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Faleceu Carlos Gomes

Carlos Gomes, antigo guarda-redes do Sporting e da Selecção, faleceu ontem, aos 73 anos, após doença prolongada.

18 de outubro de 2005 às 00:00

Tido como um dos mais geniais jogadores portugueses de todos os tempos no seu posto específico, Carlos Gomes teve uma vida atribulada, indelevelmente marcada pelos traços de rebeldia que caracterizavam a sua personalidade.

Nascido no Barreiro em 1932, cedo sentiu o apelo da baliza. Tinha tudo para ser bem sucedido: destreza, porte atlético, elegância e o toque de loucura que distingue os predestinados para a função.

Aos 17 anos entrou para os juniores do Barreirense e pouco tempo depois já Sporting e Benfica o disputavam. Por 45 contos, o Barreirense acordou vender o seu passe aos ‘leões’, mas logo aí se fez notar o seu espírito contestatário, pois recusou-se a ser mero objecto no negócio.

Dez mil escudos de luvas acabaram por o convencer e iniciou então uma era na baliza do Sporting. A conquista da baliza da selecção nacional foi o passo seguinte. Estreou-se em 1953 (tinha 21 anos...), mas apenas cinco anos e 18 internacionalizações mais tarde renegou à baliza do País, em choque com os dirigentes federativos.

Em 1958 entrou também em rota de colisão com o Sporting. Foi transferido para o Granada, de Espanha , mas regressou aos ‘leões’, que o cederam ao Atlético. Por essa altura, acontece o episódio mais marcante da sua vida: é acusado da violação de uma jovem sua empregada, num negócio de fotografia que entretanto montara. Mas sempre se afirmou vítima de uma cilada armada pelo Sporting, em conluio com a PIDE (era, naturalmente, um contestatário do regime). Quando estava prestes a ser condenado, deixou o País.

Sempre com retoques cinematográficos: simulou uma lesão durante um jogo do Atlético, foi substituído e poucas horas depois cruzava a fronteira espanhola. Seguiu para Marrocos (onde o rei lhe propôs cidadania, que recusou), depois Argélia e Tunísia, sempre a brilhar nas balizas por onde passava. Foi julgado à revelia e condenado a onze anos de prisão. Só em 1983 regressou a Portugal. Chega agora ao fim o trajecto do guarda-redes que jogava sempre de negro “em sinal de luto pelo futebol português, entregue a doutores”. Hoje, as vestes trocam-se. É o futebol nacional que por ele se enluta.

O funeral realiza-se esta tarde, pelas 15h30, no cemitério de Vila Chã, no Barreiro.

CARLOS António do Carmo Costa GOMES nasceu no Barreiro, em 18 de Janeiro de 1932. Começou a jogar oficialmente nos juniores do Barreirense e ainda nesse escalão foi transferido para o Sporting, clube cujas balizas defendeu em 221 jogos oficiais ao longo de oito temporadas. Neste período conquistou cinco títulos de campeão nacional e uma Taça de Portugal.

Foi internacional 18 vezes. Jogou depois no Granada (Espanha) e regressou ao Sporting, que o cedeu ao Atlético. Mais tarde representou clubes em Marrocos, Argélia e Tunísia. Sempre em países magrebinos, iniciou então a carreira de treinador, mas sem

o sucesso conquistado enquanto jogador.

'UM GIGANTE NA BALIZA'

“O Carlos Gomes foi dos melhores guarda-redes

portugueses de sempre. No Sporting houve três gigantes na baliza: o Azevedo, ele e o Damas. Conheci-o quando subi de júnior para sénior, mas depois ele foi para o Atlético. Tinha um feitio muito especial e era muito brincalhão. Acima de tudo, era muito confiante. Por brincadeira, quando ia a estágios da Selecção, a primeira coisa que ele dizia aos outros guarda-redes era: ‘Olhem bem para estas mãos. Já viram? Agora perguntem o que vieram cá fazer’.”

Manuel Pedro Gomes, ex-jogador

“Não tive a honra de jogar com ele, em partidas oficiais, embora tivéssemos feito alguns jogos particulares juntos, durante uma pré--temporada, antes de ele ir para Espanha. Mas, nesse pouco tempo que estivemos juntos, vi um dos melhores guarda-redes que alguma vez passou pelo Sporting. Era um fora-de-série, um predestinado. Quem o via dizia sempre que tinha nascido com um dom especial, o de ser guarda-redes. Tinha uma intuição rara. É uma perda para o futebol português e para o Sporting.”

Hilário da Conceição, ex-jogador

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