“Se o Rui Veloso é o pai do rock, eu sou o avô”: Carlos Mendes recorda vida artística nas décadas de 60 e 70
Aos 77 anos, músico assinala 60 anos de carreira com um livro que é um “documentário escrito”.
Ainda Carlos Mendes era um jovem músico que residia com os pais na Alameda, em Lisboa, quando um dia, na casa de banho, inspirado pela mãe, que ensaiava escalas de piano (Enid Mendes era pianista), escreveu uma das mais importantes músicas do pop português: ‘Missing You’. Esta e outras histórias, como o banco de jardim na Alameda D. Afonso Henriques onde se formaram os Sheiks; ou o dia em que a PIDE barrou Carlos Mendes no aeroporto por achar que este se preparava para fugir do País, estão agora contadas no livro ‘Carlos Mendes. Arquitecto de Sons - 60 anos de Canções’, escrita por Abel Soares da Rosa, que nos últimos anos escreveu várias obras sobre os Beatles. O livro, “que nasceu de uma conversa à mesa num almoço no princípio do ano”, conta o autor, “é um documentário escrito e profusamente ilustrado sobre a trajetória musical do Carlos Mendes”.
A obra conta com várias fotografias, recortes de imprensa, cartazes, discos e outros documentos que fazem parte dos arquivos pessoais do escritor e do próprio artista. A investigação levou mesmo a pesquisas na Torre do Tombo, onde foram descobertos documentos da PIDE por causa da má fama de Carlos Mendes e até cartas que o artista nunca recebeu de amigos que estavam no exílio. “Só soube delas agora”, conta o artista, que confessa que o livro o obrigou “a um grande exercício de memória” e a “socorrer-se de alguns amigos e familiares para contar alguns episódios”. Ainda assim, assume: “Há coisas que não estão contadas e que nem podem ser contadas, porque algumas são muito íntimas e pessoais”, diz Carlos Mendes, hoje com 77 anos e um dos mais importantes nomes da história da música portuguesa, sobretudo de uma altura “em que os músicos não tinham nada”. “Acho que há uma nova geração que não tem muita noção do que fizemos nos anos 60/70. Parece que o que está para trás dos anos 80 poucos sabem. Há um desconhecimento muito grande. Se o Rui Veloso é o pai do rock, eu sou o avô.”
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt