Cantor lança disco a solo que marca o seu regresso a casa.
Três anos depois da edição de ‘Primeiro’, chega naturalmente o ‘Segundo’. O que é que este novo trabalho a solo diz do Miguel Ângelo em 2015?
Este é o segundo capítulo de uma trilogia que já tinha anunciado quando comecei a minha carreira a solo depois do fim dos Delfins. Ironicamente, e apesar deste ser um disco meu, é um trabalho que soa a banda, até pelo facto de já estar com os mesmos músicos há muito tempo e de termos feito juntos duas digressões.
E isso fez mudar o quê?
Desta vez, por exemplo, senti uma energia completamente diferente em estúdio. Está tudo muito mais coeso. Acho que no ‘Primeiro’ houve alguma retração da minha parte em avançar para algumas sonoridades mais pop.
Retração porquê?
Não sei se foi consciente, mas acho que houve alguma preocupação da minha parte em dar um espaço em relação à sonoridade e estética dos Delfins. Foi por essa razão que no primeiro disco a solo também fiz um som mais acústico e utilizei pela primeira vez instrumentos como a tuba, o violino ou o acordeão, elementos mais próximos da música folk. Era por isso um disco mais intimista. Este não, já é um trabalho mais aberto e se calhar até mais vocacionado para palcos maiores, com uma sonoridade mais coesa, mais forte e mais elétrica.
E tem a marca Miguel Ângelo!
Sim, porque embora esteja sempre muito atento à música que se faz atualmente, também fui muito atrás, mergulhar nas minhas raízes. Um bom exemplo disso é a capa do disco, que mostra a sala de casa dos meus pais, onde escrevi muitas canções dos Delfins.
Esse regresso a casa e às raízes significa também uma simplificação de processos, quer de composição, quer de gravação?
Sim, e tem a ver com o facto de pela primeira vez não ter preconceitos em escrever uma canção que pudesse soar a Delfins ou fazer alguma coisa que os meus fãs não gostassem. Aqui tirei esse peso dos ombros e tentei fazer o disco de uma maneira mais natural, como se estivesse em casa.
Mas é sempre difícil, para não dizer impossível, não soar a Delfins!
Claro que sim, ainda por cima porque era o cantor. Se fosse o baixista, se calhar era mais fácil [risos].
Voltando à capa do disco, em que também aparece com a sua mãe. Foi fácil desafiá-la?
Sim, ela aceitou logo [risos]. A ideia para a capa foi muito inspirada numa reportagem da revista ‘Life’ de 1971, com muitas estrelas rock da altura em casa com os pais. Essa reportagem tinha fotos muitos giras, por exemplo, da Janis Joplin ou do Eric Clapton com a família. E achei isso muito engraçado. Por isso resolvi desafiar a minha mãe e ela não só aceitou tirar a fotografia comigo como ficou muito contente. Foi uma espécie de homenagem que lhe fiz, até porque ela sempre cantou, mas nunca teve a possibilidade de ter uma carreira porque o meu avô não deixou. Mais do que kitsch, ficou uma capa muito terna.
Até que ponto a sua família o influenciou na música e nas artes?
Eles foram muito importantes. Lembro-me que foi, por exemplo, um tio meu que me ofereceu o meu primeiro gira-discos. E havia um outro que me oferecia todos os Natais um cheque-disco para comprar vinil. O meu pai era empresário e a determinada altura da vida decidiu ir tirar um curso de Belas Artes e tornou-se pintor até ao fim da sua vida. Por isso havia este espírito aventureiro, que acho que me passaram [risos].
Mas o Miguel chegou a tirar Arquitetura...
Sim, o facto de ter estudado também levou os meus pais a verem melhor o lado da música. Na verdade, eles sempre me apoiaram. Da mesma forma também foram sempre os meus maiores críticos. Lembro-me de levar grandes secas do meu pai depois de alguns concertos a refilar comigo sobre o que tinha corrido mal.
O Miguel Ângelo vem de uma geração que se preocupava em fazer canções. Porque é que a canção caiu em desuso?
Acho que as pessoas hoje procuram mais bandas sonoras para os seus dias, do que propriamente canções. Mais de metade da música eletrónica que ouço hoje é aquilo que eu chamaria há 15 ou 20 anos música de elevador. Já a música que eu faço acho que exige mais disponibilidade do ouvinte. Faço canções num formato clássico com uma letra (e não quero falar em mensagem porque durante muito tempo também parece que esse era um assunto maldito), que tem uma história por trás. Estamos numa fase de desapego pelas canções, por essa estrutura musical, mas elas não morreram. As canções são imortais. Tive a felicidade de fazer uma dúzia de canções com os Delfins que ainda hoje passam na rádio.
Neste disco faz a sua primeira aproximação ao fado num dos temas. É o fado do Miguel Ângelo?
É mesmo só uma aproximação [risos]. Essa canção nasceu à guitarra quando descobri uns acordes que me puxaram para uma linha de voz mais à fadista. Mas isso é só uma espécie de fado. Contudo, é engraçado porque em 1994 o Carlos do Carmo cantou num programa de televisão o ‘Ao Passar um Navio’ e no final disse-me que aquilo era um fado.
O disco abre com uma versão do ‘Vento Mudou’, que curiosamente marcou a estreia dos Delfins, desta vez com o Eduardo Nascimento. É um tesourinho seu?
É quase isso [risos]. Lembro-me perfeitamente quando descobri esse EP em casa do meu padrinho, num armário cheio de discos dos anos 60. Lembro-me de ter levado esse disco para a garagem dos Delfins em 1983, no início de tudo, e de ter convencido o pessoal a gravar.
O Miguel Ângelo é daqueles que assistiram à ascensão e queda da indústria e do mercado. Entristece-o saber que mal se vendem discos?
Pode ser desmotivante, mas esta atividade também tem muito a ver com inventar novas formas de gerir a carreira. Temos de ser criativos. Só fico triste quando vejo que a música é usada e abusada para vender telemóveis, assinaturas digitais ou hardware e as pessoas que a fizeram não são compensadas por isso. Hoje o CD não se vende e é por isso que escolhi o vinil para gravar estas novas canções. O vinil é um formato mais nobre e que dignifica melhor o ano e meio de trabalho que tive.
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