O rei D. Manuel I ainda terá voltado atrás na decisão de o fazer regressar da Ásia, mas Afonso de Albuquerque já não pôde responder. O homem que conquistou Ormuz, Malaca e Goa morreu há 500 anos, a bordo de um navio, e sabendo-se prestes a ser substituído por um adversário enquanto vice-rei da Índia.
Ao sentir-se doente sem remédio, escreveu pela última vez a quem o encarregara de expandir o Império no Oriente. "Mal com el-rei por amor dos homens, com os homens por amor de el-rei, bom é acabar", declarou, pedindo que o filho ilegítimo tivesse honras que a si eram devidas. "Quanto às coisas da Índia não digo nada, porque elas falarão por si e por mim", sentenciou.
Assim terminou o homem que procurou fechar o oceano Índico às frotas muçulmanas, na tentativa de garantir o monopólio das especiarias às naus portuguesas. Não tomou Áden (atual Iémen), essencial para impedir mamelucos e otomanos de descerem o mar Vermelho, mas graças a Ormuz (atual Irão) controlou o Golfo Pérsico e com Malaca (atual Malásia) evitou o acesso aos mares da China e de Java. Pelo meio, fez de Goa centro do Império.
"Tirando Afonso Henriques, é o português que maior capacidade de conquista demonstrou", diz o general Loureiro dos Santos, realçando que as vitórias foram contra "exércitos que eram poderosos, bem armados". Também para o historiador Luciano Amaral, Albuquerque fica para a História como "o construtor do Império na Ásia", sendo impressionante que tenha feito "operações militares e administrativas bem- -sucedidas com poucas pessoas".
Alvo de invejas em vida, 500 anos após a morte continua na sombra de Vasco da Gama ou de Pedro Álvares Cabral. "Há desde sempre um partido ‘anti-Albuquerque’ em Portugal", diz o historiador Miguel Castelo Branco, enquanto Loureiro dos Santos lamenta a falta de homenagens oficiais: "A maneira como os poderes políticos o tratam dá ideia que o consideram politicamente incorreto."