“Tento cantar através da flauta uma letra imaginária”: Rão Kyao volta a abordar o fado no novo disco
Para ouvir em ‘Fado Bambu’ estão temas ligados ao fado clássico, temas do músico já editados, ou temas inéditos, mas sempre com uma roupagem familiar.
Já dizia Amália Rodrigues que “o que interessa é sentir o fado porque o fado não se canta, acontece”. E Rão Kyao, o homem da flauta de bambu, é um bom exemplo disso. Depois de várias abordagens à canção de Lisboa ao longo da carreira, o músico, de 77 anos, volta a abordar o fado no seu novo disco, ‘Fado Bambu, no Som da Palavra’ (a editar a 18 de abril), isto mais de 40 anos depois desse icónico ‘Fado Bailado’, de 1983. “O fado é uma coisa que nunca me larga mesmo através do grupo que tenho e com o qual me dedico a outras propostas. O fado está lá sempre presente não no sentido estrito, mas numa certa forma de sentir a música e de tocar as melodias”, começa por dizer Rão Kyao em entrevista ao CM.
Para ouvir em ‘Fado Bambu’ estão temas ligados ao fado clássico, temas do músico já editados, ou temas inéditos, mas sempre com uma roupagem familiar. A acompanhar a flauta na gravação em estúdio estiveram José Manuel Neto (guitarra portuguesa), André Ramos (viola) e Carlos Lopes (acordeão). “A ideia foi recriar o ambiente de casa de fados, intimista, em que a voz é substituída pelo som da flauta”, explica. “Tenho vindo a desenvolver sempre uma cada vez mais íntima ligação com o som da flauta por o considerar uma projeção da voz. A partir daí tento cantar através da flauta uma letra imaginária. Daí este disco ter o título ‘O Som da Palavra’”, adianta o músico, que com este trabalho rejeita a ideia de poder estar a beliscar os puristas do fado. “Cada um tem a sua abordagem, o seu estilo, a sua maneira de falar e de cantar. “Só quero que pensem que isto não é fado puro. O que tenho feito em relação ao fado é a interpretação de uma certa linguagem. O fado tem uma raiz forte, mas ao mesmo tempo também nos dá a possibilidade de nos ligarmos às raízes, criando caminhos novos”.
Com mais de 50 anos de carreira e cerca de 35 discos editados, Rão Kyao afiança que a música continua a fazer parte do seu quotidiano como no primeiro dia. “Desenvolvo a minha relação com a música diariamente. A cada dia ganho consciência da dimensão infinita do que a música nos pode dar”, remata.
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