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Misarela revive lenda da ponte

Centenas de pessoas desceram sexta-feira as escarpas até ao rio Rabagão (Montalegre) para reviverem a lenda da ponte da Misarela, tendo como palco a própria estrutura medieval à qual a tradição popular atribui poderes de fecundidade e tratos entre o diabo e almas penadas.

24 de abril de 2005 às 00:00

A peça, uma criação do Teatro do Nordeste, contou mesmo com os populares na qualidade de figurantes para o programa ‘Terras D’Acolá’, da TV Galiza.

“Quando uma mulher teme perder os filhos que gera, socorre-se do sobrenatural. No fim da gravidez, à meia-noite, aproxima-se da ponte e aguarda pelo primeiro transeunte que por ali passe no novo dia, pedindo-lhe para baptizar o filho, ainda na barriga, para, assim, este nascer perfeito e de boa saúde. Se for um rapaz é obrigatório chamar-se Gervásio, se for menina o nome é Senhorinha”, explicou ao CM um habitante de Barroso.

A Misarela é uma ponte medieval classificada como de Interesse Público. Segundo a tradição popular, a ponte foi construída e destruída pelo diabo e definitivamente reconstruída por um santo. Desde então atribuem-se-lhe “mágicas virtudes de fecundidade”.

VENDER A ALMA AO DIABO

A lenda perde-se no tempo e, tal como o recriou o Teatro do Nordeste, deve a sua origem a um foragido que precisou de passar o rio. Foi então que invocou: “Por Deus ou pelo diabo, havia de me aparecer aqui uma ponte!” A ponte surgiu e o diabo disse: “Deixo-te passar, mas com a condição de me venderes a tua alma.” O homem acedeu mas, pouco depois, arrependido, confessou o sucedido a um padre, que decidiu resgatar-lhe a alma. Munido de uma caldeira com água benta, o padre repetiu a cena do fugitivo e aspergiu o demónio. O diabo estoirou e deixou no ar um cheiro terrível. Com a ponte benzida, o povo começou então a acreditar que ali se poderiam operar milagres.

LENDA DA FECUNDIDADE

Desde então, os casais, com a mulher grávida, vão para a ponte, com uma corda e um copo. Acendem uma fogueira e esperam por alguém que lhe baptize o filho no ventre materno. Quando o indivíduo surge, o casal colhe água que passa sob a ponte. Começa então o baptizado. O padrinho ou madrinha diz: “Eu te baptizo criatura de Deus, pelo poder de Deus e da Virgem Maria. Se fores rapaz serás Gervásio, se fores rapariga Senhorinha.” A mulher desaperta a saia e é-lhe deitada água na barriga. O padrinho continua: “Agora vamos rezar um Pai-Nosso e uma Avé-Maria”. Com um pormenor. O ‘Amén’ na Avé-Maria não é dito.

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