Desembarcar em Pyongyang é a experiência mais próxima da entrada numa máquina do tempo que nos faz recuar várias décadas. Aqui tudo é antigo: as roupas, os escritórios, os livros de registo, os cortes de cabelo. E a ideologia.
Há pouca luz no barracão do aeroporto, mas a suficiente para iluminar os dois quadros com as fotos retocadas dos líderes Kim Il-sung e Kim Jong-il. Durante os dias de visita, esta será uma imagem permanente em murais revolucionários, nas fachadas dos edifícios, nos gabinetes da universidade, nas carruagens do metro ou nas lapelas de homens e mulheres.
Uma coisa impossível de ignorar é o culto dos líderes que perpetuam o regime autocrático, obstinado e sanguinário. A outra é a do rosto triste, quase inexpressivo, dos norte-coreanos.
Os norte-coreanos dizem que as estações da envelhecida rede de metro "são as mais profundas do Mundo". O que não explicam é que este recorde tem um objetivo: em caso de conflito estes são os bunkers de Pyongyang.
O único palco onde a encenação é assumida monta-se sazonalmente no estádio 1º de maio onde decorre o esmagador Festival Arirang. São mais de 100 mil participantes, cerca de metade crianças, que exortam os feitos da Coreia do Norte perante meia dúzia de estrangeiros e uma bancada cheia de membros da ‘nomenklatura’ coreana.
Jantar num dos dois ou três restaurantes destinados aos turistas para provar o tradicional Pansanggi de 11 pratos obriga a cruzar uma cidade mal iluminada. Há casas às escuras e nas ruas homens e mulheres aproveitam os candeeiros públicos para ler de pé. E há medo. Isso até numa curta visita se percebe. Por muito que a propaganda do regime continue a vender a Coreia do Norte como "o país mais feliz do Mundo".