Cronenberg filma com Keira Knightley

David Cronenberg é um dos grandes nomes do Estoril Film Festival, onde terça-feira, dia 10, mostrou ‘Crash’ ao público . Ao CM revelou que vai filmar com Keira Knightley, que adora motas e que está a escrever um romance.

16 de novembro de 2009 às 12:59
Cronenberg filma com Keira Knightley Foto: Tiago Sousa Dias
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Correio da Manhã - É a sua primeira visita a Portugal?

David Cronenberg - É. Cheguei domingo e estive sempre por aqui pelo Estoril, andei à beira-mar e estive em muitos restaurantes, todos muito bons, devo dizer. Do que vi, acho tudo muito bonito.

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- Tem alguns planos para visitar Lisboa?

- Ainda não fui lá e claro que quero ir. Quando estamos num país novo, só o facto de andar pelas ruas é fantástico e é o que pretendo fazer.

 

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- Para além do festival, o que quer fazer?

- Para mim, vaguear pelas ruas é mesmo o melhor. A partir de amanhã vou para Lisboa passear com a minha mulher.

No Festival, exibem quase toda a sua filmografia. Vai aproveitar para rever algum dos seus filmes? E qual o seu favorito?

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- Não, já os vi. Não volto a eles e não tenho opinião sobre o melhor ou o pior dos meus filmes porque seria como escolher entre os meus filhos. Além disso, não consigo olhar objectivamente para os meus filmes como objectos de arte porque me lembro mais da experiência que foi fazê-los e portanto não consigo apreciá-los como um filme, como espectador. É mais como se fossem documentários do que eu estava a fazer naquele momento.

 

- Mas vai voltar a um filme seu, ‘A Mosca', para fazer uma nova versão...

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- Acordei que iria escrever e produzir uma nova versão do filme mas não sei se serei eu a realizá-la. Depende...

 

- Depende de quê?

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- Se o vou querer ou não fazer. O argumento ainda não está escrito e depende de se o achar verdadeiramente interessante.

 

- Mas já escreveu ‘Cosmopolis' (a partir do livro homónimo de Don DeLillo) e vai co-produzi-lo com Paulo Branco. Como é que surgiu esse projecto?

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- Conheci o Paulo no Festival de Cannes, e sabia que ele tinha feito muitos filmes, inclusive do Manoel de Oliveira. Em 1999, estava no júri de Cannes e vi ‘A Carta' e demos-lhe um prémio pelo filme. Então o Paulo falou-me desse projecto e eu disse ok...

 

- E quem interpretará o protagonista, Eric Parker?

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- Ainda não sabemos nada dessas coisas. Temos umas ideias mas esse não será o meu próximo filme. Talvez daqui a dois filmes...

- O próximo é o ‘Matarese Circle', com Denzel Washington?

- Talvez não já. Porque os estúdios MGM estão com problemas financeiros e por isso, agora, todos os filmes deles estão como que no limbo. Nem sei se vai chegar a ver a luz do dia ou não... O próximo filme que farei será ‘Talking Cure', sobre Sigmund Freud e Carl Jung e o nascimento da psicanálise. Vai ser produzido pelo britânico Jeremy Thomas. O argumento é do Christopher Hampton e é baseado na peça dele.

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- Quem protagoniza?

- Ainda estamos a falar com os actores mas a Keira Knighley será a protagonista. Jung e Freud tinham uma relação interessante como colegas e o Jung tinha uma paciente, Sabina Spielrein, com quem depois teve um romance, e a história é sobre os três. É uma história fantástica.

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- No Estoril, pretende ver filmes?

- Não. Fico cá até quinta e, para mim, vir a um país novo e enfiar-me num cinema a ver filmes é um pouco estranho.

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- E já viu mais filmes portugueses?

- Muito poucos. Porque não têm distribuição no Canadá.

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- Sempre viveu em Toronto. Nunca pensou mudar-se para Nova Iorque ou Los Angeles?

- Não. Sinto-me muito canadiano, a meio caminho entre Hollywood e a Europa. E os meus filmes são um pouco isso. Sinto-me inspirado pelo país e gostava de continuar a fazer filmes no Canadá.

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- Há mais qualidade de vida lá?

- Não me sinto nada americano. Sinto-me estrangeiro e fora de casa nos EUA. Los Angeles, por exemplo, está tão focado na indústria cinematográfica e isso, para mim, não é saudável. Em Hollywood tudo gira à volta do cinema em Toronto não é tão intenso.

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- Não. Tenho três filhos (Cassandra, Caitlin e Brandon), dois netos e faço outras coisas que não filmes.

 

- Ouvi dizer que costuma andar de vespa...

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- Sim. e tenho Ducatis (motas de competição). Gosto de motos. A vespa é nova, sempre gostei de ter uma e agora que tenho é óptimo porque estaciono, em Toronto, onde quero e de borla. Para estacionar é bom, mas com o trânsito não tanto.

 

- Os seus filhos também trabalham em cinema...

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- A minha filha mais velha (Cassandra) era assistente de realização, trabalhou muito comigo mas agora tem dois filhos e já não trabalha no cinema. Os outros dois, de momento, não trabalham nos sets. A Caitlin está a fazer fotografia de moda e o Brandon está a estudar filosofia na Universidade.

- O seu pai era jornalista e a sua mãe pianista. Como se tornou realizador?

-Nunca pensei tornar-me realizador. Sempre pensei que ia ser escritor. Escritor de livros obscuros. Até me surpreendo por me ter tornado realizador. Mas estou a escrever um livro agora.

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- Chamam-lhe o ‘Barão do Sangue'. É pela violência e tom visceral dos filmes? O que pensa disso?

- Isso são as pessoas a inventar. Eu acho que os meus filmes são comédias. Mesmo o ‘Promessas Perigosas' e ‘Uma História de Violência', apesar de serem filmes de gansgters e terem violência, têm muitas partes com humor.

- Esta é a sua primeira visita a Portugal. Alguma hipótese de vir a filmar em Portugal?

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- Gostava muito. Sobretudo ao pé do mar. consigo imaginar-me facilmente a filmar aqui. Mas os realizadores, hoje, vão filmar onde há dinheiro. Quando se faz filmes artísticos e independentes não temos os mesmos orçamentos de Hollywood por isso...

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