Em 1870, o austríaco Leopold von Sacher-Masoch publicava ‘Vénus de Vison’, romance que conta a história de um homem que, depois de ser espancado pela tia em cima de uma pele de raposa, fica marcado pela experiência. A ponto de procurar, nas suas relações com o sexo oposto, a dor e a humilhação (de onde o termo masoquismo).
Precisamente 142 anos depois, em 2010, chegava aos palcos a versão cénica do romance, assinada pelo dramaturgo norte-americano David Ives (n. 1950).
Desde então, ‘Vénus de Vison’ foi traduzida para português, castelhano, francês, alemão, russo e japonês, e tem agendadas montagens em quase 30 países. Até Roman Polanski se apaixonou pela história, levando-a ao cinema (o resultado passou recentemente pelas salas nacionais).
A peça – que mostra o combate entre um homem e uma mulher que são, também, encenador e atriz – acaba de estrear na Sala Vermelha do Teatro Aberto, em Lisboa, onde uma Ana Guiomar sensual e guerreira ora seduz ora tortura um Pedro Laginha que oscila entre o fraco e o dominador.
A encenadora Marta Dias diz que encontrou no texto de Ives o retrato de “todas” as relações humanas, que “inevitavelmente redundam em lutas de poder”, mas acrescenta que procurou manter ambos os sexos “em igualdade”, em vez de sublinhar o seu carácter feminista. Apesar dos constrangimentos financeiros da companhia, aceitou o convite de João Lourenço para encenar o texto “com ambição e muito respeito”.
Sobre os atores, admite que os quis levar “até ao limite”. “O elenco ficou definido muito cedo, mas com riscos”, conta. “Nem a Ana Guiomar nem o Pedro Laginha estão na sua zona de conforto. Pelo contrário, fazem aqui coisas que nunca os vi fazer...”