"Temos que aumentar as receitas e racionalizar custos que não fazem sentido", diz Ricciardi sobre Sporting
Candidato à presidência atacou ainda Frederico Varandas.
José Maria Ricciardi reiterou esta quinta-feira na Sporting TV, no debate com Rui Jorge Rego, que é necessário pacificar o futebol português. Outra das ideias defendidas é que os leões têm de tratar bem os investidores financeiros e racionalizar os custos no clube, como por exemplo no departamento clínico. Veja tudo o que foi dito pelo candidato.
Mudanças no IPDJ
"Assumo que Baganha estava na minha comissão de honra, todos nós erramos, mas isto é um problema que vai muito para lá do IPDJ. O problema da violência traduz-se na infiltração nas claques. O problema não são as claques em si, porque foram constituídas para dar colorido, pôr os jovens a cantar… Isso deve continuar, mas não tudo o resto. Aquela parte negativa em que a nossa sociedade se transformou. Estas coisas são da sociedade, não apenas do futebol.
No ano passado fui ver o Real Madrid-Barcelona. Vi dos adeptos do Barcelona irem a pé para o estádio, não vi caixas de polícia. As pessoas podem até ir para uma certa zona do estádio, mas não há este ambiente crispado, insultos, cânticos horríveis. E este problema do Benfica que tem claques mas parece que não tem.
As pessoas estão a subestimar isto. Quando houve os acontecimentos com a claque do Liverpool em que morreram mais de 100 pessoas, durante dois anos os estádios jogaram sem público. Esses senhores levaram anos de prisão e todos os outros que tinham comportamento de violência passaram a não poder comprar bilhetes, alguns até iam para as esquadras durante os jogos. Hoje vemos o campeonato de Inglaterra e vemos famílias, só se pode entrar com cachecol e camisola, e não outros artefactos. Em Portugal isto terá de ser trabalhado, senão vai numa escalada.
O futebol, as receitas… O futebol é uma indústria. É a mesma coisa que as pessoas irem ao cinema e levarem umas estaladas. Para o próprio interesse do futebol é preciso que isto seja atacado."
Centros de decisão
"Há um aspeto que tenho diferente de Jorge Rego, defendo que o presidente da SAD seja o mesmo do clube e que depois haja um CEO. Mas concordo noutras coisas e vou mais longe: não quero caricaturar, mas o Dr. Soares dos Santos passar os dias a insular o Eng. Paulo Azevedo, que por sua vez insulta os do Pão de Açúcar…. Isto afeta o negócio em geral. Não entendo esta situação em que toda a gente se guerreia, já para não falar nas histórias das malas, etc… Isto tira receitas a esta indústria.
Com a experiência que tenho de gestão, acho que isto é dar tiros nos próprios pés. Quando digo que vou pacificar o futebol, dizem ‘está feito com o FC Porto’… Não é verdade. O Sporting tem de defender os seus interesses, mas os 15 têm de passar para 18, todos têm de entender-se. Rivalidade total dentro das quatro linhas, mas por que não havemos de ter relações normais com Benfica, FC Porto, V. Guimarães… Eu vejo isso nos outros países.
Uma das razões por que não temos essa influência no bom sentido como os outros dois, é porque não ganhamos há muitos anos. Uma das maneiras de ter essa influência é ganhar."
CEO para a SAD
"As pessoas quando têm grandes qualificações, estão noutras funções e não se podem anunciar, tenho de ter a humildade de esperar para ganhar. Essa pessoa só virá se ganhar, como espero. Não é para fazer grandes segredos."
Estrutura para o futebol
"Quando digo que um presidente tem de ter capacidade de gestão, liderança, e não pode ser para estagiários, é porque vai ser um presidente de um clube europeu, porque se não for, o Sporting vai ficar ali entre o Sp. Braga e o V. Guimarães, com todo o respeito por estes.
Perante a modificação do futebol europeu, é uma tarefa que põe muito em causa o futuro do Sporting. Haverá cada vez mais duas equipas – uma que disputa eliminatórias - a ficar com uma distância muito grande.
Temos 80 jogadores profissionais. Para quê? Eu defendo cerca de 40. Colocar jogadores nas outras equipas é uma coisa que acho que tem de acabar no futebol português, a não ser aqueles que vêm da formação e têm de rodar.
Se tiver 40 em vez de 80 é mais fácil ter o dinheiro concentrado em jogadores de qualidade. Não podemos ter jogadores a ganhar 6 milhões de euros que não joguem. Em termos brutos é um ordenado alto nos campeonatos europeus.
Comprámos quase 160 jogadores nos últimos anos. É uma coisa pavorosa. Temos de comprar menos jogadores de uma forma mais profissional. Percebo que não se acerte sempre e não podemos comprar jogadores do Real Madrid ou United, mas falhar desta maneira não.
Tenho uma grande confiança em José Eduardo, é um homem que sabe muito de futebol. Vai montar uma estrutura profissionalizada. Dizer que o futebol é uma ciência oculta não faz sentido nenhum. Não quero ser um presidente-treinador, quero ser presidente. Está a confundir-se em muitas candidaturas a função de presidente com outras coisas.
Estrutura? Quando são nomes de pessoas que podem estar dentro do Sporting, eu não falo neles. Houve um acordo. Enquanto estiverem a trabalhar, não podem nem devem dizer que vão para qualquer candidatura. Quero respeitar esse princípio que outros não respeitam."
Ainda os 80 jogadores
"Nós já tivemos equipas e treinadores melhores do que Benfica e FC Porto e não ganhámos. O problema não está aí, o clube acaba sempre por prejudicar-se dentro de si próprio e isso desce ao balneário.
Depois são 80 jogadores. E em terceiro os custos. Temos que aumentar as receitas e racionalizar custos que não fazem sentido. O Dr. Varandas quando entrou havia 18 pessoas no departamento clínico agora há 50. Para que são 50 pessoas no departamento clínico? Seria para a formação, mas os resultados na formação são catastróficos. O Rafael Leão está lesionado há quase dois anos, o Jovane também esteve.
Temos de ter um resultado operacional positivo. Desde o princípio do século vendemos 16 jogadores da formação por 168 milhões. Se não precisássemos de vender isto À pressa, se calhar dava 300 ou 400 milhões. Hugo Viana, 12 milhões, Quaresma 6,3 milhões, Ronaldo 15 milhões, Beto um milhão, Carlos Martins 2.2 milhões, Nani 25, Moutinho 11… O único que bateu todos os recordes – e tiro o meu chapéu a Jesus – foi João Mário, por 40 milhões."
Solução imediata para descansar os sportinguistas?
"O Sporting não está em situação de ter pessoas que vão experimentar. As soluções variam. Não sou muito favorável a financiamentos de longo prazo para pagar tesouraria. Mas temos um EO para pagar e é já em novembro. E depois ouvimos pessoas a dizer que não precisam de investidores.
Mesmo quando dizemos que vamos manter a maioria da SAD, toda a gente vê os investidores como se fossem uma coisa horrível, que é preciso é não ter. Se já tenho? Terei com certeza interessados, com certas condições, mas que não colocarão a maioria em causa. Os investidores não podem ser maltratados.
Outra hipótese é negociarmos com entidades especializadas. Os bancos portugueses querem sair do futebol e as pessoas estão a levar isto com ligeireza. Temos possibilidade de negociar a desconto parte da dívida financeira, o que permite diminuir o passivo e ter novas linhas de tesouraria. Defendemos que deve ser uma solução mista, mas é preciso experiência nestas coisas."
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