Kátia Guerreiro e Gisela João brilham em Alfama
Primeira noite marcada por duas atuações memoráveis num palco à beira do Tejo.
Este ano o já tradicional festival de fado em Alfama homenageou Maria da Fé e na primeira noite abriu com chave de ouro com duas vozes femininas a imperar. No palco principal, à beira Tejo, com um cenário único que Alfama proporciona, as rainhas da noite foram Kátia Guerreiro e Gisela João.
A médica de origem açoriana que entrou no fado quase por acaso, celebra agora uma carreira consistente de 25 anos. Com um reportório cuidado, mostrou as razões que levaram José Mário Branco a reparar nela e produzisse alguns dos melhores discos da artista. Cativou o público e acabou de forma emotiva com as canções que há um quarto de século a lançaram numa grande aventura. "Amor de mel, amor de fel", escrito por Amália Rodrigues foi uma despedida perfeita.
Gisela João surpreendeu um público eventualmente mais tradicionalista. A atuação desta mulher minhota, que conquistou espaço no fado a pulso até gravar o seu primeiro disco há uma dúzia de anos, foi soberba. Mas não começou com fado. Num cenário onírico, muito distante do habitual do mundo do fado, com sensualidade, como se fosse uma reencarnação de Marilyn Monroe à beira Tejo, Gisela começou com 'Acordai', hino de resistência de Fernando Lopes Graça com versos de José Gomes Ferreira. Seguiram-se outras versões extraordinárias de músicas de Zeca Afonso, Sérgio Godinho, José Mário e outros. A nova roupagem de "Que força é essa" de Sérgio, com letra adaptada por Capicua, tem todos os ingredientes para ser um hino de homenagem às mulheres. A interpretação dos 'vampiros' é monumental e nunca foi tão atual, assim como dá nova vida a "E depois do adeus" e a "inquietação". Estas canções fazem parte do álbum lançado este ano. "Inquieta", onde reinventa música de intervenção e obras de um cancioneiro de resistência merece ser ouvido, mas ao vivo, na prova real dos artistas, Gisela não desilude. No palco é gigante.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt