QUANDO A CIDADE DE BEJA ERA PAX JULIA

‘A Cidade Romana de Beja’ é o título da tese de doutoramento de Maria da Conceição Lopes, cuja edição em livro é apresentada na quarta-feira no Museu Arqueológico da cidade e, no dia seguinte, na respectiva Biblioteca Municipal.

05 de janeiro de 2004 às 00:00
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Este trabalho, concluído em 2000, é o resultado de quase duas décadas de investigações arqueológicas realizadas na antiga Pax Julia, a denominação romana de Beja.

“Além de ter seguido com bastante atenção todas as obras que têm sido feitas na cidade, nos últimos tempos, nomeadamente, as surgidas no âmbito do Programa Polis, passei mais de 15 anos a fazer investigações próprias”, segundo Maria da Conceição Lopes em declarações à Lusa.

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O resultado deste trabalho de campo saldou-se em mais de 600 sítios do período romano, alguns mesmo espalhados por território mais vasto que o da própria cidade.

SURPRESAS

“A área de influência da Pax Julia era bastante grande e ía, por exemplo, desde Viana do Alentejo (distrito de Évora) até Vila Verde de Ficalho”, explicou a autora.

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E de descoberta em descoberta, a tese, agora em livro, concluiu a “negação taxativa” da origem fenícia repetidamente atribuída à cidade, assim como da existência de um hipódromo romano numa zona algures no âmbito do seu centro histórico, mencionada sob a designação de Corredoura.

LENDAS E MITOS

“São teorias que deram origem a alguns mitos e lendas mas fica provado serem verdadeiras. Contrariando também alguns investigadores, Beja teve uma fundação anterior aos romanos, pois, sabe-se que, na Idade do Ferro, pelo menos, já havia aqui um importante núcleo habitacional”, afirmou.

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Após apurado trabalho de revisão da matéria existente sobre a cidade, Maria da Conceição Lopes não tem dúvidas sobre a inexistência de um “plano geométrico regular”, assim como também as actuais muralhas estão longe de corresponder às romanas... “O traçado das muralhas é muito diferente. Também não temos dados seguros que nos permitam saber que relação os romanos estabeleceram comos indígenas quando chegaram mas nada nos diz que não possa ter sido pacífica”, disse e concluiu, optimista, “podendo mesmo o espaço ter sido negociado”.

Ainda de acordo com a tese de Maria da Conceição Lopes, durante a Idade Média e ainda no início do período islâmico, a cidade conheceu uma “grande dinâmica”, prova de uma “continuidade frequentemente negada mas que a arqueologia vem agora comprovar”.

CONCLUSÃO

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E, tudo junto, afastadas as dúvidas, somatizadas as certezas, a grande conclusão é só uma... “Existe ainda material abundante no campo para trabalhar. Há muito por descobrir. O planeamento rural da época é muito diversificado e não se esgota nas grandes ‘villas’, outros há, mais pequenos mas não menos significativos no que respeita à interligação entre a cidade e o campo”.

‘A Cidade Romana de Beja’ é uma edição do Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra.

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