"O samba só não desapareceu porque o povo não deixou": Músico brasileiro Paulinho da Viola de volta a Portugal
Aos 82 anos, apresenta-se dia 29 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e no dia 1 de Novembro na Casa da Música, no Porto.
Após mais de duas décadas sem tocar em Portugal, Paulinho da Viola, um dos mais importantes nomes do samba do Brasil, está de volta a Portugal. O músico, de 82 anos, apresenta-se dia 29 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e no dia 1 de Novembro na Casa da Música, no Porto. Consigo traz o espetáculo 'Quando o Samba Chama', com o qual há mais de dois anos percorre o Brasil. "É um espetáculo que reúne algumas músicas da minha autoria mas também de outros compositores. Algumas dessas músicas eu não já não canto há muito tempo. No fundo é um concerto que conta uma história, a minha e a do samba", diz ao CM.
Esta é a terceira vez que o músico viaja para Portugal, isto depois de em 2020 ter tido, por cá, dois concertos cancelados por causa da pandemia. "O primeiro concerto que fiz em Portugal foi em 1981 e o segundo em 2001. Foram duas experiências muito interessantes", diz Paulinho que não esquece duas pessoas que teve o prazer de conhecer. "Uma das experiências mais gratificantes foi conhecer o Carlos do Carmo. Foi muito gentil e levou-me para conhecer alguns lugares e apresentou-me uma grande cantora chamada Argentina Santos". A segunda passagem pelo nosso pais, em 2001, foi com a mulher e quase como turista. "Tive um espetáculo em Roterdão, e o avião fazia escala em Lisboa. Como a minha mulher ainda tem parentes em Portugal e não conhecia, acabei por ficar uns dias", conta.
Nascido no Rio de Janeiro a 12 de novembro de 1942, e filho de músico [Benedicto Cesar Ramos de Faria], Paulinho da Viola começou, em criança a interessar-se por ouvir sambas e choros, tendo aos 15 anos começado a tocar viola, muito embora o pai não aprovasse o interesse. Daqueles tempos guarda "uma infância muito feliz, vivida no seio de uma família muito simples" e uma lembrança particular que o liga a Portugal. "O meu pai tocou 40 anos com um músico chamado Jacob do Bandolim, cujo primeiro bandolim foi feito por um cidadão português que também fez o primeiro violão do meu pai. Chamava-se Francisco Silva e era de Viseu. Conheci-o ainda muito menino e essas são lembranças muito caras para mim". Mais tarde viria a conhecer um outro português pelo qual se apaixonou. "Há uns aos, quando os Madredeus vieram ao Brasil, trouxeram um músico que me impressionou muito chamado Carlos Paredes. Tive a honra de o conhecer e de o ver tocar no Rio, na sala Cecília Meireles. Foi um músico que naquela noite impressionou toda a gente. Atualmente até tenho dois discos dele".
Com mais de 60 anos de carreira e muitas centenas de espetáculos no percurso, Paulinho da Viola é hoje um dos responsáveis por manter o samba à tona da água e de o manter vivo como género de culto. "O samba é uma coisa tão forte que só não desapareceu porque o nosso povo não deixou. No final das décadas de 1970 e 1980 as rádios aqui no Brasil não passavam samba. A televisão também não, mas era uma coisa tão forte que havia músicos que se reuniam e enchiam ginásios. E o samba sempre foi assim. Como uma coisa popular é um fenómeno muito forte. Podem surgir muitos géneros novos mas o samba tem tantas nuances que ele continua a ser cultuado pelo nosso povo".
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