experimentação baseado na metodologia do projeto. É gratuito e pioneiro em Portugal pela forma como associa a criatividade e a originalidade às tecnologias de ponta e conhecimentos de fronteira tendo como destinatários estudantes do 7º ao 12º ano. Desenvolve-se em horário pós-escolar, em regime misto, presencial e online e conta com equipamentos para o desenvolvimento de software e prototipagem rápida de projetos de hardware. No Seixal Criativo, os estudantes trabalham em grupo a sua própria ideia e desenvolvem-na até à fase da materialização (protótipo), ou seja, aprendem a ser makers.
O financiamento do projeto é municipal e conta com uma parceria com o professor António Câmara e com o engenheiro Edmundo Nobre, investigadores e autores de milhares de projetos em mais de 40 países nas áreas dos jogos móveis, realidade aumentada e virtual, inteligência artificial e eletrónica impressa. A Associação está encarregada da componente formativa e pedagógica do projeto.
A estrutura nuclear do Seixal Criativo assenta na Escola de Bits & Átomos, a primeira parte do curso que corresponde a oito semanas de “imersão tecnológicas” nas quais são ministrados os seguintes módulos: Geração, Organização e Produção de Ideias; Game Development; Modelação e Impressão 3D; Produção de Vídeo 360°; Introdução à Programação (Java); Introdução à Programação em RA e RV; Sensores e atuadores; Introdução à robótica, microprocessadores e linguagens visuais de programação; e Inteligência Artificial. Depois, o Seixal Mundo, que representa a escolha e o desenvolvimento das ideias de cada grupo de alunos. E o Seixal Meta, que corresponde a um projeto desenvolvido coletivamente. Os alunos podem optar por participar no curso completo (Escola de Bits & Átomos, Seixal Mundo e Seixal Meta) ou apostar só na formação inicial e no projeto coletivo (Escola de Bits & Átomos e Seixal Meta).
Seixal Mundo
O Seixal Mundo apresenta um programa a três anos, partindo do princípio de que cada estudante participa no Seixal Criativo desde o 10º até ao 12º ano de escolaridade. No primeiro ano, e depois da Escola de Bits e Átomos, segue-se uma sessão de brainstorming de onde surgem as ideias a partir das quais se desenvolve um projeto estruturado. No segundo ano, os alunos dedicam-se ao desenvolvimento do seu protótipo. Durante este segundo ano, no verão, os alunos podem participar no programa de estágio que lhes pretende proporcionar uma primeira experiência na sua área de eleição. O terceiro e último ano é dedicado à consolidação do protótipo, preparação de elementos para apresentações a potenciais investidores e preparação de candidaturas a aceleradoras e outros.
Os projetos em desenvolvimento são variados e “fora da caixa”. Vasos inteligentes que asseguram a longevidade das plantas com base em IA, espaços virtuais seguros para acalmar mentes mais inquietas ou garrafas de água inteligentes são apenas alguns exemplos.
Seixal Meta – Seixal e a Internet do Futuro
Quanto ao Seixal Meta, para jovens do 9º ao 11º ano, está a ser desenvolvido um projeto designado Seixal Aumentado, que permitirá o envolvimento dos alunos do Seixal Criativo na criação de conteúdos e pontos de interesse (TAG) diversos, criando a base para uma plataforma de informação e conhecimento do concelho em constante evolução – o objetivo é explorar conteúdos associados ao município do Seixal. Além da app, será igualmente desenvolvida uma base de dados para armazenamento da informação e um front office on-line para gestão da informação.
Seixal Criativo nas Escolas
Já o Seixal Criativo nas Escolas, para jovens do 7º ao 12º ano, foi além da oferta formativa no Espaço do Seixal Criativo e a partir de 2024 o projeto passou também a deslocar-se às escolas do concelho através do subprojeto Seixal Criativo nas Escolas, em que, durante o período normal de uma aula, o Seixal Criativo ministra módulos de formação idênticos aos da Escola de Bits & Átomos, mas adaptados ao contexto de aula. Os alunos podem assim desfrutar de formação em desenvolvimento de jogos, modelação e impressão 3D, digitalização 3D para impressão 3D e muito mais. Já participaram no Seixal Criativo nas Escolas mais de quatrocentos alunos.
O presidente da autarquia seixalense, Paulo Silva, confessa que o projeto Seixal Criativo superou as expectativas. O número de alunos inscritos, os prémios atribuídos, os oradores recebidos e os projetos desenvolvidos provam que a iniciativa é um sucesso, deixando antever um futuro brilhante
Como nasceu a ideia de tornar possível um projeto com a dimensão e a ambição do Seixal Criativo?
