Jamais desafiaria a Igreja
Depois da polémica com a Igreja Católica, que a proibiu de actuar no concerto de Natal do Vaticano, a cantora Daniela Mercury está de volta ao activo – e às raízes da música brasileira – com o álbum ‘Ballet Mulato’.
Correio da Manhã – O Vaticano proibiu-a de cantar no Concerto de Natal. Já está refeita da situação?
Daniela Mercury – O Vaticano temia que eu aproveitasse o concerto para defender o uso do preservativo como meio de prevenção da sida, uma das minhas causas. Se me conhecessem melhor, sabiam que nunca faria tal coisa, porque respeito profundamente a Igreja Católica e o Papa, além de ser uma mulher diplomática. Jamais desafiaria a Igreja. Fiquei muito sentida e não gostei da falta de cortesia na forma como anunciaram o cancelamento do meu espectáculo. Mas, pelo menos, ficámos a saber a Igreja que temos. Ainda assim, continuo a ser católica, porque acredito que a única coisa que Deus espera de nós é amor, compreensão e respeito.
– E também continua a dar a cara em campanhas de prevenção da sida...
– Acredito no diálogo como meio de encontrar soluções para o mundo. Gostaria muito que o Vaticano tivesse outra posição em relação ao flagelo da sida, mas não é por isso que vou deixar de defender o uso do preservativo. A cada minuto, uma criança e quatro jovens são contaminados com o vírus. Todos nós, como cidadãos, temos de lutar contra isso.
– No Brasil, o disco ‘Ballet Mulato’ é considerado um dos melhores da sua carreira. Que ingredientes lhe juntou?
– Talvez o meu domínio sobre os arranjos e as texturas acústicas sejam mais evidentes neste disco. ‘Ballet Mulato’ é sofisticado, aconchegante e orgânico. Tem canções muito fortes, como ‘Topo do Mundo’ e ‘Levada Brasileira’.
– É um disco de regresso às raízes, no qual se afasta da electrónica experimentada no anterior trabalho.
– O disco electrónico foi uma experiência boa, com o objectivo de pôr a minha música a tocar nas discotecas. Tinha consciência de que era um projecto ‘estranho’ para o meu público, mas houve músicas que resultaram muito bem. Agora, estou de regresso ao que melhor sei fazer.
– Também é um álbum ecléctico, onde até canta um tema rock...
– É o tema ‘Nem Tudo Funciona de Verdade’, um rock contundente, pesado, cheio de significado. Já tinha cantado músicas rock nos meus espectáculos (dos Legião Urbana), mas nunca tinha gravado. Desta vez arrisquei.
– Quando regressa a Portugal para espectáculos?
– Entre Abril e Maio. Ainda estou a decidir se vou fazer espectáculos em nome próprio no Porto e em Lisboa ou se vou participar no Rock in Rio. Além das novas músicas, vou resgatar para os concertos outras mais antigas como ‘Sol da Liberdade’ e ‘Feijão com Arroz’, temas que têm a mesma linguagem de ‘Ballet Mulato’.
A carreira musical de Daniela Mercury iniciou-se nos Companhia Clic, banda pop com a qual editou dois álbuns. ‘Swing Da Cor’ (1991), o seu primeiro disco a solo, alcançou grande popularidade no Brasil. Desde então, já editou dez álbuns e gravou com nomes como Jovanotti, Rosário Flores e Dulce Pontes.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt