Trata-se, segundo aquele especialista, de alinhamentos de pedras, construídos pelo Homem há mais de cinco mil anos e que representam figuras de animais autóctones.
Quando começou a estudar os vestígios arqueológicos desta área serrana do concelho de Melgaço, entre o alto do Cubalhão e Lamas de Mouro, Novoa Alvarez, de 61 anos, considerou “muito curioso” o facto de existirem tantos muros de pedra, sem que se destinassem à divisão de propriedades.
Ajudado por Silvie Amorim, Guia do Parque Nacional e profunda conhecedora da serra, o arqueólogo foi estudando, fotografando, falando com pastores e analisando todas as imagens, incluindo as que conseguiu obter, tiradas por satélite.
Neste trabalho, Pablo Novoa, já detectou cerca de 20 figuras de animais autóctones, como vacas, búfalos, ursos, veados, javalis, aves (pombos e águias) e serpentes.
“É uma descoberta sem precedentes na Europa. Trata-se de um caso único, que só encontra paralelo no Peru, mas aqui as imagens são maiores”, afirmou o arqueólogo ao ‘Diário do Minho’ .
Pablo Novoa garante que as figuras descobertas no Parque da Peneda-Gerês “têm entre 50 e 400 metros, quando as maiores que se conheciam, em Nazca, deserto do Peru, não ultrapassam os 200”.
O arqueólogo alerta para a “necessidade urgente” de se estudarem e protegerem estas “singulares construções”, que podem estar ameaçadas pelos projectos de construção de parques eólicos para a zona.
Contactado pelo CM, António Martinho Baptista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre, declarou que “a eventual descoberta deve ser estudada, na medida em que, se se revelar autêntica é, sem dúvida, algo de muito importante”. No entanto, este profundo conhecedor das serras da Peneda e Gerês e um dos maiores especialistas de arte rupestre em Portugal, encara este facto com “algum cepticismo e muitas cautelas”.
“Sei que naquela zona existem muitos muros que são vestígios de brandas de pastores, provavelmente anteriores à Idade Média e que, infelizmente, nunca foram devidamente estudadas”, explicouo arqueólogo, chamando a atenção precisamente para o facto de a construção de acessos para os futuros parques eólicos poder destruir “importantes vestígios milenares”.
Pablo Novoa, por seu truno, não tem dúvida da existência de figuras zoomórficas na Serra da Peneda, mas adianta que “o assunto deve ser estudado seriamente pelos arqueólogos portugueses”, mostrando-se disponível para colaborar “em toda a investigação a realizar”.
'ISTO PODE SER IMPORTANTE'
Na opinião de Francisco Sande Lemos, arqueólogo da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, “o caso merece ser analisado e estudado”. “Se a descoberta for autêntica, pode ser algo de muito importante”, adiantou.
Apesar de estarem devidamente localizados, naquela zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês, vários muros lineares e circulares, muito antigos e de grandes dimensões (o mais conhecido é o do Monte do Gião), Sande Lemos confirmou que nunca se tinha detectado qualquer imagem zoomórfica. “A hipótese de formas de animais é, para mim, desconhecida, mas se vier a confirmar-se, trata-se de uma descoberta extraordinária”, afirmou. De resto, para Sande Lemos “o mais importante é que realizem os estudos necessários, quer por fotografia aérea, quer por análise no próprio terreno”.
Ao que o CM apurou, responsáveis do Centro Nacional de Arte Rupestre devem deslocar-se à Serra da Peneda já na próxima semana, para uma primeira análise ao achado.
GRANDE IMPACTO EM ESPANHA
Os achados megalíticos do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) estão a ter um grande impacto na vizinha Espanha.
Depois de noticiada no jornal galego ‘Faro de Vigo’, a descoberta foi tema de uma reportagem de 50 minutos no Canal 4 (televisão espanhola), que teve uma audiência estimada de cinco milhões de espectadores. Foi tal o sucesso, que o canal repetiu a reportagem faz hoje oito dias. Entretanto, ‘A Voz de Melgaço’ e o ‘Diário do Minho’ deram grande destaque ao assunto, sublinhando que “o concelho de Melgaço tem algo de único que merece ser preservado”.
Para o arqueólogo Pablo Novoa, é importante divulgar o achado, mas, sublinha, “mais importante ainda é a sua protecção e preservação”, pois teme que, nos próximos tempos, a zona seja “inundada por vorazes Indiana Jones de fim-de-semana”.
OUTROS ACHADOS
FOZ CÔA
Em 1994, foi achado o maior complexo de arte rupestre paleolítica ao ar livre conhecido até hoje, no Vale do Côa, em Trás-os-Montes.
LASCAUX
Estas grutas perto de Montignac, na Dordonha (França) foram descobertas em 1940. As representações de animais pertencem ao paleolítico superior.
VARNA
Na Bulgária, o Cemitério de Varna foi achado por acidente em 1972, no local onde nasceu uma civilização calcolítica europeia. Além dos esqueletos humanos com 6500-6000 anos, foi encontrado o ouro mais puro e antigo do Mundo.
SWANSCOMBE
Descoberto em 1935/36, este sítio perto de Londres, no Reino Unido, trouxe à luz crânios com mais de 250 mil anos.
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