A propriedade de quase seis hectares onde está situada ‘A Ilustre Casa de Ramires’ - eternizada em romance por Eça de Queiroz - está nas mãos da mesma família há quatro séculos e desabitada há 10 anos. O espaço, em S. Cipriano, Resende, ditrito de Viseu, está à venda, desde a semana passada, na página da Remax, na internet, por 990 mil euros.
"Está parcialmente em ruína e a família não tem capacidade para a recuperar. Algumas apostas na tentativa de financiar a reparação falharam e chegou a altura de lhe dar a nova vida que merece", contou ao CM Miguel Cochofel, um dos proprietários.
A "quinta T10", como é descrita pela imobiliária, integra ainda a Torre da Lagariça, que data do século XII. "É da fundação do Condado Portucalense e servia para defender as terras", conta Miguel - um dos cinco irmãos que, com a mãe, de 82 anos, tentam a "passagem dolorosa" do património, que é de interesse público desde 1977.
A propriedade sempre foi privada. Em tempos, a Câmara de Resende tentou negociar a passagem para o domínio público, por 1,25 milhões de euros, o que nunca foi concretizado. "Para isso acontecer, era necessário o município ter condições financeiras e que a família mostrasse disponibilidade, o que nunca foi mostrado", disse ao CM Garcez Trindade, atual presidente da autarquia. Também Aires Ferreira, presidente da Junta de S. Cipriano, considera que a casa "devia ser de domínio público".
Os donos da ‘Ilustre Casa de Ramires’ esperam que os futuros proprietários mantenham a memória do espaço. "Pode ser um hotel de charme fabuloso nesta tranquilidade e energia positiva; pode ser para uma família que queira criar os seus filhos num ambiente fabuloso com possibilidade de conhecimento de coisas que não há na cidade; ou até uma instituição cultural, como uma fundação, que possa mostrar ao País e ao Mundo a história que o edifício carrega", diz Miguel Cochofel.
PORMENORES
Jardim e ribeiro virgem
A propriedade inclui um jardim labiríntico, com uma ferradura a meio "para dar sorte aos futuros donos", diz Miguel Cochofel, uma mata com uma réplica da torre que serviu de pombal, campos de cultivo e árvores de fruto, terminando junto ao Cabrum, um "ribeiro virgem".
Financiamento falhado
A família tentou obter financiamento para reparar a ‘Ilustre Casa’ através de vários projetos - produção de frutos secos, instalação de uma antena de telecomunicações e aluguer das vinhas, entre outros. Todas as tentativas falharam.