Correio da Manhã – Quando decidiu escrever esta história tão dolorosa?
Emma Donoghue – Após conhecer o ‘caso Fritzl’, em Abril de 2008. Aproveitei, de todo aquele horror [o austríaco Josef Fritzl manteve uma sua filha presa numa cave e engravidou-a várias vezes], a ideia de uma criança a crescer num quarto fechado.
– Foi doloroso escrever o livro? E demorou muito tempo?
– Fazer pesquisa foi doloroso, mas escrever foi rápido. Demorou um ano no total e o resultado deixou-me muito satisfeita.
– O que a inspira a escrever?
– Muito frequentemente incidentes históricos e coisas ocorridas na minha própria vida ou na vida dos meus amigos.
– É uma escritora disciplinada?
– A disciplina é-me fácil porque adoro escrever. Se pudesse, gostaria de escrever das nove da manhã às quatro da tarde, enquanto os miúdos estão na escola, mas devido às várias obrigações da profissão, como dar entrevistas, fico-me pelas três horas diárias.
– O leitor é literalmente salvo da depressão pelo tom ligeiro e animado do narrador, uma criança de cinco anos. Ter filhos ajudou-a a compor a história?
– Claro. Devo grande parte de ‘O Quarto de Jack’ ao meu filho Finn, que tinha cinco anos na altura em que estava a escrever.
– A que tipo de leitor acha que este livro se dirige?
– Fiquei surpreendida com a diversidade de pessoas que reagiu apaixonadamente ao livro, do Brasil ao Iraque. Escrevo para o meu leitor ideal, que não conseguiria descrever em termos demográficos (sexo, idade ou nação), apelando apenas à sua inteligência e abertura de espírito.
– Tem ganho vários prémios literários ao longo da carreira. Isso é importante para um escritor?
– Os prémios distraem, sobretudo naquela fase em que entramos nas listas de finalistas! Mas é verdade que ajudam a ter mais leitores. Levam as pessoas a arriscar comprar o livro.
PERFIL
EMMA DONOGHUE nasceu em Dublin (República da Irlanda) em 1969 e escreve desde os 23 anos. Publicou romances históricos e contemporâneos. Vive no Canadá com a família.