"A filosofia é praticada todos os dias por todos"
José Gil é o diretor da coleção de filosofia do CM.
O filósofo José Gil é o diretor da coleção de filosofia que o Correio da Manhã edita a partir de sábado, dia 17 de outubro.
Em janeiro de 2005, a revista francesa ‘Le Nouvel Observateur’ integrou José Gil no grupo dos 25 grandes pensadores do Mundo. O filósofo que em 1976 foi adjunto do secretário de Estado do Ensino Superior e da Investigação Científica é também professor e escritor. O autor de ‘Portugal, Hoje – O medo de existir’ (2004), doutorado em Filosofia pela Universidade de Paris, por várias vezes defendeu que a austeridade aniquilou a capacidade dos portugueses para sonhar.
O que gostaria de destacar sobre esta coleção?
A inteligência da apresentação dos filósofos – sempre através dos problemas que se propõem resolver, não descurando a sua contextualização histórica e social; o equilíbrio entre "iniciação" e "erudição" – introduz-se o leitor às grandes questões filosóficas, remetendo-as muitas vezes para zonas de especialização – dirige-se a curiosos e profissionais, e o modo como se mostra a pertinência atual do pensamento filosófico clássico – e como o conhecimento científico atual ou os acontecimentos políticos modernos reatualizam questões filosóficas passadas.
As obras dos grandes pensadores ainda dão lições à/na atualidade?
Mais do que lições doutrinais, são lições sobre a maneira de pensar. Aprendemos muito hoje, e sempre, com Platão e Kant, mesmo quando descobrimos que alguns dos seus conceitos já não nos servem.
Qual a importância da filosofia para a compreensão do Mundo?
Se é verdade que cada opinião sobre uma coisa, uma ideia, um comportamento, uma política, supõe uma metafísica implícita, compreende-se a importância da filosofia que tenta pensar os princípios em que se apoiam essas opiniões. A filosofia alarga o campo do pensamento proporcionando uma inteligência da vida.
Escolha um filósofo para a realidade portuguesa.
É impossível escolher um só filósofo – supondo que a escolha ajudaria a pensar melhor a realidade portuguesa. Mas indicaria: Nietzsche, Foucault, Hannah Arendt, Deleuze. Não esquecendo Espinosa e Leibniz.
Acha que a filosofia é uma área do conhecimento só para elites?
A filosofia (ou o seu avesso) é praticada todos os dias por todos. Ela dirige-se a todos. Mas os profissionais aprendem a manejar conceitos e a pensar a um certo nível de aprofundamento, o que não é dado a todos, sem "iniciação".
Qual o filósofo que primeiro descobriu?
O primeiro, mesmo, que me atordoou e me acordou para a filosofia, e que me mostrou que ela requer um pensamento específico, não foi o que primeiro conheci. Foi Kant.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt