"Estava sentado a assistir a um jogo de futebol entre amigos. De repente, levantou-se, deu dois passos e caiu no chão. Não disse uma palavra. Minutos mais tarde morria no Centro de Saúde de Montemor-o-Novo.” Foi desta forma que o cunhado do futebolista Hugo Cunha contou ao CM os últimos minutos de “um grande amigo”. Este futebolista da União de Leiria faleceu ontem, com 28 anos, ao que tudo indica de uma embolia cerebral.
A tragédia ocorreu poucos minutos antes das 12h00, no Estádio 1.º de Maio, em Montemor-o-Novo, e, segundo Vítor Rosa, o cunhado do falecido, o Hugo estaria ali para passar um dia com amigos, mas não para jogar. “Ele não jogou”, disse.
No entanto, o CM sabe que aquele jogador, no momento em que foi assistido pelos bombeiros, estava equipado e, segundo uma fonte que não se quis identificar, terá mesmo jogado cerca de dez minutos.
Assim que caiu, junto ao banco dos suplentes, o médio da União de Leiria foi logo assistido por um socorrista que se encontrava no local e, minutos mais tarde, pelos bombeiros, que lhe aplicaram respiração artificial, oxigénio e lhe mediram as compressões cardíacas. No momento em que entrou no Centro de Saúde estavam-lhe a ser feitas manobras de reanimação, infelizmente sem sucesso. Cerca de 45 minutos mais tarde foi decretada a morte do jogador. Segundo o comandante dos Bombeiros de Montemor, era visível um grande hematoma na cabeça.
Ontem, no Centro de Saúde de Montemor, os familiares mais chegados de Hugo tentavam-se consolar uns aos outros, mas a dor era muita e o choque da notícia era enorme. A esposa do jogador, Mónica, a sogra e o cunhado foram os primeiros a aparecer. Todos inconsoláveis, tentavam perceber aquilo que não tem explicação. Mónica questionava-se como iria dar a notícia à filha Bruna, de cinco anos.
Vítor Rosa recordava ao CM que ainda algumas horas antes tinha feito a viagem da Baixa da Banheira, aonde residem, até Montemor, sempre com o jogador ao volante e muito bem-disposto. “O Hugo nunca se queixou do que quer que fosse. Veio só para me acompanhar, porque eu e uns amigos, todos veteranos, vínhamos fazer um jogo de companheiros”, recordava com tristeza.
Um pouco mais tarde chegou a mãe de Hugo, que acabou por ser levada em braços para o interior do Centro de Saúde, onde uma médica a tentou acalmar. Também um tio do jogador não conseguia disfarçar a dor. Os olhos congestionados eram o sinal de muito choro. Aos poucos, os familiares e amigos iam sabendo da triste notícia e tentavam confortar os que mais precisavam.
MÉDICO DA UNIÃO DE LEIRIA SURPREENDIDO
Amílcar Silva, médico da União de Leiria, garantiu ontem ao CM que Hugo Cunha estava apto a praticar futebol. “Nada fazia prever que isto acontecesse. Fizemos todos os testes normais ao Hugo Cunha como provas de esforço, electrocardiogramas e nada indicava a impossibilidade de praticar futebol, até porque ele jogou normalmente durante a época. Este tipo de casos de morte súbita pode ser provocado por uma arritmia e é impossível de prever. Prova disso, o número de casos que têm acontecido ultimamente. Começa a ser assustador”.
O presidente do clube, João Bartolomeu estava em choque: “Soube a notícia pela esposa. O Hugo era uma pessoa muito calma, não fumava, não bebia, não andava em noitadas e era um atleta exemplar. A União Leiria faz todos os testes médicos aos jogadores. É uma perda irreparável para a família e a nós deixa-nos tristes porque era um atleta exemplar”.
Hugo Cunha não estava a exercer a sua actividade profissional quando faleceu, pelo que o seguro não deverá indemnizar a família. “Não interessa se estava a jogar ou na bancada a ver o jogo, o seguro desportivo e de acidentes de trabalho não cobre esta situação porque ele não estava a exercer a sua actividade profissional”, afirmou ao CM o presidente do sindicato de jogadores Joaquim Evangelista.
O dirigente salientou que Hugo Cunha era sócio do sindicato e por isso a sua família terá direito a receber um montante de cinco mil euros no âmbito de um seguro de vida. Esta é a terceira morte que enluta a U. Leiria no espaço de um ano, depois dos falecimentos de João Manuel, em Maio, e do técnico adjunto Fernando Ferreira, vítima de problema cardíaco, em Junho de 2004.
"ERA UM GRANDE AMIGO E PESSOA ABENÇOADA"
Foi com a voz embargada pela dor e pela emoção que José Rachão, antigo técnico do V. Setúbal, falou ao CM sobre a morte do jogador Hugo Cunha. É que o malogrado atleta não foi apenas um futebolista com quem trabalhou no Barreirense durante cinco anos, mas era sobretudo um amigo muito chegado, de quem Rachão foi padrinho de casamento.
“Não estou em condições de falar... Sinto uma dor enorme dentro de mim. Sou padrinho de casamento do Hugo e não sei o que dizer neste momento. Tínhamos uma relação muito chegada há anos e fui treinador dele no Barreirense durante cinco anos. É lamentável, porque deixa além da mulher, uma filha pequena, com cinco anos”, contou o técnico.
