António Vitorino: Europa contribuiu para agravar a crise
Antigo comissário recusa a confusão entre migrantes e terroristas.
A Europa contribuiu para o agravamento da crise migratória ao reduzir significativamente as contribuições para as agências da ONU que gerem os campos de refugiados nos países vizinhos da Síria, criticou o ex-comissário europeu António Vitorino.
"É com alguma mágoa que tenho de dizer isto, mas mais do que demorar tempo a agir, a Europa também tem responsabilidades no agravamento da crise", disse o ex-comissário europeu (1999-2004) em entrevista à Lusa.
"Se compararmos os números de 2014 com os números de 2015, verificamos que houve uma redução significativa da contribuição financeira, quer da União Europeia quer dos Estados membros, para o Alto Comissariado dos Refugiados (ACNUR)", responsável pelos campos de refugiados na Turquia, Líbano e Jordânia, que acolhem cerca de 4 milhões de sírios.
O antigo comissário defende que a Europa precisa de imigração legal pelo impacto positivo que tem na economia de cada país e é "pura demagogia" dizer que os imigrantes são um peso para o Estado social.
Vitorino assegurou não querer "pintar um quadro cor-de-rosa" e ter "perfeita consciência" das tensões sociais que resultam da diversidade étnica, linguística, cultural e religiosa, mas considerou que "as sociedades europeias são suficientemente fortes para enfrentarem esses desafios" e "resistir à pressão populista".
Reiterou ainda que o combate ao tráfico de seres humanos e ao terrorismo faz-se essencialmente pela cooperação entre serviços de informações e embora muito tenha já sido feito, ainda há muito a fazer. Vitorino recusou a confusão entre migrantes e terroristas, referindo por exemplo que "todos os implicados nos atentados de Paris eram europeus", mas admitiu que ninguém pode assegurar que os que entraram em 2015 na União Europeia eram "um milhão de santos".
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