O LUSO-BLUES DE DAN
Numa altura em que a música portuguesa dá sinais de uma vitalidade que não se conhecia desde a erupção do "rock português" - já lá vão 20 anos -, eis que nos chega de França um disco que atesta a boa saúde da música em português. Seja ela feita entre portas ou além-fronteiras. Como é o caso deste "Atlântico Blues".
O autor desta pequena obra-prima responde pelo nome de Dan Inger, um jovem de origem portuguesa baptizado de Daniel dos Santos. Pouco e mal conhecido entre nós, Dan vai já no seu terceiro disco. Para trás ficaram "Vivre Avec Amour" (1996) e "Dan Inger au Belvédère" (um 'live' autoproduzido no final de 1998.
Autor e compositor, membro ainda do grupo de blues & swing Gone With the Swing, Dan vai progressivamente firmando o seu nome na cena musical gaulesa, depois de um percurso feito a pulso durante o qual palnilhou os bares e clubes. Como se não bastasse, Dan é ainda o "cúmplice do programa "Suavidade Nocturna", da Rádio Alfa de Paris, e milita na associação Gaivota, dedicada à divulgação do fado e poesia portugueses.
Gravado no final do ano passado, "Atlântico Blues" (ed. Megamúsica) mostra um autor movendo-se com rara sensibilidade por terrenos que vão do fado aos blues, passando pelo Brasil e África. O título é, de resto, a melhor imagem do que nos espera nas 14 canções que integram o disco. A abertura ("Solidão") faz-se com guitarra portuguesa e daí para a frente embarca-se à descoberta de mundos musicais banhados pelo grande oceano. Em cada paragem desta emocionante viagem, Dan Inger como que encontrou um cúmplice e bebeu as respectivas influências. Bévinda, Mariana Ramos, Ricardo Vilas e o vocalista dos Mão Morta, Adolfo Luxúria Canibal (actualmente a viver em Paris) são presenças notadas.
Exprimindo-se num "portugaulês" perfeitamente perceptível, Dan passa por Portugal ("Casaria"), toca África ("Uma Bala Perdida"), desembarca no Brasil ("Paixão Horizontal"), sobe à América ("Rei dos Blues", que já gravou com Rui Veloso mas que espera ainda edição) e ("Mulher Vulcão").
A viagem chega ao fim com "Se For Preciso 'Encalhar'", um épico que o devolve ao local de partida: "Eu quero encalhar nas costas do Atlântico, nas praias desse país, de onde vem a minha raiz".
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