O Seixal Criativo é um projeto pioneiro em Portugal que arrancou no concelho em março de 2023, sendo, numa primeira fase, dirigido apenas a alunos do 10.º ano de escolaridade, designado Seixal Criativo – Escola de Bits e Átomos. Começou com 80 estudantes, como um centro de aprendizagem e experimentação baseado em projetos nas áreas da ciência e tecnologia. Esses primeiros alunos dividiram-se, posteriormente, em grupos de trabalho para o desenvolvimento de projetos. O facto de a sua frequência ser gratuita e em horário pós-escolar acabou também por atrair os jovens e as suas famílias, democratizando o acesso a conhecimentos sobre tecnologias, pilar de uma Internet em constante mutação, e dotando-os de bases científicas e tecnológicas de fronteira. No fundo, o que presidiu à sua criação foi a pretensão de capacitar os jovens para enfrentarem os desafios do futuro, tornando-os mais capacitados para virem a ser excelentes profissionais e uma fonte de atratividade para as empresas.
O Seixal Criativo tem vindo a crescer bastante e tornou-se numa referência no país. Pode contar-nos como aconteceu esse crescimento exponencial?
Sim, tem até superado as expectativas iniciais. Logo em 2024, o Seixal Criativo cresceu, não só porque estendeu as inscrições a alunos do 9.º e 11.º ano de escolaridade, mas também porque passou a possibilitar a escolha entre dois tipos de cursos, um virado sobretudo para o contacto com as novas tecnologias e outro para a conceção de projetos em grupo, nomeadamente: o Seixal Criativo I – Escola de Bits e Átomos, Meta Seixal e Seixal Mundo – para alunos do 10.º ano; e o Seixal Criativo II – Escola de Bits e Átomos e Meta Seixal – para alunos do 9.º, 10.º e 11.º ano. Além disso, em 2024, tornámos possível às escolas receberem módulos de formação dirigidos a alunos a partir do 7.º ano, o chamado Seixal Criativo nas Escolas, com módulos de formação, ministrados em horário escolar, de acordo com as necessidades e escolhas de cada estabelecimento de ensino. Por fim, também nesse ano, iniciámos as Conferências Seixal Criativo destinadas a alunos e ao público em geral.
Foi então um crescimento galopante?
Sim, de certa forma. Mas o grau de aceitação foi tão elevado que tivemos de começar, desde logo, a desbravar caminho e a abrir o projeto a novas possibilidades. Reparem que, de um momento para o outro, começámos a assistir à criação de protótipos de drones, jogos virtuais, modelação tridimensional e muitos mais projetos visionários e futuristas. É verdadeiramente fascinante a entrada neste novo mundo. Por isso, e voltando à questão que faz, este crescimento acabou por acontecer naturalmente. Neste momento, temos muitos grupos de alunos com projetos em diferentes fases de evolução, mas o curioso é assistir às várias formas de cooperação e de entreajuda entre todos eles.
Ao nível do reconhecimento público, o Seixal Criativo já foi inclusive premiado.
O Seixal Criativo recebeu uma distinção na categoria Responsabilidade Social nos prémios Os Melhores & As Maiores do Portugal Tecnológico 2023, atribuídos, pelas revistas Exame Informática e Visão, a empreendedores, inovadores e empresas na área da ciência e tecnologia. Mas o reconhecimento não vive só de prémios e, no verão passado, pela primeira vez, 27 alunos foram integrados em estágios em empresas de reconhecida valia a nível nacional, nas mais diversas áreas, nomeadamente: programação; arquitetura e design; bioquímica; gestão; arquitetura paisagista; design e engenharia mecânica; criação de hardware; hardware e programação; criação digital; astronomia; veterinária; medicina; comunicação e marketing. Imaginem um jovem do secundário a desenvolver competências ao lado dos melhores!
A outra mais-valia são os oradores que convidam. Têm vindo ao Seixal verdadeiros mestres nas mais diversas áreas, concorda?
