Rita Ferro: "Parecendo uma denúncia este é um livro de esperança"

Escritora reflete sobre o seu novo romance, 'O Surpreendente Silêncio dos Homens'.

14 de dezembro de 2025 às 01:30
A escritora Rita Ferro Foto: Duarte Roriz
A escritora Rita Ferro Foto: Duarte Roriz
A escritora Rita Ferro Foto: Duarte Roriz

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Chama-se ‘O Surpreendente Silêncio dos Homens’ (D. Quixote), o novo livro de Rita Ferro, e é um mergulho de cabeça nas relações humanas que mais importam – aquelas que temos com os nossos pais e os nossos filhos; aquelas que temos com os nossos namorados, maridos e amantes. Sendo escrito a partir da perspetiva da protagonista, é, porém, um livro dedicado aos homens. Em entrevista ao CM, a autora lembra que na dedicatória do volume se lê: “Para os homens, companheiros de sonhos e pesadelos”. “Parecendo uma denúncia, este é essencialmente um livro de esperança”, afirma, sem esconder que a obra aponta “a imaturidade dos homens em certas matérias”. “Há aspetos que transportam da pré-história e de que parecem nem se aperceber. Um deles é a absoluta falta de controlo perante a ira, a traição e o desejo sexual. Excedem-se, espancam, estupram e matam, e depois dizem: ‘Não sei o que me passou pela cabeça’. É sobre este apagão de consciência que este livro se debruça”, nota a escritora, acrescentando que “é claro” que não fala de “todos os homens, mas dos suficientes para sujar a infância das mulheres, traumatizá-las na juventude, destroçá-las na idade adulta, derrotá-las psicologicamente”.

Ao longo de 215 páginas conta-se a história de Maria da Graça, desde jovem menina a mulher adulta, alguém que tem de descobrir quem é – literalmente, uma vez que “só sabe quem é o pai aos quarenta e muitos anos e, ao que se insinua, não chegará a conhecê-lo. Para cúmulo, também não sabe até tarde quem é o pai da sua única filha”. Rita Ferro admite que se serviu de modelos reais para construir esta narrativa. “Tudo me serve de inspiração, é verdade”, declara. “Muitas das histórias que conto no livro foram escritas com a autorização das mulheres que me serviram de inspiração”, garante, lembrando que falamos de “um romance, não um documentário ou um ensaio”.Finalmente, sabendo-se lida maioritariamente por mulheres, admite que tem pena que assim seja. “Sentir-me-ei derrotada se este livro não fosse lido por homens”, conclui.

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Uma descrição arrepiante do que é ser vítima de violência

Num dos momentos mais marcantes deste livro, Rita Ferro fala sobre as cicatrizes deixadas nas vítimas de violência, e admite que escrevê-lo “não foi fácil”. Por ser um tema “sensível”, “penoso”. “Esfarrapei-me para que não fosse mal entendido. Oxalá compreendam, também, que os abismos da alma feminina têm origem neles, nos homens. E o meu desejo é que passem a estimar devidamente quem os impede de serem piores pessoas.”

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