“Torturava-se num canto”: Simão tinha 10 anos quando começou a ser vítima de bullying

Para aliviar a dor que sentia, jovem escreveu uma carta de seis páginas em que relatou os horrores que viveu. Mãe acabou por descobrir.

11 de fevereiro de 2022 às 08:59
Susana Santos
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Simão tinha apenas 10 anos quando começou a ser vítima de bullying por parte de um colega de turma, que considerava ser o seu melhor amigo. Sofreu em silêncio durante um ano e chegou a tentar suicidar-se. Para aliviar a dor que sentia, resolveu escrever uma carta de seis páginas em que relatou todos os horrores que viveu. Escondeu-a no sótão, por entre brinquedos antigos. Foi aí que a mãe a encontrou. Ficou em choque.

"Fiquei desesperada. Sem chão. Ele dizia que era só um ser que ocupava espaço na Terra. Isolou-se muito. Confrontei-o e ele assumiu. Dizia que o agressor lhe chamava ‘burro, feio, inútil, pan...’. Chegou a obrigá-lo a roubar a carteira de um colega", contou Susana Santos. "Ele, para aliviar a dor, agredia-se e mutilava-se. Em casa tinha um cantinho da tortura. Dava murros na cara e no peito. Até arranhava as mãos. A violência do agressor era dia sim, dia sim", frisou ainda.

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Atualmente, Simão tem 14 anos e frequenta o 9º ano numa escola de Vila Nova de Famalicão. O agressor continua a ser seu colega de turma. "O meu filho achou que tinha superado tudo, após várias consultas de pedopsiquiatria, e depois de ter chegado a ser medicado para uma depressão. Mas, afinal, tudo regressou e está novamente em baixo, pois sente que a escola o abandonou. A escola diz que nada pode fazer. E a verdade é que nada fez. Quer que eles sejam amigos pois estamos perante violência psicológica, que é difícil de provar", explicou ainda Susana Silva.

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A mãe do menino diz que os insultos do colega de turma o afetaram de tal forma que chegou a ter de mudar a cor do cabelo. "Ele sentia-se mesmo feio. Não se conseguia olhar ao espelho. Achava que o agressor tinha razão", rematou Susana, que diz ter sido alvo de pressões e ameaças por parte da família do agressor nas redes sociais.

Francisco Soares, Dir. Agrupamento Pinheiro e Rosa

"Objetivo é trabalhar valores"

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CM - Como é que a escola aborda e gere as situações de bullying?

Francisco Pinheiro– Claro que agimos quando acontecem casos pontuais, mas a nossa abordagem é de prevenção. Temos o nosso Gabinete de Psicologia e Orientação Escolar (GPOE), que dá orientações no sentido de prevenirmos o bullying. Também damos palestras com alguma regularidade onde abordamos estes temas.

- Costuma haver casos denunciados com alguma regularidade?

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– É muito raro termos situações de bullying, mas numa escola com muitos alunos claro que acontece. Aí, o nosso GPOE entra em ação e visamos não só os agressores como também as vítimas. Lidar com casos destes faz parte das nossas funções e temos um conjunto de valores e princípios que devem ser trabalhados consoante determinadas idades dos alunos.

- Que outro tipo de ações têm para a prevenção?

– Além das palestras, fazemos também atividades dentro das salas de aula. Trabalhamos não só o bullying como vários problemas da sociedade.

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Jovem presa por ciberbullying

Uma jovem de 19 anos foi constituída arguida pela GNR pelo crime de ciberbullying, na Póvoa de Lanhoso. A mulher está indiciada dos crimes de coação, perseguição e perturbação da vida privada em ambiente escolar. Através das redes sociais, criava perfis falsos com o objetivo de criar medo e inquietação contra outros jovens da escola. Foi ainda possível apurar que, em sites e plataformas de encontros amorosos, colocava o número de telemóvel de outros alunos para causar mal-estar psicológico.

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