Hoje, não só tem um disco editado no mercado nacional ("Galinha"), como é um verdadeiro héroi na sua terra natal, Rabo de Peixe, S. Miguel, onde dá espectáculos para sete mil pessoas.
Mas se do lado de cá do Atlântico só agora o nome de Sandro G começa a ser falado, do lado de lá, sobretudo em Boston, nos EUA, há muito que as suas canções eram ouvidas, ou não tivesse o músico privado de perto com muitos artistas do mundo do rap a quem fornecia droga com uma mão e oferecia as suas gravações amadoras com a outra. "Cheguei a fumar com o Nelly", garante. "Assim consegui pôr algumas das minhas canções a tocar nas rádios".
Tendo traficado droga durante 14 anos, Sandro G colocou um ponto final no negócio após a morte, no ano passado, do seu melhor amigo. "Nunca trabalhei um dia na minha vida. Sempre vivi da rua, a vender droga em Boston e toda a gente sabia quem era o Sandro G. Chegava a facturar cinco mil euros por semana e tudo o que tenho hoje foi comprado com o dinheiro que fiz na rua. Mas não podia continuar", desabafa.
"Sei que coloquei a minha família em perigo. Hoje, tenho uma vida tranquila e já posso andar na rua sem ter de olhar por cima do ombro", desabafa o cantor, que enfrentou a sua primeira prisão aos 15 anos, "por causa de droga e do roubo de automóveis”. “Fui para a cadeia das crianças e foi lá que aprendi a escrever em inglês". Uma coisa puxou a outra e as canções começaram a nascer.
“ANDO COM GENTE QUE SOFRE”
Pai de uma menina de três anos, fruto de uma relação com uma “stripper” que nunca mais viu, Sandro G afirma-se um homem mais calmo mas sem medos. De resto, até hoje só um homem lhe tocou: o tatuador. No corpo, tem tatuadas as palavras “dinheiro”, “força” e “respeito” em japonês, os símbolos poucos convencionais de drogas e pistolas, os cinco pontos das ilhas dos Açores e dois desenhos em homenagem ao amigo Bobby e ao avô do Continente que nunca conheceu e que morreu afogado aos 79 anos.
Cravado de cicatrizes de balas e de facadas, confessa-se uma pessoa mais positiva, que acredita em Jesus e reza todos os dias. "Só não vou à igreja porque lá tem de se tirar o chapéu e eu tenho a cabeça toda tatuada", conta.
E porque quem vê aspectos não vê corações, Sandro G diz que tem o coração do pai. "Muitos pensam que ando com gente rica, mas na verdade só ando com gente pobre que anda a sofrer".
O disco, "Galinha", fala de tudo isso. E de mais qualquer coisa. “Galinhas é uma expressão que se usa em S. Miguel para chamar as raparigas. Elas só dão ovos. Não dão mais nada", explica. Especial atenção merecem ainda os temas "Love Me or Leave Me", "Avé Maria (Love u Boby)" e "Hey Girl". Porque afinal estamos perante o Eminem português. Porque não?
”MANDEI O HERMAN PASSEAR”
A primeira vez que Sandro G apareceu na televisão foi no programa “Herman SIC” há umas semanas. Reza a história que, depois de ter ouvido alguns temas do músico, o apresentador não descansou enquanto não o contactou pessoalmente para o convidar a actuar em directo, mesmo após ter levado umas “negas” e algumas ofensas.
“Eu ainda vivia em Boston e ele estava sempre a enviar-me ‘e-mails’. Mas eu não sabia quem era o Herman José (nem nunca o tinha visto) e, por isso, mandava-o sempre para o ca....”, conta, entre risos. “Escrevia-lhe coisas do género: ‘Deixa-me em paz que eu tenho de trabalhar’”, acrescenta. “Só quando cheguei aos Açores é que perguntei quem era o ‘gajo’. Tive de lhe escrever a pedir desculpas, claro!”.
Depois de ter aceite a ida ao programa, Sandro G não passou despercebido, sobretudo quando convidou Herman José para ir aos Açores fumar uns “charros”. O regresso do “rapper” ao “Herman SIC” acontece já no próximo domingo. E a coisa promete.
PROMOVER OS AÇORES
Apaixonado pelos Açores, Sandro G faz questão de falar da sua terra onde quer que vá e aproveitou o final da entrevista para fazer de promotor turístico. “Gostava de pedir às pessoas para irem até lá. Há belas praias e as ‘galinhas’ (ler miúdas) são muito porreiras. Tá-se bem lá”.
Com um sotaque que não engana (”só por isso valia a pena ouvir o disco”), Sandro G veste muitas vezes uma camisola do Santa Clara, o principal clube de futebol dos Açores. E lá ironiza: “É uma equipa de ‘loosers’ (falhados). Como eu...”.
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