Os responsáveis (D. Quixote), não esqueceram e o quarto volume (Laboratório de Cinzas) dos diários inéditos (Dias Comuns) aí está, fiel ao cumprimento das formalidades exigidas por quem os escreveu.
Homem do contra, não por capricho mas por militância na inversão da desordem dos dias, tinha-se na conta de desconcertante. E não era para menos... "No caminho para casa, pus-me a pensar: estamos a tornar-nos estúpidos nesta necessidade absoluta de existir".
"Poeta militante" e "intervenção sonâmbula" não são para aqui chamados senão porque, além de corresponderem, respectivamente, a poemas e crónicas, mais do que retratar-lhe a escrita são o o retrato vivo do escriba. Militância e intervenção são sinónimos. Sinónimos de poeta.
E foi como poeta que se revelou, em 1931, com 'Viver Sempre Também Cansa' mas revelação maior está talvez aqui, nos diários, onde não consta a subtileza reservada aos grandes escritos... "Não consegui 'agarrar' o que pretendia dizer - e não sei o que é. Aquela coisa subtil para que se escrevem os versos".
Em seu lugar, a brutal frontalidade de que era, ele próprio, o maior crítico. Sem concessões: "Cuidado Zé Gomes! Olha que a Sinceridade pode ser apenas uma forma honesta de Injustiça... Uma máscara de sangue a disfarçar a superficialidade".
Neste 'Laboratório de Cinzas' ardem devagar o ócio dos cafés, o caos organizado da mesa de trabalho, os ódios de estimação, os amores incondicionais, o maior dos quais, "a demagogia metafísica da miséria"... E, com um amor como este, incendiou poemas como aquele em que revela, por inteiro, quem é no escreve: "Não quero ver o mundo, prefiro imaginá-lo!".
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