Marcelo lembra José Mário Branco como um "lutador" e "uma voz inconfundível" da geração de Abril

Presidente da República refere que tentou condecorar o músico em vida, mas que este recusou.

19 de novembro de 2019 às 12:13
Marcelo Rebelo de Sousa Foto: Tiago Petinga/Lusa
José Mário Branco Foto: Micaela Neto / Sábado
José Mário Branco Foto: Mariline Alves
José Mário Branco Foto: Mariline Alves
José Mário Branco: “Portugal é a Madeira da Europa” Foto: João Miguel Rodrigues

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O Presidente da República lamentou esta terça-feira a morte do músico José Mário Branco, aos 77 anos, lembrando-o como "um lutador" na oposição à ditadura e depois da revolução e uma voz "inconfundível" de uma "geração de Abril".

Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa descreveu José Mário Branco como alguém "sempre insatisfeito", para quem "havia uma parte de Abril que estava por realizar" e que, por isso, "continuou sempre a ser portador dessa insatisfação".

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"E, nesse sentido, foi um símbolo de resistência, um símbolo de luta, um símbolo de esperança e um símbolo de permanente exigência à democracia portuguesa", considerou o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa manifestou "consternação" pela morte do compositor e cantor, "apesar de tudo, tão cedo" e expressou-lhe "reconhecimento", por ter sido "um lutador na resistência durante a ditadura" e também "um lutador na revolução" e "depois da revolução".

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No seu entender, "a obra foi muito importante, foi importante musicalmente, mas nele a música não se distinguia da luta e, nesse sentido, foi importante para a construção da democracia".

"E mesmo pessoas que se encontravam em quadrantes muito diferentes do seu quadrante - era o meu caso, na altura da revolução e nos tempos que se lhe seguiram - mesmo para todos esses, ele era uma referência, porque nunca desistiu de lutar pelas suas convicções", acrescentou.

O Presidente da República expressou também "gratidão" a José Mário Branco, afirmando que "ele marcou, com outras figuras, uma geração única" a que se pode chamar "geração de Abril", em que eram "todos muito diferentes, mas todos muito iguais naquilo por que lutaram.

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Segundo o chefe de Estado, "José Mário Branco era inconfundível, inconfundível na sua voz, inconfundível na sua independência, na sua rebeldia, na sua não acomodação".

"Nunca aceitou honrarias, nunca aceitou condecorações em vida", assinalou, referindo que tentou condecorar José Mário Branco em vida, mas que "ele, com a sua independência, avesso a esse tipo de reconhecimentos, sempre recusou".

Quanto a uma futura condecoração póstuma, Marcelo Rebelo de Sousa não excluiu essa possibilidade, mas ressalvou que "depende agora da família, dos seus mais próximos", e admitiu que queiram "ficar fieis à sua vontade, o que é respeitável".

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Nascido no Porto, em 25 de maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 60, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.

O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro. Regressado a Portugal, depois do 25 de Abril de 1974, foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, como Camané e Amélia Muge.

Em 2018, José Mário Branco completou meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, gravados de 1971 a 2004.

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