Em Portugal existem 1,3 milhões de PME, que representam 99,9 % do total de empresas e empregam 3,3 milhões de pessoas (dados Pordata), o que mostra bem a enorme importância destas empresas para o país. Neste contexto, a diversidade do nosso tecido empresarial de PME também ficou patente no extraordinário conjunto de empresas que foram distinguidas no SME EnterPRIZE | Prémio Europeu de Sustentabilidade para PME. A cerimónia de atribuição dos prémios da segunda edição decorreu no dia 11, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Sustentabilidade é transversal
Numa iniciativa da Tranquilidade Generali, em parceria com a Sábado e o Correio da Manhã, com o apoio da EY como knowledge partner, esta segunda edição juntou à dimensão ambiental a vertente social dos projetos de sustentabilidade que podiam ser apresentados pelas empresas. O vencedor este ano foi a Miranda & Irmão, empresa de Águeda que lidera na produção de componentes sustentáveis para bicicletas das melhores marcas mundiais. As menções honrosas foram para a Valérius, com um projeto único de reaproveitamento dos desperdícios da produção têxtil e do vestuário que vai para o lixo, e para o Neya Porto Hotel, um estabelecimento construído de raiz para a sustentabilidade, e que também se diferencia pelas boas práticas neste âmbito.
Economia social
A vertente social da sustentabilidade foi justamente o tema da conversa que teve lugar, na abertura do evento, entre Teresa Ricou, fundadora do Chapitô, e Sofia Santos, CEO da consultora de sustentabilidade Systemic. O Chapitô é um projeto com 40 anos. O que era uma ideia excêntrica no Portugal logo após o 25 de Abril, tornou-se numa ONG para o desenvolvimento, com uma forte atividade nas vertentes de formação, ação social, cultura e economia social. Na base de tudo "uma ideia de construção de uma sociedade melhor, uma vontade e uma energia muito grande para juntar pessoas, arriscar, ser criativo, com um propósito de unir, e inserir pessoas na sociedade", conforme explicou Teresa Ricou.
No entanto, confessou "uma grande inquietação. Estamos no meio de grandes mudanças. Não é claro quais são os novos modelos e mestres a seguir, mas o caminho é sempre tentar, fazer, trabalhar para que as coisas mudem para melhor".
Sustentabilidade como desafio
Para fazer um ponto da situação destas transformações, no que diz respeito à sustentabilidade nas empresas, em particular nas PME, a Tranquilidade Generali juntou, para um painel de debate, João Barata, chief insurance officer da seguradora, Luisa Schmidt, socióloga e coordenadora do Observatório de Ambiente, Território e Sociedade, Nuno Gonçalves, vogal do IAPMEI, e Sofia Santos, CEO da consultora Systemic.
A questão dos desafios que as PME enfrentam para cumprir o desígnio da sustentabilidade esteve no centro da conversa. Neste contexto, para João Barata, a atividade seguradora é essencial para a sustentabilidade da empresa segurada, através do reforço da sua resiliência e da assunção dos seus riscos. No entanto, para além dos seus próprios objetivos de sustentabilidade, um grande grupo como a Generali tem muitas formas de incentivar a sustentabilidade: como cidadão, como empregador, como segurador, e como investidor, cumprindo o seu papel de cidadania responsável, sublinhou o chief insurance officer.
Comunicar mais e melhor
Na sua intervenção, Luisa Schmidt considerou que é importante que as empresas tenham, desde o início da atividade, uma perceção global da sua sustentabilidade, desde os recursos que consomem até ao desperdício e às emissões que geram. Uma outra questão apontada pela socióloga é o défice que ainda existe de comunicação dos esforços de sustentabilidade, por parte das PME, o que torna iniciativas como este prémio particularmente pertinentes.
Para Luisa Schmidt "é muito importante que haja cada vez mais comunicação para assumir e difundir as medidas de sustentabilidade que muitas empresas estão a tomar. E isso muitas vezes não acontece". Na sua perspetiva, "há PME com experiências muito interessantes, que deviam projetar mais essas práticas e criar a sua marca de sustentabilidade. É necessário que as empresas tirem partido dessas medidas e sejam muito mais eficazes e proativas na divulgação e na comunicação das suas práticas de sustentabilidade".
Colaboração é essencial
Já para Nuno Gonçalves, vogal do IAPMEI, a tarefa mais urgente é a mudança cultural nas empresas, que ligou à necessidade de uma nova mentalidade da parte das lideranças, e de uma maior capacitação dos colaboradores das empresas, e das próprias lideranças, através de formação específica.
Na mesma linha, este responsável sublinhou a importância do trabalho em colaboração. "Trabalhar em conjunto é fundamental para atingirmos resultados com eiciência e com eficácia. E em Portugal temos todas as condições para o fazer. Temos agências, como o IAPMEI, com um trabalho muito expressivo nesta área. Temos associações empresariais empenhadas e centros tecnológicos bem apetrechados que podem apoiar as empresas. E temos instrumentos financeiros – públicos e privados – cada vez mais alinhados com os objetivos de desenvolvimento sustentável", referiu.
A necessidade de uma nova mentalidade e de uma aposta na formação foi também reforçada por Sofia Santos. A sustentabilidade social e ambiental de uma empresa devem tornar-se verdadeiras prioridades das empresas, a par com a sustentabilidade financeira, o que, na sua opinião, ainda não é o caso.
Sustentabilidade como imperativo
O painel fechou o debate com um consenso sobre a existência de uma dinâmica favorável a um maior empenho das empresas na sustentabilidade. Na troca de impressões, cada um dos participantes no painel identificou forças que impulsionam essa mudança positiva. Desde o reforço da legislação ao alinhamento dos incentivos governamentais, passando pela maior sensibilidade a este tema por parte das novas gerações e dos segmentos com maior escolaridade, quer como consumidores, quer como dirigentes e colaboradores das empresas.
Na sua intervenção de encerramento, Pedro Carvalho, CEO da Tranquilidade Generali, também sublinhou esta realidade emergente e a necessidade de alinhamento das empresas com as novas exigências legais, sociais e culturais. Da parte da Tranquilidade, assegurou, "a sustentabilidade é um dos três pilares da estratégia do grupo. Nós acreditamos que pessoas, planeta e negócios têm de ser sustentáveis, têm de estar alinhados, e é por isso que vamos continuar a tomar iniciativas que reforçam o nosso compromisso com a sustentabilidade em Portugal".