Nasceu de um projeto de investigação e aposta na inovação. A EcoX converte óleos alimentares usados em detergentes e quer ser a marca de referência de produtos sustentáveis de higiene
13 de fevereiro de 2025 às 09:18O vencedor da terceira edição do SME EnterPRIZE – Prémio de Sustentabilidade para PME foi a EcoX, uma empresa nascida no âmbito da Universidade de Coimbra, com um forte ADN de inovação, e que está sediada em Penela. A EcoX usa uma fórmula inovadora para transformar óleos alimentares usados em sabão e detergentes líquidos para uso doméstico e profissional, apostando num modelo de economia circular. Falámos com César Henriques, CEO da EcoX, à margem da cerimónia da entrega de prémios.
Como é que surge a EcoX?
O projeto EcoX surgiu a partir da minha atividade de investigação enquanto estava na Universidade de Coimbra. Nessa altura identifiquei a oportunidade de valorizar resíduos utilizando-os para produzir detergentes. Lembro-me de ler uma notícia sobre alguém que fazia detergentes ou sabões a partir do azeite, e de ter achado estranho usar um bem de primeira necessidade para esse fim. Fazia muito mais sentido utilizar um resíduo, nomeadamente óleo alimentar usado. A partir dessa ideia procurámos experimentar e inovar até que desenvolvemos uma tecnologia inovadora, própria, que patenteámos.
A matéria-prima para os vossos produtos chega através dos circuitos de reciclagem?
Sim, exatamente. Existem circuitos de reciclagem já estabelecidos. O óleo alimentar usado é um resíduo que, para ser reaproveitado, precisa de ser tratado por operadores especializados. Eles fazem essa recolha e transformação.
Como é que foi o percurso da investigação para o empreendedorismo até criarem um negócio?
O espírito académico, de investigação, continua a existir na empresa, até no nome EcoXperience. Nos primeiros passos para criar a empresa e entrar no mercado foi muito importante o apoio do Instituto Pedro Nunes, enquanto incubadora da Universidade de Coimbra. Nesse processo, encontrámos os desafios típicos das startups, como obter financiamento e encontrar parceiros estratégicos. Felizmente, conseguimos estabelecer parcerias não só financeiras, mas também de negócio, que nos ajudaram a crescer de forma mais rápida e a evitar erros comuns no empreendedorismo. O grupo MSTN e, mais tarde, o grupo Sovena, foram fundamentais neste percurso.
Quais serão os próximos passos? Vão diversificar, internacionalizar?
Neste momento temos produtos para a casa, para a roupa, para a loiça, e até para higiene pessoal. E oferecemos soluções tanto para uso doméstico – desde pequenas a grandes famílias – como para o setor profissional, incluindo hotéis, restaurantes, lavandarias, IPSS e a economia social. Nos últimos anos, temos ampliado a nossa gama de produtos ouvindo o mercado e inovando constantemente. E se nos últimos cinco anos temos estado no mercado nacional, agora estamos a olhar para mercados internacionais.
Como se posicionam no mercado e que tipo de clientes vos procuram?
Uma outra característica nossa é que consideramos que não há outra forma de estar senão ser sustentável. Inicialmente, direcionámos a nossa estratégia para os consumidores que já estavam sensibilizados para a sustentabilidade. A partir daí, alargámos o público-alvo, utilizando esses clientes como promotores da marca. O que diferencia o nosso produto é o facto de valorizarmos um resíduo e de sermos a única empresa, a nível mundial, a utilizá-lo para produzir detergentes. Além disso, temos uma aposta contínua na inovação, na proximidade com o cliente e na melhoria dos produtos, que é uma vantagem competitiva.
Portanto, a sustentabilidade é uma vantagem competitiva para a EcoX?
O nosso compromisso genuíno com a sustentabilidade é um fator diferenciador. Não utilizamos a sustentabilidade apenas como um chavão de marketing. Escolhemos conscientemente os materiais das embalagens, a matéria-prima, e fugimos do "greenwashing". Hoje em dia, tudo é "eco", mas nós queremos ir além disso. O nosso objetivo é sermos a marca de referência em produtos de higiene sustentáveis de confiança, em Portugal e na Europa.
Para quem quer construir um negócio baseado na sustentabilidade, que conselho daria?
Acho que o mais importante é que a sustentabilidade não pode ser apenas um requisito ou uma obrigação legal. Tem de estar no ADN da empresa e da sua gestão. Hoje, fala-se muito em sustentabilidade devido às exigências de reporte e regulatórias, mas eu acredito mais na sustentabilidade que nasce de raiz, com um propósito genuíno. Muitas empresas estão a fazer a transição agora porque são obrigadas, e isso é positivo. Mas acredito mais na sustentabilidade como algo natural, que faz parte da visão do empreendedor e da equipa.
O que representa para a EcoX vencer este prémio?
Para nós, é ótimo em termos de visibilidade e credibilidade, mas é sobretudo mais uma responsabilidade. Temos de representar Portugal a nível europeu e queremos, obviamente, ganhar, porque acredito que o projeto que trazemos aqui tem um grande potencial de sucesso a nível internacional.