As probabilidades são muitas de Paul Julian Stroheymer, galês (de Cardiff) de 51 anos, mais conhecido como Green Gartside, e de Neil Hannon, irlandês (de Derry) de 35 anos, nunca se terem encontrado. Apresentados desta forma, como indivíduos, é igualmente provável que muitos não os reconheçam – afinal de contas, são dois daqueles sujeitos que, atraídos pelo chamamento encantatório da música pop, sempre preferiram pensar e agir atrás de um nome colectivo.
Até na escolha dos nomes para as bandas (ambas rotativas e recrutadas de acordo com as necessidades momentâneas dos líderes), têm algo em comum e algo que difere da mediania do mundo das canções. Gartside optou por uma transcrição, propositadamente errada, do título dos escritos do intelectual marxista italiano, Antonio Gramsci – dos seus ‘scritti politici’ nasceram os Scritti Politti. Hannon não fez a coisa por menos, ao cativar o título da obra monumental de Dante Aligheri, ‘A Divina Comédia’, dando origem a The Divine Comedy.
Mais importante é a circunstância de, em conjunto com Paddy MacAloon (Prefab Sprout), Roddy Frame (com os Aztec Camera e a solo), Ian Broudie (Lightning Seeds), Ricky Ross (com os Deacon Blue e a solo), Neil Tennant (Pet Shop Boys, Electronic) e mais uns quantos (poucos), estes homens terem chamado a si a cruzada de salvaguardar a elegância inteligente que há na música pop. Gartside e os Scritti Politti, vistos como politicamente empenhados, à esquerda, são mais radicais: a voz do galês é sempre de uma suavidade linear, mesmo quando ele canta ‘Petrococadollars’ (dispensa tradução) ou ‘Robin Hood’, duas das boas canções de ‘White Bread, Black Beer’, que assinala a ressurreição da banda, silenciosa desde 1999 e de ‘Anomie & Bonhomie’. O resto são batidas leves, efeitos com base nas teclas e nos sintetizadores, um sentido melódico invulgar e um apuro entusiasmante na escolha dos temas – ‘The Boom Boom Bap’, ‘Snow In Sun’, ‘After Six’, ‘Window Wide Open’, ‘Road To No Regret’ (a pérola máxima) e ‘Mrs. Hughes’ completam a meia dúzia de propostas antológicas.
Do lado de Hannon e dos The Divine Comedy, o parâmetro não difere muito, apesar de uma componente mais sensível reservada para humor e sarcasmo – ‘To Die A Virgin’, ‘Diva Lady’ e ‘Arthur C. Clarke’s Mysterious World’ triunfam neste sector, enquanto ‘A Lady Of A Certain Age’, ‘The Light Of Day’ e ‘Snowball In Negative’ são as pedras de toque sérias do álbum ora em questão, ‘Victory For The Comic Muse’. Sinal evidente de um final de ciclo – a carreira da ‘banda’ iniciou--se, há 16 anos, com ‘Fanfare For The Comic Muse’. Subtil mas não adormecido, Hannon mantém-se em plena forma, provando (outra vez) como a pop pode, e deve, ser inteligente.
Nenhum deles grita, nenhum deles cansa. As angústias são resolvidas com um sorriso, as lutas são travadas com melodias e textos inspirados. E é por isso que os Scritti Politti e os The Divine Comedy são argumentos claros, irrefutáveis, para construir um dia de festa. Pode ser hoje, se não se importam.
Há uma geração de novas cantoras irlandesas capazes de encantar, no seu suave toca-e-foge com a folk e com a pop. Tal como as suas compatriotas Eliza Carthy e Kate Rusby, CARA DILLON recusa as complicações e opta por fazer brilhar uma voz de cristal. ‘After The Morning’, terceiro álbum, é excelente.
TARKAN é, aos 33 anos e com 15 milhões de discos vendidos, um dos ídolos turcos. Em ‘Come Closer’, canta em inglês, sobretudo para fazer dançar, usando pequenos pormenores que o aproximam da música árabe, sem fugir a uma base quase disco-sound – tem tudo para irritar, mas é bem feito e convincente.
Há memórias que, pelo valor ou pelo gozo, deveriam ficar quietinhas, saindo do armário só quando necessário. É o que acontece com os CHEAP TRICK, os velhinhos rockers de ‘I Want You To Want Me’. Triste é ouvi-los agora, em ‘Rockford’, a repetir receitas, sem chama nem ponta por onde se lhe pegue.
Os CD das telenovelas da TVI continuam a misturar trigo e joio da música feita em Portugal, um pouco à semelhança do que acontece com os argumentos (de altos e baixos) e com os actores. ‘Fala-me de Amor’ não escapa à regra – não há disco que resista a juntar MÓNICA SINTRA, Beto, Nuno Barroso, Tucha…
Com ‘Catalpa’ e ‘Escondida’, a texana JOLIE HOLLAND já tinha conseguido o seu lugar, mostrando ao que vinha: canções sem pressa, reflexões íntimas ou análises sobre o que a rodeia. Folk, blues, canção, bluegrass, tudo tem o seu lugar, com horizontes abertos e estradas infinitas – mas nada é puro. O nome de Tom Waits vem à memória. É uma Natalie Merchant mais radical na fuga à urbanidade e uma óptima banda sonora para filmes de Jarmusch. ‘Springtime Can Kill You’ é soberbo, ideal para serões longos e solitários.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.