A edição de hoje
À semelhança do que aconteceu com o Rock in Rio-Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) pretende isentar de taxas municipais o Festival Creamfields, a realizar a 19 de Maio no Parque da Bela Vista, em Marvila.
A proposta, que esteve para ser votada ontem em Assembleia Municipal mas foi adiada para segunda-feira, fará com que a autarquia deixe de encaixar cerca de 3,1 milhões de euros. Um facto que suscitou desde logo a reacção do recém-criado grupo de cidadãos, ‘Observatório do Parque da Bela Vista’.
A proposta de isentar o Festival Creamfields – um megaevento criado por James Barton no final dos anos 90, em Liverpool – é do vereador António Prôa, que propõe a celebração de um protocolo de entendimento entre a Câmara de Lisboa e a entidade promotora do evento. Em nota de imprensa, o gabinete do vereador garante que o dito protocolo “define os termos e as regras de utilização do Parque da Bela Vista, salvaguardando a integridade do mesmo, antes, durante e após a realização do evento”. Diz ainda a nota de imprensa que a CML exige à organização um seguro de responsabilidade civil e uma “garantia bancária que cubra eventuais danos causados na sequência da realização do festival naquele espaço verde da cidade”. Ainda ao abrigo do protocolo, a organização do festival terá de pagar contrapartidas até 175 mil euros, que serão aplicadas na requalificação do parque, nomeadamente para a construção de um ‘skate park’.
O motivo mais controverso é a intenção de a CML de isentar o festival do pagamento de taxas municipais. Uma verba “estimada” em 3,1 milhões de euros, que correspondem à ocupação da via pública e ruído entre os dias 5 e 31 de Maio.
O vereador sustenta a isenção com os “dividendos” que o festival trará a Lisboa, “bem como para a divulgação do nome e da imagem da cidade em Portugal e no Mundo”.
INVESTIMENTO DE SETE MILHÕES
O Creamfields é um conceito do britânico James Barton e nasceu no final dos anos 90, em Liverpool. Apaixonado pela música e proprietário da discoteca Cream, Barton depressa transformou o festival num megaevento itinerante, que anualmente mobiliza dezenas de milhares de pessoas. O festival chega este ano a Portugal, mas já passou por países como o México, Rússia, Polónia, Turquia, Espanha e Brasil.
Em Lisboa, James Barton e o parceiro português (a ‘Smart Events’) investiram cerca de sete milhões de euros. A organização espera trinta mil pessoas num recinto que estará dotado de oito espaços para acolher os concertos e as actuações dos DJ. O evento começa às 15h00 e prolonga-se até às 06h00 do dia seguinte.
Do cartaz fazem parte os britânicos Placebo e Prodigy, os portugueses Da Weasel e Expensive Soul e muitos outros artistas nacionais e internacionais.
GRUPO DE CIDADÃOS CONTESTA
Um grupo de cidadãos, denominado ‘Observatório do Parque da Bela Vista’, veio entretanto a público contestar a intenção da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de isentar de taxas a organização do festival Creamfields. Em comunicado ontem emitido, aquele grupo de cidadãos adianta que “imoral é pouco para se definir o tratamento privilegiado que se pretende dar a alguém que, objectiva e inexoravelmente, irá degradar um espaço público”. O ‘Observatório do Parque da Bela Vista’ considera mesmo que “é uma vergonha” o assunto ser colocado à discussão, acrescentando que é “caricato que a CML acene com um protocolo como justificação dessa isenção, sabendo-se, como se comprova no local, que semelhante protocolo com o organizador do Rock in Rio de 2006, não está [...] minimamente cumprido pela parte que toca ao promotor”.
Natural de Liverpool, aos 38 anos, James Barton é um dos mais reputados organizadores de eventos musicais. Vendeu meias com o pai, deixou a escola aos 16 anos e aos 20 abriu a sua primeira discoteca. Hoje dirige um império musical.
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