Artista tinha marcado para sábado uma atuação no Festival Acessa, em Belo Horizonte, que contou apenas com a sua banda, Nave Mãe.
O músico brasileiro Hermeto Pascoal, vencedor de três Grammy Latinos, morreu no sábado aos 89 anos, no Rio de Janeiro, anunciou em comunicado o Hospital Samaritano Barra, onde o multi-instrumentista e compositor estava internado.
A família do músico, por seu lado, comunicou a morte de Hermeto Pascoal nas redes sociais, afirmando que "a sua passagem para o plano espiritual" se fez "com serenidade e amor", "cercado pela família e por companheiros de música".
"No exato momento da passagem, seu grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música. Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d'água, a cachoeira. A música universal segue viva", lê-se na mensagem publicada nas redes sociais.
Hermeto Pascoal tinha marcado para sábado uma atuação no Festival Acessa, em Belo Horizonte, que contou apenas com a sua banda, Nave Mãe.
A agenda do músico brasileiro passava igualmente pelos palcos portugueses, ao longo do próximo trimestre, nomeadamente da Culturgest, em Lisboa, da Braga'25, Capital Portuguesa da Cultura, e do Teatro Viriato, em Viseu.
Os concertos centravam-se no último disco de inéditos do músico, "Pra você, Ilza", editado no ano passado, numa homenagem à sua companheira durante mais de 50 anos, que morreu em 2020.
"Pra você, Ilza" foi eleito pela Associação Paulista de Críticos de Arte um dos melhores álbuns brasileiros de 2024 e conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Jazz.
"Numa vã tentativa de explicar as multitudes de Hermeto Pascoal, apoiamo-nos numa frase recorrente das suas biografias onde se clama que 'Hermeto Pascoal é música'", escreve a Culturgest na apresentação dos espectáculos do músico anunciados para Portugal.
"Ser livre e inspirador", como a instituição portuguesa o define, Hermeto Pascoal nasceu no estado do Alagoas em 22 de junho de 1936, manifestando desde cedo uma ligação à música, fascinado pelos sons da natureza.
O seu percurso estabeleceu-se assim, desde sempre, "num diálogo único com os elementos, tornando tudo a sua orquestra: animais, água ou uma chaleira parecem valer tanto quanto um piano ou um saxofone", descreve ainda a Culturgest, que acrescenta: "Dotado de uma irreverência autodidata, cruzou a sua música brasileira com uma ideia de jazz, abraçando o forró ou o choro, sabendo desenhar cenários de fantasia e erudição".
O jornal brasileiro O Globo recorda hoje a carreira de Hermeto, citando o trompetista norte-americano Miles Davis (1926-1991), com quem trabalhou, e que o considerava "o músico mais impressionante do mundo".
"Hermeto, três vezes vencedor do Grammy Latino, provou a viabilidade de se fazer música de alta elaboração rítmica, melódica e harmônica com panelas, chaleiras, regador, brinquedos infantis e até animais", escreve jornal brasileiro.
Hermeto Pascoal aprendeu acordeão na infância, com o irmão, José Neto, com quem começou a tocar em rádios, no Recife, aos 14 anos.
No final da década de 1950, atuava já em salas do Rio de Janeiro, antes de se mudar para São Paulo, onde começou a tocar no bar-discoteca Stardust, como pianista, quando corriam já os anos 1960.
Aí conheceu o guitarrista Heraldo do Monte, que o viria a convidar para o Quarteto Novo, com o percussionista Airto Moreira e a cantora Flora Purim, que lhe abriram as portas dos Estados Unidos.
Com e sem quarteto, depressa se seguiriam atuações com músicos-chave da época em que a bossa nova dominava, como Edu Lobo e Marília Medalha.
Nos EUA, gravou os primeiros álbuns de projeção internacional, afirmou-se como compositor, arranjador e instrumentista, e conheceu Miles Davis de quem ficou amigo e com quem gravou "Nem Um Talvez" e "Igrejinha".
Ao longo de uma carreira de mais de 70 anos, Hermeto Pascoal atuou nos principais festivais e palcos mundiais, a solo ou ao lado de músicos como Dizzy Gillespie e Elis Regina. Desde a estreia discográfica, em 1965, com "Sambrasa Trio", Hermeto editou perto de três dezenas de álbuns de originais.
Os Grammy Latinos, que deram a Hermeto cinco nomeações, distinguiram "Natureza Universal", de 2017, e "Pra você, Ilza", do ano passado, como Melhores Álbuns de Jazz. Em 2019, "Hermeto Pascoal E Sua Visão Original Do Forró" obteve o Grammy de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa.
A música de Hermeto "nunca coube --- e nem vai caber --- em rótulos", sublinha a edição de hoje do jornal Globo, que recorda uma entrevista nos 80 anos do músico, em 2016: "Nunca fiz um grupo de bossa nova ou de forró. Cansei de tocar em festivais de jazz no exterior, mas nunca vou tocar apenas jazz. Vou tocar frevo, baião, música clássica. Então eu chamo isso de música universal. É o único rótulo que eu acho que se pode usar."
Nos últimos anos, Hermeto Pascoal lançou o projeto '@hermeto.music', dedicado ao levantamento e organização de um acervo digital da sua obra. No ano passado, publicou a biografia "Quebra tudo! --- A arte livre de Hermeto Pascoal", com o jornalista Vitor Nuzzi.
Ao longo dos anos manteve-se ativo, com concertos e digressões, como do início deste verão, na Europa, que incluía palcos de Alemanha, Espanha, França, Finlândia, Noruega, Países Baixos e Reino Unido, e no ano passado, quando atuou pela primeira vez em Cabo Verde, no festival Kriol Jazz.
"Quando subo no palco, não tenho idade", disse ao jornal Globo, há dois anos. "O corpo pode ser de 88 anos, mas a alma vira menino de novo. A música é a vida. Se estou respirando, já estou fazendo som. Quando tomo água, também. Até o silêncio tem ritmo. Para mim, música é brincadeira de criança: tudo junto, sem fronteira".
A família de Hermeto, nas redes sociais, desafia hoje "quem desejar homenageá-lo" a deixar "soar uma nota no instrumento, na voz, na chaleira e ofereça ao universo. É assim que ele gostaria."
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