UM BOLERO APOTEÓTICO
Uma vez mais no Coliseu de Lisboa, o Béjart Ballet Lausanne (BBL) trouxe agora a Lisboa uma trilogia de obras que estarão em cena até amanhã. Desta, apenas uma (”Bolero”) conseguiu empolgar verdadeiramente a plateia.
Com um programa escolhido pelo próprio Béjart, que este não pôde acompanhar devido a doença que o reteve na Suíça, o BBL evidenciou que os seus “anos dourados” são já uma recordação algo longínqua. O coreógrafo-escritor, de 75 anos, já não possui a veia criativa de outrora mas, sobretudo, não tem um elenco com o prestígio do passado. Do grupo masculino não resta um bailarino com carisma e entre os elementos femininos – que Béjart muitas vezes utilizava com uma filosofia quase “decorativa” – apenas a espanhola Elisabet Ros e a cubana Catherine Zuasnabar ainda fazem levantar a plateia.
Sete Danças Gregas”, sobre música de Mikis Theodorakis, é um trabalho que se desmultiplica por solos e duetos. Trata-se de uma peça de forte pendor lúdico, com coreografia geometrizante nos conjuntos, e figurinos (a preto e branco) e iluminação que se restringem ao essencial. Já sem a força de outrora estas danças surgem bastante datadas na sua concepção coreográfica e os recorrentes laivos folclóricos gregos também não ajudam a manter a longevidade.
“Brel e Barbara”, por seu lado, é um trabalho de orientação teatral mas em que Béjart se balança entre a “luz e a sombra”, de um modo desigual. Prenhe de simbologias, este trabalho consegue ser interessante a espaços, mas acaba por se perder em trivialidades, como uma “valsa a mil tempos”, com um corpo de baile enfiado em tubos de tecido amarelo.
Ao contrário, “Bolero” casa movimentos simples de uma bailarina em cima de uma mesa redonda e um grupo de homens à sua volta, com o hipnotizante “ostinato” da conhecida partitura de Maurice Ravel. Ros, mais na linha de uma Maia Plisetskaya do que na de um Donn ou de uma Maria--Grazia Galante, segura a Melodia com garra e determinação agigantando-se dentro de uma massa masculina coesa e expressiva que imprime a este “ritual” uma força quase telúrica. Apenas no final… Béjart apoteótico e no seu melhor!
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