Mais do que as suas qualidades de jogador de futebol, Rachão, que ontem mesmo encetou viagem para estar perto da família de Hugo Cunha, relevou a face humana do seu afilhado. “Ele era uma pessoa abençoada. Não há palavras para dizer quem ele era. Humanamente era uma pessoa excepcional e como jogador era acima da média. A minha mulher e as minhas filhas estão neste momento junto da família do Hugo. Estou no Norte do País mas vou já para baixo para estar presente”, garantiu.
CARLOS MANUEL DESOLADO COM NOTÍCIA
Outro técnico que conheceu bem Hugo Cunha foi Carlos Manuel, que levou o médio para o Campomaiorense. “A esposa dele telefonou-me há pouco mas só depois de falar com o Rogério Matias é que soube que ele deu dois passos e caiu. Todos sabem que eu acreditava nele e que eu é que o quis no Campomaiorense. Para mim vai continuar a ser um dos grandes jogadores que treinei. Não sei se neste mundo alguém decide estas coisas, mas quem o faz é estúpido porque só acontece às boas pessoas”, disse Carlos Manuel, ao CM.
Finalmente, Neno, antigo internacional português e que desempenha actualmente o cargo de director desportivo do V. Guimarães, não poupou elogios a um jogador que levou para a Cidade Berço Guimarães após muito insistir com o então presidente Pimenta Machado. “A vida é um abrir e fechar de olhos. O futebol português perdeu um grande homem e um futebolista que engrandecia o desporto. Foi alguém de muito especial, discreto, com idoneidade ímpar. Um homem na verdadeira acepção da palavra”, começou por dizer.
Para Neno, Hugo Cunha era um grande jogador, que só não alcançou lugares de topo devido às frequentes mazelas que teve ao longo da carreira: “Como jogador, só não conheceu voos mais altos por causa das lesões, porque era um atleta acima da média. Depois de muito falar dele no V. Guimarães, Pimenta Machado foi buscá-lo ao Campomaiorense. O Hugo tinha futebol para dar e vender. Quero apresentar as minhas mais sentidas condolências à sua família”, concluiu.
BENFICA
Hugo Cunha rumou à Luz em 1999, nunca chegou a integrar o plantel, mas vestiu a camisola encarnada em jogos particulares.
CAMPOMAIORENSE
Após ter sido transferido do Barreirense para o Benfica, Hugo Cunha rumou ao Alentejo por empréstimo ao Campomaiorense, onde jogou na época de 99/00. Sob o comando de Carlos Manuel, o médio fez 25 jogos e marcou dois golos.
VITÓRIA DE GUIMARÃES
Do Alentejo para o berço da nação, Hugo Cunha assinou pelo Vitória de Guimarães, clube que representou durante quatro temporadas (de 2000/01 a 2003/04). Foram 85 jogos e cinco golos com a camisola vimaranense.
UNIÃO DE LEIRIA
No início da última época, Hugo Cunha mudou-se para a União de Leiria. Na cidade do Lis, o número ‘10’ efectuou 15 jogos, dos quais sete como titular (800 minutos). Aos 28 anos, tinha mais um ano de contrato com a equipa leiriense.
Nome: Hugo Filipe Silva Cunha Naturalidade: Barreiro
Data nascimento: 18.02.1977
Posição: Médio
Clubes: Barreirense, Benfica, Campomaiorense, Vitória de Guimarães e União de Leiria.
Natural do Barreiro, Hugo Cunha foi formado nas escolas do Barreirense, onde alinhou entre 1996 e 1999. Internacional júnior, foi contratado pelo Benfica em 1999, mas nunca chegou a alinhar pelo clube da Luz em jogos oficiais, sendo emprestado ao Campomaiorense, naquela que foi a sua estreia na divisão principal do futebol português.
Depois da passagem pelo clube alentejano, na época de 1999/2000, Hugo Cunha vestiu a camisola do Vitória Guimarães entre 2000 e 2004, onde foi muito fustigado pelas lesões e nunca se conseguiu impor verdadeiramente. No ano passado, o médio foi contratado pela União de Leiria, clube com o qual tinha mais um ano de contrato.
MARC-VIVIEN FOÉ (26/06/03)
O médio Marc-Vivien Foé, internacional camaronês, morre em campo durante o jogo das meias-finais da Taça das Confederações da sua equipa com a Colômbia.
MIKLOS FEHÉR (25/01/04)
Nos últimos minutos do jogo com o V. Guimarães, o avançado húngaro do Benfica, Miklos Fehér, vê um cartão amarelo, esboça um último sorriso e cai morto no relvado.
BRUNO BAIÃO (15/05/04)
O capitão dos juniores do Benfica, Bruno Baião (18 anos), sofreu um enfarte do miocárdio após o treino da equipa, no dia 10. Esteve cinco dias em coma antes de falecer.
SERGINHO (27/10/04)
Serginho, central do São Caetano, 30 anos, sentiu-se mal no encontro disputado com o São Paulo, ajoelhou-se e caiu inanimado. Morreu 40 minutos após entrar no hospital.
JOSÉ ANTÓNIO (02/06/05)
José António, 47 anos, antigo jogador e ex-internacional português, morre a fazer o que mais gostava na vida. Foi durante um jogo de futebol com amigios que foi fulminado.
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