Gulbenkian anunciou que os jovens até aos 18 anos passarão a ter entrada gratuita "para incentivar o interesse pela arte".
Uma exposição com 160 obras de centena e meia de artistas, reunidas pela "magia das palavras" da lendária contadora de histórias Xerazade inaugura na sexta-feira a terceira temporada do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (CAM), em Lisboa.
Trata-se da nova apresentação da Coleção do CAM da Fundação Calouste Gulbenkian, que abre ao público no sábado, em conjunto com uma mostra da artista franco-argelina Zineb Sedira e um projeto do artista Francisco Trêpa.
Numa visita guiada para jornalistas, a Gulbenkian anunciou também que os jovens até aos 18 anos passarão a ter entrada gratuita "para incentivar o interesse pela arte", alargando o limite de entrada livre dos 12 anos no museu.
Intitulada "Xerazade, a Coleção Interminável do CAM", a exposição tem curadoria de Leonor Nazaré e ficará aberta ao público até 20 de setembro de 2027, na Galeria da Coleção, inspirada no modelo ficcional dos contos de origem persa "As Mil e uma Noites" e da sua mítica narradora Xerazade.
Álvaro Lapa, Maria Helena Vieira da Silva, Daniel Blaufuks, Paula Rego, Amadeo de Souza-Cardoso, Bernardo Marques, Julião Sarmento, Candido Portinari, Belén Uriel, Canto da Maya, Eduardo Nery, Fernando Lanhas, Ana Hatherly, Cruzeiro-Seixas e Carla Filipe são alguns dos artistas representados nesta seleção de obras em formatos que vão desde a pintura, escultura, fotografia, colagem, instalação, filme e livros.
"As obras da Coleção do CAM não têm, obviamente, nada a ver com as histórias de 'As Mil e uma Noites', mas a Xerazade inspirou-nos como dispositivo ficcional para criar uma estrutura em que uma narrativa abre para outras, de forma praticamente interminável", explicou a curadora, Leonor Nazaré, durante a visita.
O CAM foi inaugurado em 1983 e a coleção criada desde então ascende atualmente a mais de 12.000 obras de arte moderna e contemporânea, com um forte foco na arte portuguesa do século XX e XXI, e um significativo núcleo de arte britânica e outras obras de artistas estrangeiros em vários suportes.
"O que me interessou foi o modelo narrativo, ideal para construir uma mostra da coleção que não vai ter um fim porque receberá alterações sucessivas, também ao nível da arquitetura, ao longo dos dois anos da sua duração", indicou a curadora, evocando a rainha persa que escapou à morte narrando conto após conto, segundo a lenda.
Leonor Nazaré resumiu o conjunto em números: "Cerca de 150 artistas para um total de cerca de 160 obras, oito das quais fora da galeria, quatro livros de artista da Biblioteca de Arte e dois livros da coleção do Museu Gulbenkian, cerca de 45 obras da primeira metade do século XX e uma centena da segunda metade, com 15 novas obras, aquisições exibidas pela primeira vez, e 57 artistas vivos representados".
Para apresentar as obras selecionadas de forma "legível", a curadora encontrou "14 facetas transversais a toda a coletânea de contos", e, nelas, "três grandes princípios orientadores" do sentido da construção da exposição: "A sedução pela palavra, linguagem e narrativa, técnica usada por Xerazade, e daí a importância da presença do objeto-livro; o trabalho intenso da luta pela sobrevivência, e uma grande diversidade de obras, incluindo objetos banais e outros mirabolantes".
Pela primeira vez haverá um percurso com texto introdutório para crianças sobre algumas obras escolhidas, sinalizadas na exposição.
Nesta mostra, o público poderá ver desde uma nova obra escultórica encomendada à artista Sara Bichão, a pinturas de Maria Helena da Silva, como "A Biblioteca em Fogo" (1974), um retrato de Fernando Pessoa criado por Almada Negreiros (1964), uma instalação de Fernanda Fragateiro intitulada "(Não) lendo a paisagem #2" (2010), ou "Cena aberta" (1940), de António Dacosta.
Entre as novas aquisições nunca exibidas estão uma pintura de grandes dimensões do artista e cantautor Manuel João Vieira intitulada "O Colecionador" (1989), de Júlio Pomar (1926-2018) "Varina comendo melancia" (1949), ou "Ana#2" (2024) da artista Leonor Antunes.
Benjamin Weil, na introdução da visita ao CAM, sublinhou que a nova temporada acontece "um ano após a reabertura na sequência das obras profundas de remodelação", apresentando uma nova exposição de longa duração em projeto modular da arquiteta Rita Albergaria que "segue um caminho de sustentabilidade ambiental, permitindo uma evolução expositiva sem ser preciso refazer paredes".
Também salientou a inovação do projeto que o CAM inicia no Espaço Engawa, que funcionará "como um laboratório experimental", onde serão apresentadas exposições e um espaço de trabalho do artista que o público poderá acompanhar ao vivo.
A primeira exposição, patente até janeiro de 2026, é da autoria de Francisco Trêpa, composta por uma constelação de esculturas em cerâmica, resultado de um projeto que partiu da observação dos bugalhos no Jardim do CAM.
Esta exposição realiza-se no âmbito do Institution(ing)s, um projeto de cooperação europeu, cofinanciado pela Europa Criativa e coordenado pela Universidade Católica Portuguesa, com sede no Espaço Engawa do CAM até 2028, num consórcio que conta com mais sete instituições internacionais.
O CAM inaugura no mesmo dia, no Espaço Projeto, uma exposição individual de Zineb Sedira, artista franco-argelina radicada entre Paris e Londres, que tem vindo a refletir sobre temas como a migração, a história e a parcialidade das histórias, recorrendo à narrativa autobiográfica, à ficção e ao documentário.
O título original em inglês da mostra, "Standing Here Wondering Which Way to Go", cita uma canção interpretada pela cantora gospel afro-americana Marion Williams no Festival Pan-Africano em Argel em 1969, uma época de especial interesse para a artista, sobretudo pelos movimentos contra o racismo e colonialismo.
"Desde cedo me interessei pelo tema da arte como arma de denúncia e luta política e ativista", afirmou Sedira na visita à exposição que envolve vários núcleos repletos de fotografias, cartazes, colagens, capas de discos em vinil onde se podem ver os rostos de figuras emblemáticas como Martin Luther King, Angela Davis ou Victor Jara.
Com curadoria de Rita Fabiana, este projeto encomendado pelo CAM foi feito em colaboração com o centro cultural Jeu de Paume, em Paris, Instituto de Arte Moderna de Valencia e Bildmuseet de Umeå, na Suécia, coproduzido com a Tabakalera Centro Internacional de Cultura Contemporánea, San Sebastian, Espanha.
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