Estreia de cinema: Uma história de reconciliação
Filme chega às salas nacionais com dois prémios internacionais.
Um antigo combatente do Ultramar, racista, dá entrada num lar de idosos e tem, como cuidadora, uma mulher negra. É o ponto de partida para o filme ‘A Memória do Cheiro das Coisas’, que o realizador António Ferreira diz ter começado a idealizar após “o assassinato, em plena luz do dia, do ator Bruno Candé”, em 2020. “O assassino era um enfermeiro reformado, com uma vida estável, que se desgraçou com um ato de ódio que nos chocou a todos”, lembra o cineasta. “Comecei a desenhar a personagem principal do filme a partir daí: seria um homem que esteve na guerra colonial e que integrou o discurso de Salazar, retendo – como muitos – a convicção de que é preciso olhar para o negro como o inimigo.”
Na pele desse homem, Arménio, está o ator José Martins, cujo brilhante desempenho lhe valeu o Prémio de Melhor Ator do Festival Internacional de Cinema de Xangai, na China. A dar-lhe a contracena, Mina Andala (Hermínia, a cuidadora). A ação do filme leva-nos do choque do primeiro encontro, até à compreensão mútua, ao respeito e, finalmente, ao afeto – que terá uma manifestação comovente, talvez polémica. António Ferreira diz que “o que faz falta nesta sociedade em que estamos entricheirados, a apontar o dedo uns aos outros, é a empatia”.
“O filme quer pôr as pessoas a comunicarem. Só quando nos sentarmos à mesa uns com os outros e conversarmos é que vamos perceber que, afinal, a desconfiança só existe por falta de conhecimento do outro e que, no fundo, todos temos as mesmas necessidades”, conclui o realizador, que é também co-argumentista com Tiago Cravidão (contemplados com uma Menção Honrosa para Melhor Argumento no Festival de Cinema de Tânger).
‘A Memória do Cheiro das Coisas’ chega amanhã às salas de cinema.
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