"Público português é muito engraçado, acolhedor e educado"
Gregório Duvivier começa esta terça-feira a sua digressão por Portugal.
Correio da Manhã - Está em Portugal para apresentar ‘Uma noite na Lua’. O que podemos esperar deste espetáculo?
Gregório Duvivier - É a história de um homem tentando escrever uma peça de teatro. É como se a peça fosse dentro da cabeça dele e o espectador acompanha o processo criativo. É um monólogo. Ele foi abandonado pela mulher, por isso fala-se também de amor. É sobre solidão, amor e, no fundo, teatro, porque ele está a tentar escrever uma peça.
Como chegou a este desafio?
Quando li o texto apaixonei-me. O João Falcão, autor do texto, disse-me logo que ia gostar. Apesar de nos anos 90, com o Marco Nanini, ter tido muito sucesso, nunca mais ninguém pegou outra vez no texto e quando o João mo mostrou disse logo: "é o melhor texto que li até hoje".
Como se sente sozinho no palco?
É muita responsabilidade, mas ao mesmo tempo dá-me muito prazer não depender de nada nem de ninguém. Por exemplo, nesta temporada estão marcadas muitas cidades e era difícil conciliar se o elenco fosse grande. O bom é que posso fazer a peça quando e onde quero. Essa liberdade é muita boa e é também por isso que estou há três anos em cartaz.
É a primeira vez que atua em Portugal?
Sim.
Mas já teve contacto com o público português?
Sim. Já ca vim noutras ocasiões, lançar o ‘Porta dos Fundos’. É um público muito carinhoso, muito acolhedor comigo. As pessoas aqui amam o programa e já há muitas que lêem a minha coluna no jornal ‘A Folha’ que escrevo no Brasil. Esse tipo de contacto é muito legal e não esperava isso. Surpreendo-me sempre como as pessoas não só percebem mas também gostam do que fazemos no brasil.
O povo português reconhece-o?
Muito. É muito engraçado, muito acolhedor e é muito educado. É diferente do público brasileiro, que nos toca, que é mais físico. Falam-me sempre com muita elegância, fico sempre surpreendido. Nós não aprendemos isso com vocês. Aprendemos muita coisa, mas isso não.
Há a ideia de que os brasileiros não percebem o português de Portugal e vice-versa…
Comigo sempre soube que não, porque sou muito fã de coisas portuguesas, adoro os Gato Fedorento. Fiquei muito feliz quando soube que iam fazer a cobertura das eleições e acho muito importante esse papel de humor político. Adoro o Bruno Aleixo, sabia tudo de cor.
Qual é que o tipo de humor nesta nova digressão?
É um humor poético, que também gosto muito. É mais lírico, mais ‘chapliniano’ e gosto muito disso. É algo universal, que fala na condição humana. Um humor que faz pensar.
Como é que surgiu a ideia de criar o canal de Youtube da ‘Porta dos Fundos’, que se transformou neste sucesso a nível mundial?
Sempre gostamos de fazer humor anárquico e isso era impossível fazer na televisão aberta. Eles diziam que dava, encomendavam o programa, nós escrevíamos, gravávamos e depois era cancelado em cima da hora. Era uma frustração tentar fazer este humor na televisão aberta no Brasil, era algo muito fechado.
E foi assim que olharam para a internet…
Percebemos que não era na televisão que iriamos fazer o que queríamos. Quando começamos a ter sucesso, a Globo tentou comprar, mas as propostas, artisticamente, eram muito ruins, queriam trocar atores, dobrar algumas partes. Era impensável para eles fazer da nossa maneira. A graça do ‘Porta’ está muito na liberdade e se tirar os palavrões, religião, politica, não sobra nada e perde a piada.
Depois deste sucesso o que é que mudou na sua vida e na sua carreira?
O que mudou mesmo foi as portas terem-se aberto. Sem querer fiz uma piada, mas é verdade. Hoje em dia, transitamos muito mais. Mesmo com esta peça, um monólogo, eu visitei o Brasil todo. A ‘Porta’ atingiu o Brasil todo, é um sucesso. É tudo graças a isso.
O Gregório é filho de um artista plástico e de uma cantora e aos 9 anos já fazia teatro...
Desde muito cedo acompanhava os meus pais nos espectáculos deles, e sempre sonhei com esse meio. Nunca pensei fazer outra coisa, nenhuma profissão "séria". Lembro-me até de ter falado com o meu pai uma vez porque queria ser economista, quando era adolescente, e ele olhou-me com desgosto. Do género, "você quer ganhar dinheiro?". Foi uma vergonha porque toda a gente na minha família é artista. Mas é bom porque via muito os meus pais, então romantizava a profissão e sempre vi as dificuldades e irregularidades, os altos e baixos, o risco que se corre o tempo todo e então já escolhi sabendo das dificuldades.
Lista de espetáculos de Gregório Duvivier em Portugal:
20 Outubro – Vila Real – Teatro de Vila Real
21 Outubro – Braga – Teatro Circo
22 Outubro – Faro – Teatro das Figuras
24 Outubro – Caldas da Rainha – Centro Cultural das Caldas da Rainha
27 Outubro – Lisboa – Teatro Tivoli
28 Outubro – Lisboa – Teatro Tivoli
29 Outubro – Leiria – Teatro José Lúcio da Silva
30 Outubro – Figueira da Foz – Centro de Artes e Espetáculos
31 Outubro e 1 Novembro – Porto – Teatro Sá da Bandeira
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