Entraram no Museu Munch, em Oslo, na Noruega, como quem entra numa qualquer dependência bancária e levaram para casa duas obras de Munch como quem fecha a caixa do dia: 'O Grito', ex-líbris do expressionismo neurótico que o caraterizava, e, mais discreta, a 'Madonna'.
Fosse filme e o aparato seria outro mas a realidade é de uma simplicidade desarmante, ao contrário dos dois assaltantes, encapuzados e bem armados, que, às 10h15 (hora local e uma a menos em Lisboa), invadiram o espaço, ameaçaram funcionários e visitantes e saíram rumo ao Audi A6, onde eram esperados pelo terceiro e último elemento do 'gang'.
Casa roubada, trancas à porta e não demorou muito que o alerta geral fosse dado e, por autoridades em campo, foram já encontradas as molduras... sem sombra de telas, naturalmente.
ESTADO DE CHOQUE
" É estranho como neste museu não haja quaisquer meios de protecção dos quadros nem mesmo uma campainha de alarme", recordou, ainda em estado de choque, François Castang, um produtor de rádio francês que, de visitante do museu se viu, inesperadamente, transformado em testemunha do assalto. "Os quadros estão simplesmente presos à parede por arames, bastando puxar com força para que se soltem. Foi o que fizeram", explicou, ainda incrédulo.
Para ajudar ao sucesso da mais desarmante operação de assalto à mão armada a um museu, acresce o facto da polícia ter dado 15 minutos de avanço aos assaltantes que, para trás, deixaram uma multidão de visitantes, na sua maioria turistas, em estado de choque.
Tiroteio não houve mas uma das funcionárias do espaço - a única realmente ameaçada com uma arma apontada à nuca enquanto retirava da parede os quadros solicitados pelo 'gang' - sucumbiu ao choque e teve de ser assistida. Recupera mas devagar.
NEGLIGÊNCIA REINCIDENTE
Vítima de verdade só mesmo a negligência reincidente que se vive no Museu Munch, ironicamente nome do artista cuja obra-prima é 'O Grito', pastel de 1893, de que terá feito várias versões, segundo os especialistas, roubada do local pela segunda vez.
Com efeito, em Fevereiro de 1994, 'O Grito' esteve desaparecido durante três meses, vindo a ser recuperado num hotel de Asgardstrand, a 65 quilómetros de Oslo, isto após o governo norueguês ter recusado ao trio de assaltantes o pagamento do resgate de um milhão de euros.
Três, decididamente, parece ser quanto basta para roubar um Munch. Mantê-lo já não será tão fácil!
Edvard Munch, pintor norueguês , nascido em 1863 e falecido em 1944, ficou para a história da arte como uma referência do movimento expressionista que muito influenciou, a partir de Van Gogh, o seu pintor-referência.
INTENSIDADE HISTÉRICA
Edvard Munch influenciou como poucos o movimento expressionista e, curiosamente, a sua referência maior era um mestre sim mas impressionista, de seu nome, Vincent Van Gogh. Fascinado pelo colorido das telas de Van Gogh, Munch andou algum tempo atraído por aquilo que ficou conhecido como o neo-impressionismo mas, face à realidade, não lhe bastava a impressão das imagens. Cobiçava-lhes a intensidade.
A intensidade histérica de que 'O Grito' é exemplo ímpar! Panfleto libertário do desencanto do homem moderno espartilhado entre dois séculos, a obra (de 1893) não se esgota na visão existencialista do mundo dos outros. Traduz mais, um intimismo que é só seu, o luto pela mãe.
GOLPES PARA A HISTÓRIA
21 de Agosto de 1911 - A ‘Gioconda’, de Leonardo Da Vinci, é subtraída do Louvre, em Paris, e recuperada em Dezembro de 1913.
20 de Maio 1988 - Um Cézanne, um Van Gogh e um Jongkind são roubados em Amesterdão. Valem 52 milhões de euros e aparecem dias depois.
30 de Janeiro de 1989 - Um Rembrandt e um Van Goyen são roubados em Amesterdão e encontrados na mesma tarde em Roterdão.
19 de Janeiro de 1990 - Três desenhos de Picasso levam sumiço do Museu Vieille-Charité, em Marselha.
12 de Março 1990 - Um Van Gogh, avaliado em 1,7 milhões, desaparece de um depósito em Zurique.
14 de Abril de 1991 - Vinte quadros de Van Gogh são roubados do Museu Van Gogh, em Amesterdão.
20 de Maio de 1998 - Dois Van Gogh e um Cézanne são retirados do Museu de Arte Moderna de Roma e aparecem em Julho em Roma e Turim.
1 de Janeiro de 2000 - Um Cézanne avaliado em 4,8 milhões é roubado do museu Ashmolean (Reino Unido).
22 de Dezembro de 2000 - Dois Renoir e um Rembrandt, avaliados em cerca de dez milhões, desaparecem do Museu Nacional da Suécia, em Estocolmo.
7 de Dezembro de 2001 - Dois Van Gogh roubados do museu Van Gogh em Amesterdão, avaliados em vários milhões, ainda não foram recuperados.
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