Sou uma vencedora
É uma das mais consagradas cantoras brasileiras, uma mulher romântica que nunca deixou de ser baiana de gema. Simone canta hoje e amanhã nos Coliseus do Porto e de Lisboa. O pretexto é o novo disco: ‘Baiana da Gema’, claro!
Correio da Manhã – O que é isto de ser ‘Baiana da Gema’?
Simone – Há uma expressão no Rio de Janeiro que é carioca de gema. Como este disco juntava uma baiana e um carioca, eu e o Ivan Lins, tive a ideia de chamar ao disco ‘Baiana da Gema’ como forma de juntar o Rio e a Baía. E depois, como sou uma baiana nata, o título assentava que nem uma luva.
– E como se deu este encontro com o Ivan Lins?
– Isto já vem de muitos anos. Desde o primeiro disco que gravo coisas com o Ivan. Somos grandes amigos, parceiros, já cantámos muito e participámos em espectáculos um do outro...
– Mas esta é a primeira vez que fazem um disco juntos!
– Sim. Um disco de autor, é. Mas este desejo já existia. Foi o presidente da EMI-Odeon, Marcus Maynard, que, sabendo desta vontade de parte a parte, nos desafiou para fazer o disco. Claro que não tínhamos como recusar.
– As críticas no Brasil têm sido excelentes, o que nem sempre é comum nos seus trabalhos. Isso surpreendeu-a?
– Para falar verdade, o que mais me interessa é que o disco foi muito bem recebido pelo público brasileiro. Não leio muito as críticas porque elas não me preocupam.
– A cada disco, e apesar dos temas românticos, acaba sempre por gravar um ou outro samba. Este trabalho até conta com Martinho da Vila e Zeca Pagodinho, dois sambista de gema. Isto faz de si uma romântica com veia sambista ou uma sambista com veia romântica?
– O samba está-me no sangue. Os meus espectáculos podem ser muito românticos mas têm sempre samba. Aliás, devo ter feito apenas um único espectáculo na minha vida sem um samba, que foi o ‘Sou Eu’. Cheguei até a fazer um espectáculo que era só samba. Mas sou uma pessoa que gosta de diversificar. Por isso, canto também músicas românticas, baladas, temas com voz e piano...
– O que é que os portugueses vão poder ouvir nestes espectáculos?
– O espectáculo inclui seis temas deste novo disco e mais oito ou nove músicas que são sucessos como ‘O Que Será’, ‘Jura Secreta’, ‘Sob Medida’, ‘Mal Acostumado’ e ‘Estou Voltando’, entre outros. Para além da minha banda tenho como convidada especial uma nova cantora do Brasil chamada Renata Arruda. Acho que o público vai gostar porque é um ‘show’ muito alegre e divertido que pede a participação de todos.
– Da última vez que actuou no Coliseu de Lisboa interpretou uma versão de ‘Haja O Que Houver’ dos Madredeus. Desta vez também preparou alguma surpresa?
– Até agora não está nada preparado, como também não estava naquela noite. Só cantei porque na altura me deu vontade. O que posso dizer é que sou capaz de convidar alguém da plateia para subir ao palco e cantar comigo ‘Se Acaso Você Chegasse’.
– Faz ideia de quantas vezes já actuou em Portugal?
– Não sei. Venho aqui desde a festa do Avante de 1976 e foi uma experiência marcante. O meu primeiro espectáculo a solo. contudo, deve ter sido lá para 81 ou 82. Mas venho a Portugal sempre e não só para cantar. Às vezes dá-me saudade e venho ver os amigos e passear. Gosto muito das pessoas, da comida, do vinho...
– Já lá vão 33 anos de carreira. Que balanço faz?
– Sou uma vencedora. Venci na vida, mas continuo a batalhar. As coisas não são fáceis e os desafios são constantes. Olhando para trás, acho que acertei muito mais do que errei.
Nascida a 25 de Dezembro de 1949 no Bairro de Brotas, em Salvador da Baía, Simone Bittencourt de Oliveira começou por jogar basquetebol, tendo ganho diversos prémios e sido chamada por duas vezes à selecção brasileira. Após uma série de lesões, decidiu abandonar o desporto e fazer um teste de canto para a editora Odeon.
Gravou o primeiro disco aos 24 anos, um álbum homónimo, a que se seguiram ‘Brasil Export’ (1973) e ‘Festa Brasil’ (1973). Em 1981 lançou um dos seus trabalhos mais importantes, ‘Amar’, gravado em apenas 15 dias, e que vendeu mais de 500 mil cópias. Com 33 anos de carreira, Simone conta com mais de três dezenas de álbuns editados. “Agradeço a Deus por me ter dado o dom de cantar”, diz.
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