Sim. É outra aposta ganha. Já trouxemos ao concelho todo o tipo de especialistas, alguns de renome mundial. Falo de John Filipe, realizador e criativo; César Barbosa, cofundador português da startup Tuga Innovations que desenvolveu o modelo do Tuga, protótipo de um veículo 100% elétrico fabricado em Portugal; Haydn Rigby, responsável pelo Spirit of London – organização sem fins lucrativos que apoia e distingue os jovens do Reino Unido nas áreas das artes, media, desporto e educação. Convidámos igualmente Mariana Santos, editora da infografia nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, e fundadora da organização sem fins lucrativos Chicas Poderosas; Fábio Seidl, diretor de desenvolvimento criativo global da Meta, em Nova Iorque; Ken Pimentel, diretor da EPIC Games e, entre muitas outras coisas, criadora do jogo Fortnite; Henrique Cayatte, designer e professor na Universidade de Aveiro; João Gandra, responsável por projetos de investigação e desenvolvimento na Agência Espacial Europeia; Júlia Seixas, pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa, que coordena a área da sustentabilidade e a plataforma NOVA 4 The Globe. Também Duarte Araújo, apelidado de “cientista do desporto”, tendo trabalhado com Pep Guardiola e José Mourinho; Luís Bravo Martins, que tem mais de 20 anos de experiência em marketing digital e no desenvolvimento de projetos e produtos de realidade aumentada; Theo Fernandes, consultor sénior e docente na Universidade Nova de Lisboa; e Ana Pinheiro, diretora de investigação na Universidade de Illinois nos EUA, já nos visitaram.
Clubes criados de acordo com os gostos de cada aluno. Conferências nas quais os alunos são convidados a partilhar o estado de cada um dos seus projetos, treinando também as suas soft skills. Uma gala, no fim de cada ano com oradores internacionais, em que os estudantes do Seixal Criativo apresentam à comunidade os seus projetos. Tudo isto é o Seixal Criativo e tudo isto leva alunos e pais à iniciativa. Por isso, quisemos ouvir alguns dos intervenientes do Seixal Criativo e começamos por Camila Fernandes, 18 anos, que frequenta o 12.º ano da Escola Secundária Alfredo dos Reis Silveira, e que faz um balanço “bastante positivo” da sua participação no projeto, no qual está desde o início. “Por um lado, é incrível ver a evolução dos projetos, por outro, criam-se elos de ligação, de entreajuda, mesmo entre alunos com projetos diferentes. E depois, com a entrada de novos alunos a cada ano, a dinâmica muda, mas há sempre um bom ambiente”, assegura.
Guilherme Santos, 17 anos, a frequentar o 11.º ano na Escola Secundária José Afonso, está integrado num grupo que está a desenvolver o projeto Sonosphere, um robô inteligente com a função de estimular suavemente o utilizador, de modo a ajudar em períodos de insónia, usando um projetor e uma caixa de som com uma interface customizável. Questionado se acreditava que seria possível fazer projetos como o Sonosphere, responde que sempre pensou que a parte das tecnologias “era mais dedicada aos adultos e a pessoas com maior formação e o Seixal Criativo prova o contrário”. “Tem sido mesmo incrível, fiz novos laços, ajudamo-nos uns aos outros e ainda temos também os projetos dos clubes de robótica e de programação”, detalha.
Já Catarina Ginga, 15 anos, que frequenta o 10.º ano na Escola Secundária Manuel Cargaleiro, explica que o que a atraiu no projeto foi “a parte da programação”. “Eu estudo Humanidades, mas já pensei em seguir Ciências, Gestão, tudo e mais alguma coisa. Gosto de experimentar tudo para perceber o que gosto e não gosto, e para me abrir asas”, conta.
No passado dia 18 de fevereiro o Seixal Criativo recebeu Ana Pinheiro, atual diretora de Investigação na Universidade de Illinois, para uma aula aberta. Ana Pinheiro estudou na NOVA e no MIT. Foi investigadora na NASA e NOOA, chief data scientist for climate na Casa Branca – com o presidente Obama – e liderou a Sustainable Data Initiative na Amazon.
A aula aberta foi destinada aos estudantes do Seixal Criativo e seus encarregados de educação e na conversa, moderada por António Câmara e Edmundo Nobre, os presentes ficaram a conhecer melhor o percurso académico e profissional da preletora, bem com a sua experiência de trabalho fora do país e em áreas de fundamental importância e de vanguarda. No final da conversa Ana Pinheiro “visitou” cada um dos grupos de estudantes do Seixal Criativo para conhecer os projetos e deixar alguns conselhos para o futuro.
Paulo Silva, presidente da Câmara Municipal do Seixal frisou que momentos como este são a verdadeira alma do Seixal Criativo. A oportunidade dos estudantes e das suas famílias conhecerem de perto portugueses com carreiras internacionais de relevo, inspirando-se nesses especialista é ímpar.